Acima de qualquer limite


Desobedecendo às leis da Física,
o canadense Gilles Villeneuve brilhou,
mas teve abreviada sua carreira na F-1


Texto: Francis Castaings
Fotos: villeneuvef1.com/divulgação

Gilles quando campeão de Fórmula Ford em seu país (em cima), em 1973, e um ano depois na F-Atlantic, na qual ele correria por três anos

A estreia na Fórmula 1 pela McLaren, no GP inglês de 1977, chamou a atenção de um homem importante no cenário: comendador Enzo Ferrari

Villeneuve já na Ferrari, no GP de Long Beach de 1978, e após vencer a prova canadense do mesmo ano: a carreira na F-1 começava a decolar

Muito se fala sobre o futebol arte, o futebol jogado por atletas de talento incomum como o saudoso Manuel dos Santos, o Mané Garrincha. Ele protagonizou cenas inimitáveis, passos e passes de mestre, dribles incríveis e gols fenomenais. Fez a diferença. O mesmo se pode ver em alguns pilotos de corrida de automóvel, que protagonizam o espetáculo e o estado da arte ao dirigir. Desafiam os limites e regras em retas e curvas, no seco ou sob chuva. Arriscam sua vida e, infelizmente, alguns a perdem no esporte.

O italiano Tazio Nuvolari fez fama de piloto audaz na década de 1930. Outro que fazia a diferença nas pistas na época era o alemão Rudolf Caracciola. Na década de 1950 podem-se citar nomes como Juan Manuel Fangio e Stirling Moss. Na seguinte houve uma renovação com nomes de muito brilho como Phil Hill, Dan Gurney, Bruce McLaren, John Surtees, Graham Hill e Jack Brabham, mas o piloto da década era escocês: Jim Clark. Infelizmente morreu numa prova de Fórmula 2 em Hockenheim, na Alemanha, em abril de 1968.

Os anos 70 foram marcados por muitas mortes, mas também por talentos que até hoje são referência, como o escocês Jack Stewart, tricampeão mundial. Na metade da década, a equipe de Ken Tyrrell contava com o sul-africano Jody Scheckter e o francês Patrick Depailler; na Lotus de Colin Chapman estavam o sueco Ronnie Peterson e o belga Jacky Ickx. Pela McLaren, comandada por Teddy Mayer, corriam nosso campeão Emerson Fittipaldi e o alemão Jochen Mass. Na Ferrari, a grande promessa austríaca Niki Lauda e o ítalo-suíço Clay Regazzoni. Na Brabham, o argentino Carlos Reutemann e nosso grande José Carlos Pace. Na principiante Hesketh, pertencente a um lorde milionário, pilotava o inglês James Hunt e na Shadow o francês Jean-Pierre Jarier.

Contudo, um rapaz franzino vindo do Canadá estreava em 1977 para chamar muita atenção na Fórmula 1. O jovem de 27 anos, Joseph Gilles Henri Villeneuve, havia nascido em 18 de janeiro de 1950 na pequena cidade de Saint-Jean-sur-Richelieu, na província francesa de Québec. Dirigiu um furgão pela primeira vez aos 11 anos e ficou maravilhado. Ganhou autorização dos pais para conduzi-lo dentro da fazenda da família. A partir desse momento, tudo o que se movesse por motor traria entusiasmo a Gilles, até um cortador de grama transformado para correr mais.

Aos 16 anos ganhou de seu pai um MG A 1958 para se divertir. Na época, em que já morava na pequena cidade de Berthierville, teve um sério acidente com o Pontiac Grand Prix 1966 paterno. Não se machucou, mas o carro ficou imprestável. Na região muito fria começou a se tornar íntimo das motoneves, semelhantes a jet skis, mas voltadas ao uso sobre neve. Ganhou várias provas com esses veículos e foi contratado pela empresa Skiroule para ser o piloto oficial. Mas sonhava mais alto, pois lia com freqüência revistas européias e queria participar de corridas de fórmulas monopostos.

Já em 1971 era contratado pela Motoski, que lhe pagaria um salário melhor. Gilles já estava casado com Joann e o casal esperava seu primeiro filho, Jacques. Sagrou-se campeão de Québec e também mundial na classe até 440 cm³ em motoneve. No ano seguinte de 14 competições venceu 10, tornando-se bicampeão. Morava numa casa sobre rodas (motorhome) e se deslocava com facilidade para as competições, mas quando não havia neve a situação financeira se complicava. Foi aconselhado a tentar se impor no esporte automobilístico.

Inscreveu-se na escola do famoso Jim Russell, que preparava pilotos desde 1969 em Mont Tremblant, a noroeste de Montreal. Além de Gilles, passaram por ela Emerson Fittipaldi, Jenson Button e o próprio filho de Gilles, Jacques Villeneuve. Apresentou-se num dia chuvoso e deu um show de pilotagem, o que aconteceu também na segunda vez. Logo tirava a licença para correr na Fórmula Ford local. Em 1973, de 10 corridas ganhou sete e se tornou campeão. A família aumentava com a chegada da filha Melanie. Logo o jovem piloto, já conhecido por sua rapidez e audácia, conseguia um March com motor Ford para disputar o Campeonato de Fórmula Atlantic. Fez uma temporada fraca por problemas em 1974, uma mediana em 1975 e uma ótima em 1976, quando chamou a atenção da imprensa mundial. Continua

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Data de publicação: 24/2/09

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