


Instrumentos com luz azul informam consumo e autonomia; sistema de áudio
traz conexão USB e há até sensor de estacionamento na traseira



O motor 1,3 de 16 válvulas
gira macio e entrega potência modesta para o peso de 1.040 kg; com caixa
4+E, é necessário usar bem a alavanca |
Outros cuidados são os comandos internos de tampa traseira e da
portinhola do tanque, o bate-pé na região dos pés do motorista (cada vez
mais abolido em nome da redução de custo) e o ajuste da altura de
ancoragem dos cintos dianteiros, que a Fiat não aplicou no 500 nem no
novo Uno. Mas o compartimento de bagagem é restrito, apenas 190 litros,
podendo ampliar-se a 845 litros com o encosto do banco traseiro
(bipartido) rebatido. O estepe vem por dentro, como a maioria prefere, e
está voltado para baixo, o que dificulta verificar a pressão, mas abre
espaço para pequenos objetos.
Desempenho
discreto
O único motor
disponível para o Face na produção chinesa é de 1,3 litro, duplo comando
e quatro válvulas por cilindro, desenvolvido pela Acteco, empresa do
grupo Chery em parceria com a austríaca AVL. Potência (84 cv) e torque
máximo (11,4 m.kgf) estão de acordo com a cilindrada, embora não sejam
expoentes, e o deixam próximo aos 1,4 nacionais de duas válvulas por
cilindro, como o da Fiat e o da Peugeot-Citroën. O torque máximo é plano
entre 3.500 a 4.500 rpm, boa faixa para um multiválvula, e pode-se levar
o motor até 6.500 rpm, quando ainda mostra suavidade de funcionamento.
Em um conjunto mecânico até que convencional, peculiar é a suspensão
traseira por eixo rígido tubular com barra
Panhard (como no Chevette, só que neste era um eixo de tração) em
contraste ao eixo de torção que é quase unânime na categoria. A
dianteira é McPherson. A fábrica não deixa de mencionar os fornecedores
de padrão mundial que utiliza, como a Bosch para o gerenciamento
eletrônico do motor, a Valeo para o motor de partida e a sueca Autoliv
para as bolsas infláveis.
A avaliação pela imprensa, na região da cidade paulista de Itu, foi
limitada para um bom julgamento do Face — se era intencional ou não,
fica para um segundo contato em condições mais adequadas. O desempenho
mostrou-se coerente com a cilindrada e o peso de 1.040 kg do carro, com
boa resposta em baixa rotação. São 12,4 kg/cv de relação peso-potência.
A fábrica informa aceleração de 0 a 100 km/h em 16 segundos e velocidade
máxima de 156 km/h, aceitáveis para o segmento.
Não foi possível chegar sequer a 100 km/h no trajeto de muitas lombadas,
pelo que não há como avaliar o comportamento em velocidade. A 2.000 rpm
o velocímetro indicava 70 km/h, o que significa moderadas 3.400 rpm a
120 km/h. Numa estimativa, considerando velocidade por 1.000 rpm em
quarta 20% menor que em quinta (as relações não foram informadas nem
constam do site internacional da Chery), é provável que a velocidade
máxima seja em quarta à rotação de potência máxima. A exemplo do Cielo,
portanto, o Face aposta no escalonamento 4+E
e vem combater a mania brasileira de câmbios curtos em excesso.
Com isso, podem-se esperar críticas ao desempenho pelos que insistirem
em retomar velocidade em marchas altas: nessas condições, usar o câmbio
é fundamental. Mas os chineses já pegaram o (mau) jeito brasileiro ao
omitir dados de consumo — medo comum a fábricas importantes, como a
Honda. Publicação estrangeira confiável indica consumo médio pelo novo
ciclo europeu de 16,6 km/l, bastante baixo, mas com gasolina sem álcool.
Se confirmada, essa parcimônia no apetite chega a tornar razoável o
diminuto tanque de 45 litros.
O nível de ruído é considerável, mas não chega a incomodar. O câmbio tem
engates algo ásperos, sem deixar de ser preciso (e não tem trava de ré
na alavanca, elogiável), e os freios — apesar do pedal mais pesado que o
habitual — mostram bom dimensionamento. Muito bom o diâmetro mínimo de
giro de apenas 9,5 metros. A suspensão amacia as imperfeições do piso,
embora tenha mantido o carro firme no curto trajeto rodoviário do teste.
Seria mesmo preciso dirigir em outras condições para opinar com
segurança.
A Chery conta hoje com 40 concessionárias e pretende abrir mais 30 até o
fim do ano, que espera encerrar com 10 mil carros vendidos entre os
vários modelos — 60% desse total viriam do Face. Um motor flexível,
ausência sentida nesse segmento mais sensível ao bolso, está em preparo
e deve chegar no próximo ano. Para compensar sua falta e a da tradição
da marca no mercado, a empresa destaca fatores como a garantia de três
anos e as revisões com preço fixo e, segundo ela, de 10% a 15% mais
baratas que as dos concorrentes (gratuita a 2.500 km, R$ 149 aos 10.000,
R$ 249 aos 20.000 km).
No Salão de São Paulo, em outubro, a Chery traz mais novidades como
outro hatch compacto (o S18), o sedã pequeno A13, o sedã médio-grande
G5, o pequeno QQ com motor flexível e o Tiggo com caixa automática. E há
planos para uma fábrica no Brasil, que segundo o jornal O Estado de
S. Paulo já tem cidade definida: Jacareí, na região do Vale do
Paraíba, em São Paulo. O investimento seria de US$ 700 milhões e a
fábrica começaria a produzir em 2013. Luís F. Curi admitiu o fato por
ocasião do lançamento do Face.
Os chineses estão mesmo chegando. |