Com o mundo nas costas

Valentes e robustos como o Jeep CJ, os picapes da marca — caso
do Gladiator — ofereceram versões para todo tipo de aplicação

Texto: Fabrício Samahá - Fotos: divulgação

O Gladiator, primeiro modelo da série: caçamba Townside (normal) ou Thriftside (de para-lamas salientes), tração traseira ou nas quatro rodas

O desenho até a cabine era o mesmo da perua Wagoneer e havia opção de carroceria de madeira de fábrica; a capacidade chegava a 1.000 kg

A marca Jeep, que surgiu na década de 1940 com um veículo militar, é reconhecida hoje em qualquer parte do planeta por seu robusto utilitário leve, designado como série CJ (Civilian Jeep, jipe civil) entre 1945 e 1986 e como Wrangler de 1987 até nossos dias. Os grandes utilitários esporte da marca são também renomados, tanto os médios, como o Cherokee feito de 1984 a 2001, quanto os grandes, a exemplo da série Wagoneer/Grand Wagoneer e do Grand Cherokee ainda em produção. Contudo, há outro tipo de veículo em que a Jeep teve relevante participação: picapes.

Seu primeiro modelo na categoria foi lançado nos Estados Unidos já em 1946, chamado apenas de Pickup Willys e com grande semelhança — tanto visual quanto técnica — com a perua Station Wagon derivada do CJ. De início tinha capacidade de 500 kg, aumentada no ano seguinte para uma tonelada em uma versão com maior distância entre eixos. Esse picape seria fabricado no Brasil de 1961 a 1982, de início como Pickup Jeep e mais tarde como Ford F-75, embora com desenho frontal diferente do original norte-americano — aqui foi usada a frente mais larga e imponente introduzida pela perua Rural. Com a estreia da perua Wagoneer nos EUA, em 1962, a Kaiser-Jeep — formada pela aquisição da Jeep pela Kaiser em 1953 — revelava a base a ser empregada pelo sucessor do veterano picape. No ano seguinte ela apresentava o Gladiator (gladiador), que mantinha a parte dianteira da perua praticamente inalterada: linhas retas, ampla grade de frisos verticais, faróis circulares, para-brisa curvo. Terminada a cabine vinha a caçamba de grandes dimensões, montada em separado do compartimento de passageiros sobre o chassi independente.

No interior, ao contrário do que se espera de um Jeep da época, havia certas comodidades como opcional: ar-condicionado, direção assistida, aquecimento com desembaçador, rádio, acendedor de cigarros. Segundo a publicidade, o ambiente interno "quase faz justiça a um carro de família", o que não significava exatamente luxo, mas havia revestimento no teto e nas portas e um vinil lavável cobrindo o banco inteiriço, que levava três pessoas com espaço razoável. O painel, com desenho simétrico entre os lados esquerdo e direito, destacava o velocímetro em forma de meio círculo. Recursos úteis no fora-de-estrada, como guincho e proteções na parte inferior do chassi, também estavam disponíveis.

O Gladiator oferecia diversas opções para atender a diferentes demandas: tração apenas traseira ou temporária nas quatro rodas, distância entre eixos de 3,05 ou 3,20 metros, caçamba com comprimento de 2,10 ou 2,40 m, desenho Townside ou Thriftside (este com para-lamas destacados e caçamba estreita, estilo conhecido como stepside), dupla rodagem no eixo traseiro e até mesmo carroceria de madeira em vez da caçamba de aço. Assim, o comprimento total também variava de 4,79 até 5,09 m. As versões eram designadas como J-200 para entre-eixos curto e capacidade de meia tonelada, J-300 para chassi longo, J-310 para sua variação com 750 kg de capacidade, J-320 para a de uma tonelada e J-330 para carroceria de madeira, entre outras. Mais tarde vinham a J-3000 e a J-4000, esta com entre-eixos de 3,30 m. Outra versão era o furgão J-100 Panel Delivery, com parte traseira fechada e capacidade de meia tonelada. Já as variações M-715 e M-725, produzidas de 1967 a 1969, destinavam-se a aplicações militares.

A Jeep destacava o baixo plano de carga dos picapes, até 19 centímetros mais perto do solo que nos concorrentes, o que pouparia ao usuário "uma milha por ano" de levantamento de peso. Outros pontos fortes eram o grande vão livre do solo e o amplo capô que envolvia as laterais para fácil acesso aos órgãos mecânicos. Podia ainda ser acoplada à caçamba uma capota alta e envidraçada, ideal para acampar nos passeios longe do asfalto. Nos primeiros anos o Gladiator era equipado com o motor Tornado de seis cilindros em linha e 230 pol³ (3,8 litros) a gasolina, da Willys, então o único propulsor feito nos EUA com comando de válvulas no cabeçote. A potência de 140 cv e o torque máximo de 26,3 m.kgf (valores brutos, padrão neste artigo até 1971) indicavam desenvoltura para o transporte de carga sem a necessidade de recorrer a altas rotações. O câmbio manual podia ter três ou quatro marchas. Continua

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Data de publicação: 15/2/10

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