Ventos de mudança

Pioneiro na concepção mecânica que se padronizou na Volkswagen,
o Passat cresceu e ganhou sofisticação durante seis gerações

Texto: Fabrício Samahá - Fotos: divulgação

No primeiro Passat, as linhas funcionais de Giugiaro; havia versões de duas e quatro portas laterais e com tampa traseira ampla ou pequena

Os faróis podiam ser dois ou quatro, circulares ou retangulares; com bom espaço interno, o modelo inicial oferecia motores de 1,3 e 1,5 litro

Chamada de Variant como suas antecessoras, a perua era lançada um ano depois; a carroceria de cinco portas foi a única produzida para ela

Trinta e oito anos, seis gerações, oito países de produção. Duas, três, quatro ou cinco portas; motores de quatro, cinco, seis e oito cilindros; câmbios de quatro a sete marchas; uma infinidade de versões e opções. É, sem dúvida, muito vasto o currículo do Volkswagen Passat, o carro que em 1973 representou a decisiva mudança de concepção técnica da marca do "carro do povo", com o abandono da clássica configuração de motor boxer traseiro arrefecido a ar em favor da posição dianteira do motor e da tração, da refrigeração líquida e dos cilindros em linha.

Tudo talvez fosse diferente se a VW não tivesse absorvido, na década de 1960, duas empresas com conceitos técnicos bem diferentes dos seus. Ao adquirir a marca Audi e sua fábrica de Ingolstadt, na Bavária, em 1964, o fabricante de Wolfsburg assumiu os direitos sobre a Auto Union, a antiga associação de quatro marcas — Audi, DKW, Horch e Wanderer — representada pelo emblema de argolas ainda hoje em uso. A DKW havia sido uma das pioneiras no uso de tração dianteira, com o modelo F1 de 1931, e o primeiro modelo da nova era da Audi nada mais foi que uma evolução do DKW F102, com motor a quatro tempos em vez do tradicional dois-tempos e, claro, tração à frente.

A união da NSU de Neckarsulm, perto de Stuttgart, à Audi em 1969 foi outro passo decisivo para a mudança de conceitos na VW. A empresa, bastante lembrada pelo avançado sedã Ro 80 de motor rotativo, havia desenvolvido um carro médio com propulsor dianteiro refrigerado a água e tração à frente, o projeto K 70. Consta que sua apresentação já estava marcada para o Salão de Genebra, em março daquele ano, quando Wolfsburg assumiu o comando e deu novos rumos ao projeto. O K 70 seria lançado só um ano depois com a marca VW, tornando-se o primeiro modelo da empresa com a configuração a que o Passat daria projeção.

O fabricante do Fusca tinha real necessidade de rever conceitos. Seus últimos projetos com motor traseiro "a ar", como o 411/412 (tipo 4) lançado em 1968, estavam pagando o preço da rejeição do mercado a uma fórmula ultrapassada, que já não atendia aos anseios de um público mais exigente. Os tempos eram outros e as virtudes que o besouro havia demonstrado no passado, como simplicidade de manutenção e resistência a altas temperaturas, não mais se mostravam suficientes.

Com o desenvolvimento de um novo carro médio pela Audi, que o lançaria em 1972 como 80, a VW decidiu oferecer um modelo semelhante com seu próprio logotipo. O nome alemão para vento alísio foi escolhido para o resultado do projeto EA-400 (Entwicklungs-Auftrag, ordem de desenvolvimento em alemão): Passat.

Ao ser apresentada, em julho de 1973, sua primeira geração — identificada como Typ ou tipo 32 e pelo código de plataforma B1 — podia dar a sensação de algo já conhecido: o desenho do italiano Giorgetto Giugiaro era o mesmo do Audi 80 até a região central, enquanto a traseira seguia o formato fastback em vez dos três volumes do modelo de Ingolstadt. O mesmo perfil de carroceria atendia a quatro versões: as de duas e quatro portas, com tampa de porta-malas menor, e as de três e cinco portas, em que a tampa levava junto o vidro traseiro, dentro do conceito hatchback. As linhas retas habituais a seu tempo traziam amplos vidros, para-choques simples de lâmina de aço e três opções de faróis — dois retangulares, dois circulares ou quatro circulares de menor diâmetro — conforme a versão.

Com 4,19 metros de comprimento, 1,60 m de largura, 1,36 m de altura, 2,47 m de distância entre eixos e peso a partir de 860 kg, o Passat era um típico carro médio de sua época e um dos mais modernos da categoria. Além de seguir a tendência pela tração dianteira, adotava conceitos modernos de suspensão, como o eixo traseiro de torção e o raio de rolagem negativo na dianteira. A posição longitudinal do motor ainda era a mais comum na classe — mas isso mudaria em gerações subsequentes.

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Data de publicação: 11/2/12

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