



De cima para baixo, o roadster
SL de 1963, um dos primeiros trabalhos de Sacco, e versões de 1969, 1970
e 1978 da série de conceitos C-111 |
"Um Mercedes-Benz deve sempre parecer um Mercedes-Benz." A frase, que
sintetiza uma das normas da empresa alemã quando se trata do desenho de
seus automóveis, é do responsável pelas linhas de grande parte deles:
o italiano Bruno Sacco, projetista que se manteve no comando do departamento de
Estilo da Daimler-Benz entre 1975 e 1999.
Sacco nasceu em 12 de novembro de 1933 em Udine, no nordeste da Itália.
Após se formar em Engenharia Mecânica na Universidade Politécnica de
Turim, fez alguns trabalhos para os estúdios de estilo e construtores de
carrocerias Ghia e Pininfarina. Mudou-se então para a Alemanha
e em 1958, aos 24 anos, era contratado como projetista pela Daimler. Não
pretendia ficar na empresa por muito tempo, mas o casamento com a
berlinense Annemarie lbe e o nascimento da filha Marina o fizeram rever
os planos. Entre os primeiros projetos em que atuou estão o conversível
SL da série R113 com o característico teto "Pagode", lançado em 1963, e o enorme e suntuoso modelo
600, que
chegou ao mercado um ano mais tarde.
Bruno trabalhou sob a supervisão de Karl Wilfert, Friedrich Geiger e
Béla Barényi e ganhou posições na área de Estilo da empresa. Em 1970
tornava-se chefe do departamento de Desenho de Carrocerias e Projetos
Dimensionais, área em que trabalhou nos projetos experimentais de
segurança ou ESF (Experimental Safety Vehicles). Cinco anos depois
assumia a chefia do departamento de Estilo em substituição a Geiger.
Daquele ano em diante, foi ele o responsável pelo desenho de todo
automóvel, caminhão e ônibus lançado com o emblema da estrela de três
pontas. E também dos que nunca chegaram às concessionárias, mas
brilharam em salões e fizeram os entusiastas mundo afora sonhar: os
carros-conceito.
Saiu de sua prancheta, ainda antes de assumir o comando de Estilo, parte
da
série de superesportivos conceituais C-111. Eram carros de perfil baixo
e linhas ousadas, com portas que se abriam para cima (as clássicas "asas
de gaivota" imortalizadas pelo
300 SL de 1954),
elementos vazados nas colunas traseiras e carroceria de plástico
reforçado com fibra-de-vidro. O primeiro C-111 usava motor
Wankel de
três rotores em 1969; o segundo, um de quatro rotores no ano seguinte; e
o terceiro, um turbodiesel de cinco cilindros em 1978, mais tarde
substituído por um V8 a gasolina de 4,8 litros e 500 cv. O último deles
esbanjava eficiência aerodinâmica com seu Cx 0,191.
Sacco admitiu que levou alguns anos para compreender por inteiro a
cultura de desenho da Mercedes, que não tinha "leis escritas", em suas
palavras. A empresa valorizava o que ele definia como "homogeneidade
horizontal" e "afinidade vertical". A primeira indica a similaridade de
traços que deve existir entre os vários modelos contemporâneos da marca,
para que todos sejam reconhecidos como pertencentes a uma "família",
antes mesmo que se vejam seus emblemas e logotipos. Afinidade vertical
refere-se a manter elementos em comum de uma geração para a subsequente,
sem inovar de forma drástica, com o intuito de não dar ao modelo
substituído uma imagem superada.
Uma medida importante na Mercedes, que por décadas se destacou pela
longevidade de cada geração de suas linhas. Considerando que em tempos
passados o ciclo de vida de um modelo da marca era de oito anos, e que a vida útil
de um Mercedes estava na faixa de 20 anos, suas formas deveriam
ser definidas de modo a manter a elegância e o apelo estético por três décadas.
Continua
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