Intervalo marcante

Situados entre a série 250 e o famoso "Daytona", o Ferrari 275 GTB
e seus derivados destacaram-se pelo estilo e pelo desempenho

Texto: Fabrício Samahá - Fotos: RM Auctions, Supercars.net e divulgação

Com a frente curta de 1964 ou com a mais longa de 1966 (fotos acima), o 275 agradava muito pela harmonia do estilo assinado por Pininfarina

Com um interior típico dos Ferraris, a começar pelo volante de madeira, o GTB extraía 280 cv do motor V12 de 3,3 litros com três carburadores

Ao contrário do cupê, o conversível 275 GTS buscava um caráter mais comportado; o desenho próprio era voltado ao mercado norte-americano

Entre as várias maneiras que a italiana Ferrari usou para denominar seus carros de rua e de competição, uma das mais adotadas nas décadas de 1950 a 1970 foi a de associar a uma sigla o número correspondente à cilindrada unitária dos motores — isto é, o deslocamento de cada cilindro. Assim, o primeiro Ferrari de rua, o 125 S, tinha aproximados 125 cm³ para cada um dos 12 cilindros, em total de 1,5 litro. A regra se manteve nos modelos 166, 195, 212 e 250, número este que designou uma gama das mais amplas, produzida entre 1954 e 1964.

Com um novo aumento de cilindrada do motor "Colombo" V12 (assim apelidado por ter sido projetado por Gioacchino Colombo, que antes fizera motores Alfa Romeo para Enzo Ferrari) para 3,3 litros, a denominação não poderia ser outra. Esses Ferraris, evolução da série 250, combinaram o número 275 a diferentes siglas — GTB, GTS, GTB/C e GTB/4 — e são considerados hoje modelos marcantes da história de Maranello, a ponto de constar como número três na lista de 10 maiores Ferraris de todos os tempos da revista norte-americana Motor Trend. O primeiro deles, o 275 GTB (Gran Turismo Berlinetta, ou seja, cupê), apareceu no Salão de Paris de 1964.

Era um dois-lugares com chassi tubular de aço, desenho de Pininfarina e carroceria fabricada pela Scaglietti, bem perto da fábrica de Maranello. O modelo padrão usava aço na carroceria, mas algumas unidades saíram em alumínio para redução de peso. Mostrava-se muito atraente em suas formas curvas, sensuais. Os faróis vinham atrás de carenagens plásticas, como no Jaguar E-type, e pequenos para-choques ladeavam a grade oval em posição baixa. O cavalo empinado estava tanto no centro da grade quanto dentro do emblema retangular de fundo amarelo, montado mais acima. Saídas de ar estavam atrás das rodas dianteiras e após as janelas laterais. A cabine recuada e compacta trazia um para-brisa bem envolvente e o vidro traseiro plano e inclinado em um formato fastback. Truncada, a parte posterior mostrava duas lanternas circulares e um amplo para-choque cromado, sob o qual apareciam as quatro saídas de escapamento.

Era um carro bem proporcionado com comprimento de 4,37 metros, largura de 1,70 m, altura de 1,23 m e distância entre eixos de 2,40 m. Pesava 1.100 kg. O motor Colombo V12 com bloco e cabeçotes de alumínio, agora com cilindrada de 3.286 cm³ (exatos 273,8 cm³ por cilindro, arredondados para 275 na denominação), resultava do último aumento de diâmetro de cilindros desde sua introdução no modelo 166. A medida inicial de 60 mm, que chegara a 73 mm na série 250, alcançava agora 77 mm, mantendo o modesto curso de pistões em 58,8 mm para todas as versões, um de seus segredos para alcançar elevada rotação. Na evolução seguinte, a série 330, o curso seria ampliado para 71 mm.

Equipado com três carburadores Weber, desenvolvia potência de 280 cv a 7.600 rpm e torque de 25,9 m.kgf a 5.500 rpm. Tais números permitiam ao GTB boas condições diante de concorrentes como os ingleses E-type (seis cilindros, 4,2 litros, 265 cv) e Aston Martin DB4 (seis cilindros, 4,0 litros, 286 cv). Já o Chevrolet Corvette da nova geração StingRay, com um V8 de 5,35 litros, obtinha 300 cv. O 275 acelerava de 0 a 100 km/h em 6,7 segundos e alcançava 250 km/h. Ele foi o primeiro Ferrari a contar com suspensão independente na traseira, baseada em braços sobrepostos de diferentes comprimentos, assim como a dianteira, ambas com molas helicoidais e amortecedores Koni.

Outras novidades eram o motor mais recuado e o transeixo na traseira (em que o câmbio e o diferencial estavam integrados) para melhor distribuição de peso entre os eixos. O câmbio manual tinha cinco marchas e os freios usavam discos sólidos Dunlop nas quatro rodas, que eram de magnésio da marca Campagnolo com pneus 6,50-14. Como opções vinham diferencial autobloqueante, tanque de combustível maior e rodas raiadas Borrani de 15 pol com pneus 7,00-15 na traseira. A segunda série do GTB, iniciada em dezembro de 1965, recebia uma frente mais longa — estudada para reduzir a sustentação aerodinâmica e melhorar a estabilidade em alta velocidade — e vidro traseiro maior. Continua

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Data de publicação: 13/10/09

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