Curtição a céu aberto

O Austin-Healey 100 e o 3000, roadsters ingleses simples e prazerosos,
resultaram da parceria entre uma grande fábrica e um entusiasta

Texto: Fabrício Samahá - Fotos: divulgação

Pequeno, leve e com apenas dois lugares, o modelo 100 deu início à série; o motor Austin de 2,7 litros e 90 cv levava-o a mais de 170 km/h

Com a segunda série, ou BN2, vinha um câmbio de quatro marchas e o motor chegava a 110 cv na versão 100M; o interior ainda era compacto

O inglês Donald Mitchell Healey (1898-1988) era um piloto de rali e projetista de automóveis com passagem pela Triumph na década de 1930. Logo após a Segunda Guerra Mundial, em 1946, começava a construir os próprios carros em Warwick, perto de Coventry, na Inglaterra. Usava a mecânica da Riley sobre chassis simples projetados por ele mesmo, com carrocerias compradas de empresas especialistas nesse tipo de fabricação, como Abbott, Elliot e Tickford — um negócio limitado e pouco lucrativo.

Daquele ano até 1954, ele produziu 676 sedãs, cupês e conversíveis que tinham em comum o bom desempenho. O mais famoso talvez seja o Silverstone, um roadster mais voltado ao uso em competições, que trazia os faróis circulares montados atrás da grade e os para-lamas junto aos pneus, como os de motocicletas. Com motor de quatro cilindros, 2,45 litros e 104 cv, acelerava de 0 a 96 km/h em 11 a 13 segundos, de acordo com a versão.

Uma cooperação com a norte-americana Nash levou em 1951 ao Nash-Healey, que tinha motor de seis cilindros do Nash Ambassador e chegou a usar carrocerias desenhadas pelo estúdio italiano Pinin Farina (só mais tarde renomeado Pininfarina). Para o Salão de Londres de 1952, o construtor projetou um carro esporte aberto de dois lugares — um roadster — com motor dianteiro e tração traseira, a que denominou Healey 100 em alusão à velocidade máxima prevista de 100 milhas por hora, ou 161 km/h.

O desenho do esportivo chamou atenção de Leonard Lord, um diretor da Austin, marca tradicional no país que havia produzido de 1922 a 1931 o Seven, o mais popular carro britânico antes da guerra. Um acordo foi firmado para que o modelo fosse produzido não em Warwick, mas nas instalações da Austin em Longbridge. Renomeado Austin-Healey 100, o carro chegava ao mercado em maio de 1953.

Suas linhas simples e elegantes seguiam um padrão dos roadsters ingleses da época: formas arredondadas, linha de cintura sinuosa, faróis circulares em para-lamas destacados, cabine recuada, traseira em suave declínio. A grade tinha o formato de um leque e frisos verticais. O para-brisa, mínimo, deixava o vento passar rente aos ocupantes em posição baixa. Compacto, com 3,83 metros de comprimento e 2,29 m entre eixos, o 100 usava o motor do Austin A90, um quatro-cilindros em linha de 2,7 litros com comando de válvulas no bloco, dois carburadores, potência de 90 cv e torque de 20 m.kgf.

Como o câmbio manual tinha apenas três marchas, foi instalada uma caixa overdrive de comando elétrico Laycock de Normanville para as duas últimas, de modo que o carro funcionasse como se fossem cinco. Enquanto a suspensão dianteira era independente com molas helicoidais, na traseira vinha um tradicional eixo rígido com feixe de molas semielípticas. Os freios usavam tambores nas quatro rodas, que eram raiadas com fixação central e tinham pneus 5,90-15 diagonais. A distribuição de peso bem próxima de 50% por eixo favorecia a estabilidade.

Em teste da revista inglesa The Motor, a máxima de 171 km/h superou a previsão do fabricante e acelerar de 0 a 96 km/h exigiu 11,2 segundos, ajudado pelo peso contido de 915 kg. No Salão de Londres do mesmo ano, sua publicidade chamava atenção: "É rápido! É confiável! É um recordista!". Era uma referência à velocidade de 229 km/h alcançada por uma versão preparada nos lagos de sal congelados de Bonneville, Utah, nos Estados Unidos, com o próprio Donald Healey ao volante.

Em 1954 ele chegava ao mercado norte-americano, no qual os roadsters ingleses vinham conquistando importante espaço desde o fim da guerra — tendência iniciada pelos combatentes no conflito que voltavam da Europa entusiasmados com esses carros britânicos. A revista Motor Trend  descreveu-o como "leve e pequeno, fácil de dirigir para o entusiasta e a dona-de-casa", e com comportamento dinâmico "bom o bastante até para o motorista mais ousado".

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Data de publicação: 1/11/11

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