

O aerofólio bem alto do Tipo 49
de 1967 lançou a aerodinâmica na F-1; embaixo o Tipo 72 preto e dourado
de 1972, dos melhores da categoria



A partir de cima, Chapman entre
os modelos Elan; linha Lotus nos anos 60 (Elan, Europa, F-Ford, F-3 e
motor de corridas) e o Esprit S2 de 1978

Uma das últimas fotos de
Chapman, que morreu em dezembro de 1982 |
Seu segundo sucesso, a que Chapman tinha especial apreço, foi o Tipo 14
ou Lotus Elite. O belo esportivo de linhas
aerodinâmicas, com estrutura monobloco
em plástico reforçado com fibra-de-vidro, fez tanto sucesso nas pistas
quanto nas mãos de jovens abastados, já que não era barato. Foram quase
750 até 1962. Enquanto isso, nas pistas, a Lotus obtinha sua primeira
vitória na Fórmula 1 graças ao jovem Stirling Moss. Foi em Monte Carlo
com o modelo 18, o primeiro Lotus monoposto com motor traseiro. Na linha
de produção o Elan substituía o Elite. Era
mais fácil de fabricar e menos oneroso. Seu chassi, chamado de backbone,
faria sucesso e seria empregado durante anos pela marca. Em 1963 Chapman
apresentava uma de suas primeiras revoluções na Fórmula 1: o Lotus 25,
com estrutura monocoque, que faria história não só na categoria, mas
também em outras. E começava a deixar muito construtor experiente
preocupado.
O "charutinho", muito bonito, era verde escuro — cor tradicional de
competição dos ingleses desde a Bentley em Le Mans — e tinha uma faixa
amarela central. Usava motor V8 Coventry Climax de 200 cv. Em 1964 havia
evoluído para o Lotus 33, com o qual o grande escocês Jim Clark ganhou
19 GPs de Fórmula 1, sagrando-se campeão em 1963 e 1965. Concorreu com
Ferrari, Porsche, BRM, Cooper e Brabham, estas duas últimas também com
motor Coventry Climax. Não satisfeito, Bruce atravessou o Atlântico para
testar o humor dos americanos em Indianápolis. Lá fez uso do modelo com
motor Ford V8 289 da linha Fairlane com 350 cv. Também ousou com o Lotus
Turbina, dotado de tração integral, linhas muito retas em cone e
aparência assustadora. Era rápido e chegou a bater recordes de voltas,
mas faltava resistência.
Em 1967 a Lotus tornava a ser uma equipe com chances de enfrentar o
campeonato com o modelo 49. Junto com Clark estava o grande Graham Hill,
pilotando o primeiro carro da F-1 a usar artefatos aerodinâmicos. O
enorme aerofólio traseiro, ainda sem regulamentação, chegou a voar em
algumas provas. Estava equipado com o novo e excelente motor V8 Ford
Cosworth DFV de 3,0 litros. Logo na primeira prova, na África do Sul, em
Kyalami, Clark ganhou e Hill tirou o segundo lugar. No ano seguinte
Clark morria num trágico acidente, sendo substituído por Jo Siffert.
Hill, apesar da séria concorrência, ganhou o campeonato com o Lotus
Ford. Na época Chapman inovava com o patrocínio de uma famosa marca de
cigarros, a Gold Leaf, em seus carros dourados e vermelhos. Uma versão
especial do Europa era lançada com as cores
do carro de pista.
Chegava a década de 1970 e os carros de Fórmula 1 estavam muito
arrojados. Os desenhistas eram originais e não copiavam uns aos outros
rapidamente como agora. E ocorria mais uma tragédia na categoria: o
jovem austríaco Jochen Rindt, que havia deixado a Brabham-Repco e
ingressado na Lotus em 1969, sofria acidente fatal em Monza. Venceu
postumamente o campeonato de 1970. No ano seguinte, à exceção de
Ferrari, Matra e BRM, todos usavam o motor Ford Cosworth DFV: Lotus,
Surtees, McLaren, Brabham, March e Tyrrel. Em 1972 a equipe de Colin
Chapman contava com nosso Emerson Fittipaldi e Dave Walker. O Lotus 72,
de linhas arrojadas e cor preta pelo patrocinador, demonstrou-se um dos
melhores carros da década e da história da F-1. Emerson ganhou em Jarama,
na Espanha, e faturou o campeonato para a Lotus. A cada prova vencida,
Chapman fazia voar o boné junto com a agitação da bandeira quadriculada.
Ganhou cinco das 12 provas do ano e o campeonato mundial.
No ano seguinte a disputa foi muito boa. A equipe dos homens de preto
ficou com o segundo lugar com Emerson e terceiro com o sueco Ronnie
Peterson. Vencia mais uma vez o Mundial de Construtores. Em 1974 a
equipe não foi bem na Fórmula 1: o modelo 72 começava a apresentar
sinais de cansaço. No campo doméstico era apresentado um novo Elite,
mais luxuoso e comportado. Em 1975 era a vez de um dos esportivos mais
longínquos da empresa: o Esprit,
que se tornaria mais famoso nos cinemas nas mãos de James Bond.
Alguns anos sem glórias se passaram até que, em 1978, o grande homem
fizesse barulho outra vez na Fórmula 1. O Lotus 79 tinha desenho baseado
numa asa invertida e que se aproveitava do efeito solo para obter
sustentação aerodinâmica negativa. O
carro era bonito e eficaz, mas os mandantes queriam banir as novidades.
Colin bateu o pé e, com argumentos firmes, conseguiu manter as
características originais do projeto. A Lotus ganhou o campeonato de
equipes e o de pilotos com o Ítalo-americano Mario Andretti; Peterson
foi o segundo. Em 1981 mais uma vez inovava com a invenção do chassi
duplo em seu modelo 88. A luta foi intensa com a Federação Internacional
do Automóvel (FIA), mas Chapman não venceu. Também estava com problemas
na produção de automóveis, que não vendiam bem, e em situação delicada
por causa de seu envolvimento com a
De Lorean. Era acusado de
receber dinheiro ilícito na sociedade, mas acabou inocentado.
Colin Chapman viu pela última vez seu carro cruzar em primeiro lugar nas
mãos do italiano Elio de Angelis, no GP da Áustria, em Zeltweg. Morreu
por um violento ataque cardíaco em 16 de dezembro de 1982 no Castelo de
Ketteringham Hall, sede da equipe Lotus. Foi um inglês pouco tradicional
e sempre inovador, muito criativo e sempre genial. O personagem Merlin,
do filme clássico de Walt Disney, era um bondoso mago que previa o
futuro. Tal como no desenho, na vida real Chapman por vezes esteve lá
muito adiante de outros. A empresa segue hoje produzindo esportivos
muito eficientes, como o Elise, o 2-Eleven e o Exige. Clive Chapman, seu
filho, dirige a Classic Team Lotus auxiliando aqueles que preservam o
legado desses carros geniais.
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