
Depois da estreia pela March,
Lauda (no alto em foto de 2002) passava a correr de BRM (acima) em 1973,
mas os resultados ainda não vinham



O primeiro título na F-1 foi em
1975: com o Ferrari 312T, Niki venceu cinco provas e fechou a temporada
em Watkins Glen, EUA (embaixo) |
Para um motorista comum, acidentes de automóvel trazem reflexões e às
vezes traumas, uma lembrança amarga para o resto da vida. Já para um
piloto de Fórmula 1 é diferente. Estar em altíssima velocidade, sofrer
um grave acidente, estar perto da morte e depois voltar às pistas e
ganhar novamente: esta foi a saga do intrépido e determinado piloto
austríaco Andreas Nikolaus Lauda, mais conhecido como Niki Lauda.
Nascido na bela Viena em 22 de fevereiro de 1949, filho de uma família
tradicional e abastada — donos de fábrica de papel —, Niki era fascinado pela velocidade. Gostava tanto de aviões quanto de
automóveis, mas sua predileção era pelo asfalto. Apesar de seu aspecto
franzino, não se intimidava e logo conseguiu pequenos empregos, de onde
juntava algum dinheiro. Usou o prestigio do nome para conseguir os
primeiros recursos para entrar nas competições sobre quatro rodas. Como
vários pilotos da época, começou pelos ralis e pequenos circuitos de
asfalto com o Mini da Austin, que
era considerado um kart com carroceria. Não demorou e já estava
pilotando um Porsche 911 em
provas de subida de montanha em seu país. Mostrou-se veloz, combatente e
com muita perícia.
A família era contra sua carreira — o pai gostaria que ele se formasse e
conduzisse os negócios da família. Para
ganhar dinheiro dirigiu caminhões de entrega, trabalhou como taxista e
quando podia também era mecânico. E dos bons. Gostava dos motores
boxer da Porsche e entendia bem deles.
No fim da década de 1960, corria tanto em provas de Fórmula 3 quanto
Fórmula 2 pela equipe March, que ainda engatinhava. A equipe foi fundada
por Max Mosley, Alan Rees e Robin Herd — o primeiro e o último até hoje
estão na categoria. Niki levou dinheiro para a equipe e, sem resultados
expressivos, estreou por ela na Fórmula 1 em 1971 no Grande Prêmio da
Áustria. Em 1972 dividia as atenções da equipe com o jovem e veloz sueco
Ronnie Peterson, mas não foi bem na temporada. O modelo 721, muito fraco
e irregular, ora não se classificava, ora quebrava.
Em 1973 ia para a inglesa BRM. Tinha a seu lado o experiente francês
Jean-Pierre Beltoise e o ítalo-suíço Clay Regazzoni. Graças ao bom nome
da família, obteve empréstimos de bancos austríacos, mas outra vez não
foi bem, fazendo apenas dois pontos na temporada. No ano seguinte, bons
ventos sopravam e ele estreava na Ferrari, outra vez com Regazzoni — que
na época tinha a fama de ser arisco e perigoso, mas recomendara Niki a
Enzo Ferrari no ano anterior. Em abril, no GP da Espanha em Jarama,
ganhava sua primeira corrida pilotando o 312 B3. Voltava a vencer na
Holanda, em Zandvoort. Ficou em quarto lugar no campeonato e ajudou a
Ferrari a ficar com o vice no Mundial de Construtores. No mesmo ano
pilotava um poderoso Ford Capri RS
3100 no Campeonato Europeu de Turismo, que tinha muito destaque na
época.
Em 1975 mostrava competência ao vencer três provas seguidas, em Monte
Carlo, Zolder (Bélgica) e Anderstorp (Suécia). Voltava a triunfar na
França em Paul Ricard e fechava o ano com chave de ouro em Watkins Glen,
Estados Unidos. Lauda ganhava seu primeiro campeonato e a Ferrari também
se sagrava campeã com o 312 B3 e o estreante 312T. Com motor boxer de 12
cilindros e 3,0 litros, tinha quatro válvulas por cilindro e potência de
495 cv a 12.200 rpm. O austríaco também triunfava na Corrida dos
Campeões em Silverstone, prova fora do campeonato que incluía carros da
Fórmula Indy. Aos 26 anos, aliviava a Ferrari de um jejum de 11 anos sem
campeonato. Continua
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