

Gilles quando campeão de Fórmula
Ford em seu país (em cima), em 1973, e um ano depois na F-Atlantic, na
qual ele correria por três anos

A estreia na Fórmula 1 pela
McLaren, no GP inglês de 1977, chamou a atenção de um homem importante
no cenário: comendador Enzo Ferrari


Villeneuve já na Ferrari, no GP
de Long Beach de 1978, e após vencer a prova canadense do mesmo ano: a
carreira na F-1 começava a decolar |
Muito se fala sobre o futebol arte, o futebol jogado por atletas de
talento incomum como o saudoso Manuel dos Santos, o Mané Garrincha. Ele
protagonizou cenas inimitáveis, passos e passes de mestre, dribles
incríveis e gols fenomenais. Fez a diferença. O mesmo se pode ver em
alguns pilotos de corrida de automóvel, que protagonizam o espetáculo e
o estado da arte ao dirigir. Desafiam os limites e regras em retas e
curvas, no seco ou sob chuva. Arriscam sua vida e, infelizmente, alguns
a perdem no esporte.
O italiano Tazio Nuvolari fez fama de piloto audaz na década de 1930.
Outro que fazia a diferença nas pistas na época era o alemão Rudolf
Caracciola. Na década de 1950 podem-se citar nomes como
Juan Manuel Fangio e
Stirling Moss. Na seguinte houve
uma renovação com nomes de muito brilho como Phil Hill, Dan Gurney,
Bruce McLaren, John Surtees, Graham Hill e Jack Brabham, mas o piloto da
década era escocês: Jim Clark. Infelizmente morreu numa prova de Fórmula
2 em Hockenheim, na Alemanha, em abril de 1968.
Os anos 70 foram marcados por muitas mortes, mas também por talentos que
até hoje são referência, como o escocês Jack Stewart, tricampeão
mundial. Na metade da década, a equipe de Ken Tyrrell contava com o
sul-africano Jody Scheckter e o francês Patrick Depailler; na Lotus de
Colin Chapman estavam o sueco Ronnie Peterson e o belga Jacky Ickx. Pela
McLaren, comandada por Teddy Mayer, corriam nosso campeão Emerson
Fittipaldi e o alemão Jochen Mass. Na Ferrari, a grande promessa
austríaca Niki Lauda e o ítalo-suíço Clay Regazzoni. Na Brabham, o
argentino Carlos Reutemann e nosso grande José Carlos Pace. Na
principiante Hesketh, pertencente a um lorde milionário, pilotava o
inglês James Hunt e na Shadow o francês Jean-Pierre Jarier.
Contudo, um rapaz franzino vindo do Canadá estreava em 1977 para chamar
muita atenção na Fórmula 1. O jovem de 27 anos, Joseph Gilles Henri
Villeneuve, havia nascido em 18 de janeiro de 1950 na pequena cidade de
Saint-Jean-sur-Richelieu, na província francesa de Québec. Dirigiu um
furgão pela primeira vez aos 11 anos e ficou maravilhado. Ganhou
autorização dos pais para conduzi-lo dentro da fazenda da família. A
partir desse momento, tudo o que se movesse por motor traria entusiasmo
a Gilles, até um cortador de grama transformado para correr mais.
Aos 16 anos ganhou de seu pai um MG A 1958
para se divertir. Na época, em que já morava na pequena cidade de
Berthierville, teve um sério acidente com o
Pontiac Grand Prix 1966
paterno. Não se machucou, mas o carro ficou imprestável. Na região muito
fria começou a se tornar íntimo das motoneves, semelhantes a jet skis,
mas voltadas ao uso sobre neve. Ganhou várias provas com esses veículos
e foi contratado pela empresa Skiroule para ser o piloto oficial. Mas
sonhava mais alto, pois lia com freqüência revistas européias e queria
participar de corridas de fórmulas monopostos.
Já em 1971 era contratado pela Motoski, que lhe pagaria um salário
melhor. Gilles já estava casado com Joann e o casal esperava seu
primeiro filho, Jacques. Sagrou-se campeão de Québec e também mundial na
classe até 440 cm³ em motoneve. No ano seguinte de 14 competições venceu
10, tornando-se bicampeão. Morava numa casa sobre rodas (motorhome) e se
deslocava com facilidade para as competições, mas quando não havia neve
a situação financeira se complicava. Foi aconselhado a tentar se impor
no esporte automobilístico.
Inscreveu-se na escola do famoso Jim
Russell, que preparava pilotos desde 1969 em Mont Tremblant, a noroeste
de Montreal. Além de Gilles, passaram por ela Emerson Fittipaldi, Jenson
Button e o próprio filho de Gilles, Jacques Villeneuve.
Apresentou-se num dia chuvoso e deu um show de pilotagem, o que
aconteceu também na segunda vez. Logo tirava a licença para correr na
Fórmula Ford local. Em 1973, de 10 corridas ganhou sete e se tornou
campeão. A família aumentava com a chegada da filha Melanie. Logo o
jovem piloto, já conhecido por sua rapidez e audácia, conseguia um March
com motor Ford para disputar o Campeonato de Fórmula Atlantic. Fez uma
temporada fraca por problemas em 1974, uma mediana em 1975 e uma ótima
em 1976, quando chamou a atenção da imprensa mundial.
Continua
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