

Os primeiros modelos do
Jeepster: pára-brisa bipartido e pára-lamas salientes, mas já com o
apelo jovial que faltava ao utilitário de origem

Em 1962, o Jeepster
brasileiro: o Saci, projetado com base na Rural


Relançado em 1966, o modelo
americano vinha com desenho mais atual, com base no Jeep CJ-6, e opção
de capota com comando elétrico |
Desde que começou a dedicar parte da produção do
Jeep ao mercado civil, em 1945, a
americana Willys tentou diversificar sua linha com derivações
interessantes do famoso utilitário. Em 1946 lançou a Station Wagon,
primeira versão perua do projeto original (que mais tarde seria nossa
Rural), e um ano depois o Pickup
Truck, um picape desenvolvido com base no carro que inaugurou o segmento
dos jipes. Eram veículos práticos, prontos para o trabalho, ainda que a
perua também tivesse forte vocação para o lazer, reforçada pela charmosa
carroceria com laterais de madeira. Esse mesmo apelo ganhou evidência
com a chegada do Jeepster, em 1948.
A Willys decidira tornar seu Jeep civil — Civilian Jeep em inglês,
ou CJ — uma espécie de roadster, e foi isso que criou o
nome do modelo. Foi uma das idéias mais inusitadas vindas de um
fabricante americano no pós-guerra. Chamado internamente na empresa por
VJ e desenhado por Brooks Stevens, o Jeepster era mais longo e baixo que
o Jeep. E foi o último carro aberto, produzido por um fabricante
americano, com cortinas laterais no lugar de janelas deslizantes.
As principais alterações do projeto estavam, antes de tudo, no desenho.
Se o CJ já era como um soldado em trajes civis, o Jeepster parecia um
pracinha de licença durante o verão. O pára-brisa bipartido era
nitidamente mais baixo que o do modelo de origem. Se o Jeep nem portas
possuía, o Jeespter as tinha como parte da carroceria. A linha de
cintura, com discreto rebaixamento após o pára-brisa, era destacada por
uma faixa na mesma cor das colunas dianteiras, ao estilo saia-e-blusa.
O acabamento evidenciava sua personalidade,
apesar de a dianteira e os pára-choques cromados serem os mesmos da Station Wagon.
Um ornamento também cromado e em forma de “T”
dividia a grade de barras verticais. Havia dois apoios para pé nas
laterais, um na base do pára-lama traseiro e outro sobre ele. Uma
pequena saia arredondava a parte superior das caixas de rodas de trás.
Os pneus vinham com faixa branca e as calotas cromadas eram realçadas
por sobre-aros pintados em cor distinta da carroceria. O estepe
Continental, sobre o pára-choque traseiro, condizia com a proposta.
“Um dia você vai se cansar das cenas de sempre: seguindo pelo velho e
tedioso caminho... Então, você vai querer o Jeepster, um carro amigável
e divertido para se dirigir com riso no coração e uma canção em seus
lábios”. Essa era uma das formas que a publicidade da Willys encontrou para
descrever o modelo esporte que lançava em 1948. Mas seus anúncios eram raros,
alguns deles com o carro fotografado em praias. O enfoque estava numa
proposta de lazer descompromissado com qualidades como resistência e
bravura, associadas ao Jeep.
Curiosamente, ainda que de acordo com sua proposta, o Jeepster não
oferecia a opção de tração nas quatro rodas — somente nas
traseiras. No lançamento, usava o motor Go-Devil de quatro cilindros e
2,2 litros (134 pol³), com potência bruta
— padrão neste artigo — de 63 cv e torque de 14,5 m.kgf. Na linha 1949
viria a opção do Lightning de seis cilindros em linha, 2,4 litros (148
pol³) e 70 cv. O câmbio manual tinha três marchas e sistema
overdrive, que se tornou opcional no
segundo ano de produção.
A suspensão dianteira era independente e a traseira usava eixo rígido,
ambas com feixes de molas semi-elípticas (transversal na frente). Os
freios eram a tambor. Mais tarde, em
1950, o Jeepster passava a usar o quatro-cilindros Hurricane, também de
2,2 litros, mas com 75 cv e 15,7 m.kgf, e o seis-em-linha Lightning de
2,6 litros (161 pol³), com a mesma potência e 17,3 m.kgf. O Hurricane
tinha a particularidade do cabeçote em "F", com válvulas de admissão no
cabeçote e de escapamento no bloco. Isso deixava o cabeçote mais alto
que no motor com válvulas laterais, usado até então, mas permitia que a
câmara de combustão fosse mais compacta e a
taxa de compressão mais elevada (de 6,48:1 para 7,4:1).
Continua
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