
Depois de vencer na França uma
prova tumultuada, Lauda sofria grave acidente na Alemanha; teve
queimaduras de terceiro grau e fraturas


Niki não demorou a retornar; nas
fotos, em Monte Carlo pela Brabham-Alfa Romeo em 1978 (em cima) e em
Long Beach pela McLaren em 1982


Dois momentos em 1984, vencendo
na Inglaterra e ao lado de Prost em Portugal; no ano seguinte Lauda
vencia sua 25a. prova e deixava a F-1 |
Em 1976 Lauda vencia sua primeira prova no Brasil. Teria grandes
desafios — um deles era o inglês James Hunt, muito veloz apesar da pouca
técnica. O austríaco vencia em Kyalami (África do Sul), Zolder e Monte
Carlo. Não foi feliz na Suécia e na França, mas venceu em Brands Hatch
uma das provas mais tumultuadas da F-1. Na largada, Regazzoni forçou
demais, rodou, raspou em Lauda sem prejudicá-lo, mas atrapalhou Hunt e
Jacques Laffite. Dada nova largada, os dirigentes se deram conta de que
Hunt, Rega e Laffite não poderiam usar o carro reserva. Hunt voltou com
o McLaren reparado e ganhou, mas meses depois perdeu os pontos no
tribunal graças à apelação de Luca Di Montezemolo, que já era chefe da
Ferrari.
Em agosto corria em Nürburgring, com 22,8 quilômetros de extensão — um
circuito atraente com suas belas árvores, mas também traiçoeiro e
desafiador com suas curvas e saltos. Para uns, pura êxtase; para outros,
muito tensão e concentração. Os quatro primeiros no grid eram Lauda,
Hunt, Patrick Depailler e Hans Stuck. O tempo estava frio e úmido. Na
segunda volta, na curva Bergwerk, os carros beiravam 200 km/h quando
Niki perdeu o controle do 312 T2, rodou, pegou a proteção da pista,
bateu no Surtees de Brett Lunger, rodou outra vez e acertou o Hesketh de
Harald Ertl. Um dos tanques de gasolina foi arrancado e o Ferrari de
Niki pegou fogo. As chamas cresceram com o austríaco dentro do carro.
Foi logo socorrido por Lunger,
Emerson Fittipaldi, Arturo Merzario e Guy Edwards.
Estava com o rosto bastante queimado e havia muitas fraturas. Ainda
consciente, movia-se na maca até a chegada da ambulância e ninguém
suspeitava da gravidade do acontecido. Seus pulmões estavam muito
intoxicados e as lesões eram diversas. Foi levado para o hospital de
Ludwigshafen e depois para o de Mannheim. Havia queimaduras de terceiro
grau, que chegariam a afetar bastante seu rosto, e fraturas graves.
Chegou a receber a extrema-unção, mas a têmpera desse grande piloto foi
mais forte. Sobreviveu, pois amava a vida e sua profissão. Na época já
era casado com Mariella von Reininghaus, que foi muito companheira em
momentos difíceis. Ainda debilitado e com parte do rosto enfaixada,
alinhou seu Ferrari para o GP da Itália. Chegou em quarto lugar e
mostrou estar em forma. Não pontuou no Canadá, mas foi terceiro nos EUA.
Na última prova, no Japão, choveu forte e Lauda tomou a decisão de
parar, digna de um excelente piloto que viu sua vida ameaçada outra vez.
Em 1977 voltava com muito vigor. Na terceira prova, em Kyalami, estavam
lá o companheiro de equipe argentino Carlos Reutemann, o ítalo-americano
Mario Andretti, o francês Jacques Laffite com o V12 Matra e outra vez
Hunt. Na Alemanha, desta vez em Hockenheim, chegava em primeiro e também
na Holanda. Foi campeão pela segunda vez. Mostrava muita garra com o
Ferrari. No ano seguinte estreava na promissora Brabham-Alfa Romeo, com
outro motor de 12 cilindros e muito potente. Fazia frente ao Ford
Cosworth, ao Matra e ao Ferrari. Na equipe estava o rápido
Gilles Villeneuve. Lauda
ganhava em Anderstorp e em Monza, que marcaria pela morte do sueco
Ronnie Peterson em seu Lotus. Niki ficou em quarto lugar no campeonato.
Chegava 1979 e o ano para a Brabham-Alfa seria péssimo. Lauda e seu
companheiro Nelson Piquet ficaram em 14º e 15º. O carro estava muito
ruim e o austríaco anunciava sua aposentadoria na categoria. Na época
inaugurava uma empresa aérea, a Lauda Air, que fazia voos de Viena a
Bangkok, na Tailândia, e a Sydney e Melbourne, na Austrália. Começou
também a fazer voos regulares para Recife, explorando o Nordeste de
nosso país. Em 1982 retornava à F-1 na McLaren-Ford, tendo como
companheiro John Watson. Circulava a notícia que sua empresa aérea não
ia bem. Boatos à parte, voltava em forma contra Piquet, os franceses
Alain Prost e Didier Pironi e o finlandês Keke Rosberg. Era a época dos
motores turbo e a BMW se juntava a Renault e Ferrari. Lauda mostrava
mais uma vez sua perícia em Long Beach, EUA, e em Brands Hatch com o
McLaren-Ford. Ficou em quinto no campeonato.
Dois anos depois continuava impecável ganhando na África do Sul, França,
Inglaterra, na terra natal em Zeltweg e na Itália, em Monza. Era seu
terceiro título mundial, com apenas meio ponto a mais que o companheiro
de equipe Prost na McLaren-Porsche. Em 1985 ganhava apenas em Zandvoort,
sua 25ª vitória. Deixava o volante de um F-1 com muita honra e
dignidade. Em 1992 Lauda seria consultor da Ferrari, mais tarde da
Jaguar e depois comentarista de uma rede de televisão alemã. Seu filho
Mathias, em 2006, correu na categoria alemã DTM e contou com a ajuda do
irmão Lukas como empresário.
Hoje Niki é um assíduo frequentador das pistas. Dirige com competência a
empresa Niki Luftfahrt de aviação. Sempre se mostrou muito íntegro no
esporte. Sua entrevista no extinto programa de TV Conexão
Internacional, com o jornalista Roberto Dávila, foi emocionante e
apresentou um homem competente e sensível. Aos 60 anos, mostra suas
cicatrizes com dignidade e nunca as escondeu. É uma referência de muito
respeito no meio automobilístico.
|