


Marcas nobres como Rolls-Royce,
Cadillac e Panhard (de cima para baixo) forneciam chassis para receber o
estilo desejado pelos clientes



Os Hispano-Suizas de 1934 (fotos superiores) exemplificam o talento de Darrin, que seguiu o mesmo
padrão fluido nesse Renault Nervastella


Os Packards de Darrin (como esse
Custom Super Eight 180) tinham as portas modificadas e dispensavam os
estribos, tão comuns na época |
O detalhamento dos carros era surpreendente, englobando compartimentos
de bebidas e até bancos rebatíveis que podiam ser escondidos no
assoalho, atrás de persianas de madeira enroláveis, como em
escrivaninhas. Os bons contatos de Darrin nas altas rodas atraíam
diversos compradores, e a maioria dos carros construídos era de
limusines ou destinava-se ao uso com chofer. Também construíam
carrocerias conversíveis conhecidas como Victoria. Dessas, pelo menos
três, sobre chassis Packard, Bugatti e Renault, possuíam “banco de
sogra”, como era apelidado o assento suplementar na parte traseira dos
carros.
Hibbard e Darrin também foram os primeiros proponentes de cores mais
claras para carros de estilo formal, pois até aquele momento eles eram
pintados em cores escuras — cinco anos depois, a prática se tornou comum
em ambos os lados do Atlântico. Um aspecto curioso é que eles chegaram a
pintar carros com cores que combinassem com o vestuário do proprietário.
Além das cores, desenvolveram processos inovadores para pintura e para o
uso de peças fundidas de alumínio na construção de carrocerias, no lugar
das peças de madeira.
Ocupavam-se também com projetos de mobiliário e protótipos de
carrocerias para fabricantes como Armstrong-Siddeley, Auburn, Dodge,
General Motors e Stutz, além de desenharem o Renault Nervastella e uma
linha completa de carros para a Moon. Entre os carros mais notáveis
encarroçados por eles estavam 12
Duesenbergs Modelo J, entre eles o do magnata da imprensa William
Randolph Hearst. Outras celebridades que desfilavam com suas carrocerias
eram Gloria Swanson e o Rei Afonso XIII da Espanha. Hibbard estimou que
cerca de 50% das carroçarias da empresa eram comprados por cidadãos
norte-americanos, embora muitos as tenham mantido na Europa para uso
local.
Em 1929 era aberto um salão da empresa em Manhattan — uma semana antes
da quebra da Bolsa, que levou a fechar a empreitada. Na França, muitas
encomendas foram canceladas. Em 1931 a empresa fechou as portas e
algumas carrocerias incompletas foram compradas e completadas pela
Felber Freres. Hibbard e Darrin resolveram então exibir filmes
norte-americanos para os turistas e expatriados dos EUA em Paris, e para
isso alugaram dois salões. Hibbard acabou indo trabalhar como projetista
na Hotchkiss.
Já Darrin conheceu em um concurso de elegância um banqueiro argentino
chamado J. Fernandez, que também tinha uma encarroçadora em
Boulogne-sur-Seine. Os dois formaram uma sociedade com o nome Fernandez
et Darrin em 1932. Até 1937, a nova empresa construiu 300 carroçarias
para, entre outros chassis, Bugatti, Delage, Hispano-Suiza,
Isotta-Fraschini, Maybach, Mercedes-Benz e Voisin. Os carros eram muitas
vezes encomendados com pouca preocupação com o custo e prioridade a
beleza, utilidade e segurança. Não é surpreendente que uma equipe de 200
funcionários produzisse menos que 10 carrocerias por mês.
Cada estilo de carroceria tinha um número de série, assim como as peças
eram individualmente numeradas para ajudar quanto à encomenda por
oficinas que as fossem reparar de alguma colisão. Entre as criações mais
conhecidas da empresa estavam o Duesenberg 1933 conversível criado para
a estrela do cinema Greta Garbo, que incluía até malas especiais da
Louis Vuiton, e o belíssimo Coupe de Ville construído para o Conde
Anthony Gustav Rothschild, sobre chassi Hispano-Suiza T68 com motor de
12 cilindros e 9,4 litros, pintura em duas cores e parte dianteira do
teto retirável.
Rothschild também comprou uma surpreendente carroceria limusine sobre
chassi Hispano-Suiza K6. A suntuosidade do carro fez com que outros
clientes encomendassem desenhos inspirados nele, incluindo um sobre
chassi Renault Nervastella para o próprio Louis Renault. Outros carros
extraordinários foram feitos para marajás indianos, mas o principal
cliente da marca foi o milionário argentino Pablo Martin Maximo de
Alzaga Unzue, que adquiriu 26 automóveis com carroceria Fernandez et
Darrin. Darrin também projetou uma carroceria para o
Rolls-Royce Phantom II de Lord
Mountbatten II, que foi construída por Barker na Inglaterra — um membro
da família real britânica não admitiria uma carroceria feita em outro
país.
Com a ascensão nazista na Alemanha, muitos judeus, que representavam boa
parte da clientela de Darrin, foram para a América. Ele então tomou a
decisão de se mudar para Hollywood em meados de 1937, pois tinha feito
diversas amizades no cinema quando tinha suas salas de projeção. Lá
ficou conhecido como Darrin de Paris. Seu primeiro trabalho foi para o
ator Dick Powell, que encomendou uma personalização de seu Ford 1937,
realizada em oficina de terceiros. Logo ele já tinha as próprias
instalações, onde construiu 16 unidades da primeira versão de seu modelo
mais famoso, o Packard Darrin — quase todas para celebridades como Clark
Gable, Errol Flynn e Tyrone Power. Os carros usavam como base cupês
cujas capotas eram cortadas, que tinham portas, capô e para-brisa
modificados e os estribos descartados.
Continua
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