
Na versão Camper, uma "casa
sobre rodas" era aplicada à caçamba do Gladiator; novos motores V8 de
até 5,75 litros lhe trouxeram mais vigor



Renomeadas J-10 e J-20 em 1974,
as versões adotavam nova frente e aparecia o acabamento Pioneer
(centro); mais tarde, faróis retangulares


Anunciado como "o picape de alto
desempenho", o Honcho trazia um ar descontraído com rodas esportivas,
estrutura de caçamba e acessórios |
Em
qualquer dos casos, acionar a tração suplementar exigia apenas mover uma
alavanca para trás, sem precisar parar o picape; outro movimento
acionava a redução, apenas com veículo parado. Nas suspensões, uma
novidade: as versões de tração traseira vinham com eixo dianteiro
independente, inédito no tipo de veículo, enquanto as 4x4 usavam o
tradicional eixo rígido com feixes de molas semi-elíticas, esquema
também adotado na traseira de toda a linha. Curiosamente, a mesma Jeep
que inovou na suspensão independente seria, em modelos de tração
integral, uma das marcas mais persistentes no eixo dianteiro rígido — o
Grand Cherokee só o abandonaria na geração de 2005! Os freios usavam
tambores com assistência e o peso do picape variava de 1.435 kg, na
versão de tração traseira e menor capacidade, a 1.550 kg para aquela com
tração 4x4 e apta a mais peso.
Duas novidades vinham em 1965. Uma, a opção do motor AMC Vigilante V8 de
327 pol³ (5,4 litros) com comando no bloco,
250 cv e 47 m.kgf, que movia o picape com folga mesmo carregado; outra,
a alternativa da caixa automática General Motors Turbo Hydramatic de
três marchas, a primeira transmissão desse tipo disponível em um veículo
com tração 4x4. Mudava a identificação das versões, agora com números de
quatro dígitos: J-2500, J-2600, J-2700 e J-2800 para os de entre-eixos
mais curto e J-3500, J-3600, J-3700 e J-3800 para os de chassi longo. Em
cada caso, o segundo dígito crescente indicava o aumento da capacidade
de carga, que variava entre 500 e 1.000 kg. Mas esses motores de seis e
oito cilindros davam lugar já em 1967 ao seis-em-linha da AMC de 232
pol³ (3,8 litros), com comando no bloco e 145 cv. Alternativa mais
potente era o V8 "Dauntless" fornecido pela divisão Buick da GM, com 350
pol³ (5,75 litros) e 230 cv.
Uma atualização de estilo em 1970 colocava os faróis dentro de uma grade de frisos verticais que tomava toda a largura
da dianteira, embora capô e para-lamas tivessem as mesmas formas de
antes. Era o mesmo desenho adotado cinco anos antes pelo Wagoneer. O
motor AMC de seis cilindros crescia para 258 pol³ (4,2 litros) e surgia
a opção do V8 de 304 pol³ (5,0 litros) da mesma marca, com 210 cv, no
lugar do "estrangeiro" Buick — com a compra da Jeep pela AMC, naquele
ano, não fazia mais sentido usar um motor de outra corporação. O picape
podia vir com caixa manual ou automática, ambas de três marchas, além da
opção de tração 4x4. Dois anos depois o nome Gladiator era abolido,
restando as siglas, que em 1974 eram simplificadas: ficavam apenas J-10
e J-20, sem mais relação com o entre-eixos ou a capacidade de carga. O
J-20 diferenciava-se pelos freios dianteiros a disco e o motor V8 de 360
pol³ (5,9 litros) de série, com carburador de corpo duplo e 175 cv
(agora pelo sistema líquido, padrão nos
EUA desde 1971).
No interior havia melhorias como painel acolchoado, retrovisor dia/noite
e, no painel, amperímetro e manômetro de óleo. Nessa versão o cliente
podia optar por um entre-eixos maior, de 3,32 m em vez de 3,02 m; já o
acabamento Pioneer estava disponível em ambos os picapes. Como opcional,
um carburador de corpo quádruplo elevava a potência do motor 360 em 20
cv. Se não fosse o bastante, o volumoso V8 de 401 pol³ (6,6 litros)
também com carburador quádruplo resultava em 215 cv e 42,2 m.kgf
líquidos. Uma opção extra era
o J-30, com dupla rodagem traseira e capacidade de uma tonelada,
oferecido só com carroceria de madeira ou como chassi sem caçamba.
Aprimoramentos no chassi e na suspensão, como os aplicados ao Cherokee,
vinham no modelo 1976 do picape. O painel já era outro, com três
mostradores circulares e sem o antigo desenho simétrico, e o acabamento
Pioneer ganhava apliques nas laterais simulando madeira, pneus com faixa
branca e calotas cromadas, além de revestimento do banco em tecido.
Como de hábito, as opções eram muitas: caixa manual de três ou quatro
marchas e automática de três, eixo traseiro com relação mais alta,
capota de alumínio com vidros e trava da tampa traseira, tanque de
combustível adicional de 75 litros, janela traseira corrediça,
diferencial autobloqueante na traseira,
suspensão e sistema de arrefecimento para serviço pesado. Um pacote mais
jovial, o Honcho, era oferecido da linha 1977 em diante com rodas
esportivas, estrutura de caçamba ("santantônio") e faixas laterais
decorativas, para atender à
mudança de perfil do consumidor de picapes. Cada vez mais
norte-americanos escolhiam utilitários para uso pessoal nas cidades,
mesmo que não precisassem carregar carga ou sair do asfalto. Parte desse
fenômeno se deve à instituição do programa de consumo médio corporativo
(Cafe) para automóveis em 1975: com limites mais severos de gasto de
combustível para carros de passeio, os picapes e os utilitários esporte
tornaram-se a solução para continuar a dispor de grandes motores V8. O Honcho ficou tão conhecido que, na falta de um nome oficial para aquele
que já foi o Gladiator, muitos chamam assim toda a série J. Outra opção
lançada nesse ano era a luxuosa Golden Eagle.
A linha de picapes foi mantida sem grandes alterações até 1988
— mudaram só detalhes como
grade e faróis, retangulares em vez de circulares. Com o
fim de sua produção a Jeep ficou sem representante entre os modelos
pesados, mas se conservou na categoria dos médios. Depois do CJ-8
Scrambler, derivado do próprio Jeep CJ e feito de 1981 a 1986 em pequeno
volume, ela ofereceu o Comanche, desenvolvido a partir do Cherokee de
1984 e lançado dois anos depois deste. Esse exemplo raro de picape com
estrutura monobloco foi fabricado até
1992, mas perdeu seu espaço após a compra da AMC pela Chrysler — a
corporação achou que o Comanche faria concorrência interna ao Dodge
Dakota, lançado em 1987.
Desde então a marca Jeep nunca mais contou com um picape, embora a
proposta de um Gladiator moderno tenha sido apresentada em salões no
começo de 2005. Com linhas que o vinculavam ao Jeep típico de hoje — o
Wrangler —, o picape de cabine simples trazia capota de lona removível,
para-brisa que podia ser rebatido para frente, portas removíveis e motor
turbodiesel de 2,8 litros e 163 cv. Contudo, a Jeep não manifestou
intenção de colocá-lo no mercado.
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