A quarta das argolas

Bem antes que a Audi usasse o clássico emblema, houve um fabricante
alemão de carros avançados que terminou nos anos 40: a Wanderer

Texto: Fabrício Samahá - Fotos: divulgação

Uma moto Wanderer de 1906 e o modelo W3 "Puppchen", apelido dado à série de carros econômicos, alguns deles com dois lugares em fila

A linha W10 vinha maior e trazia freios em todas as rodas; o motor de 1,6 litro com válvulas no cabeçote e 30 cv permitia máxima de 85 km/h

O primeiro motor de seis cilindros da Wanderer vinha na série W11, de 1928; acima um conversível de duas portas e o modelo turismo, maior

O emblema hoje usado pela Audi — e que também esteve, de início, à frente de nossos DKW-Vemags — não tem quatro argolas à toa. Muito tempo atrás ele representava a Auto Union, associação formada em 1932 por quatro marcas alemãs: a própria Audi, a DKW, a Horsh e a Wanderer.

A Wanderer (nome que significa viajante em alemão) estabeleceu-se em Chemnitz, na Saxônia, em fevereiro de 1885 e começou produzindo bicicletas, de início sob a designação Winklhofer & Jaenicke — o nome Wanderer seria adotado dois anos depois. Passou a fazer motos em 1902 e, dois anos mais tarde, iniciou os testes para produzir um automóvel. Seu primeiro modelo, designado como W1 5/12 PS e conhecido como Puppchen (pequena boneca em alemão), era um conversível pequeno e econômico lançado ao mercado em 1913. Podia ter dois lugares um atrás do outro, o que explicava que as duas portas viessem do mesmo lado esquerdo, sem nenhuma à direita, ou ambos à frente, neste caso com uma só porta à esquerda. Media apenas 3,10 metros de comprimento, 1,33 m de largura, 1,42 m de altura e 2,25 m de distância entre eixos.

Com o estilo simples de "calhambeque" tão usual na época, usava um motor de quatro cilindros e 1.147 cm³ com válvulas laterais e potência de 12 cv (por isso a designação 12 PS, esta a sigla germânica para cavalo-vapor), suficiente para levar seus 500 kg a uma velocidade máxima de 70 km/h. O número 5 de seu nome refletia a potência fiscal, usada para enquadramento tributário. O câmbio manual tinha três marchas, com tração traseira, e o sistema elétrico já era de 12 volts. Já no ano seguinte ele evoluía para o W2 5/15 PS, com cilindrada aumentada para 1.222 cm³ e 3 cv adicionais, e em 1914 para o W3 5/15 PS, de 1.286 cm³ e mesma potência. O W3 trazia a novidade dos três lugares, dois à frente e um atrás, aumentando o comprimento para 3,25 m e o entre-eixos para 2,39 m. Após a Primeira Guerra Mundial, em 1919, era lançado o W4 5/15 PS, de quatro lugares e que obtinha 17 cv do motor de 1.306 cm³ dotado de válvulas no cabeçote (o comando ainda estava no bloco). A última evolução foi o W8 5/20, com 20 cv extraídos da mesma unidade do W4, para chegar a 78 km/h com seus 850 kg.

O êxito da "bonequinha" levou a empresa a manter a linha em produção por 11 anos. Outro modelo dos mais relevantes chegava em 1926, o Wanderer W10 6/30 PS. Era um carro maior, com dois ou quatro lugares, 4,30 m de comprimento, 1,50 m de largura, 1,80 m de altura e 2,80 m entre os eixos, e que pesava 1.100 kg na versão básica. Enquanto o motor de quatro cilindros com válvulas no cabeçote, 1.551 cm³ e 30 cv o levava a 85 km/h, ele trazia as últimas soluções aplicadas aos automóveis: volante do lado esquerdo (até então a colocação à direita era comum), alavanca de câmbio no centro da cabine, porta-malas separado com acesso por dentro, freios nas quatro rodas. As suspensões tradicionais usavam eixos rígidos e molas semielíticas e a tração continuava traseira. O modelo evoluía já no ano seguinte para o W10 8/40 PS, em que o motor de 1.940 cm³ desenvolvia 40 cv e o levava a 95 km/h. Empresas como a Gläser-Karosserie de Dresden e a Reutter de Stuttgart forneciam carrocerias para montagem sobre o chassi e agora havia uma opção conversível de duas portas.

A bem-sucedida linha W10 justificou a construção de outras instalações no distrito de Siegmar, na mesma cidade de Chemnitz. Os componentes feitos na antiga fábrica eram mandados de trem para a nova e, tão logo descarregados, eram aplicados aos carros em montagem — uma espécie de sistema just-in-time na década de 1920! Uma renovada versão 6/30 PS do W10 chegava em 1930 em resposta aos tempos difíceis trazidos pela quebra de bolsa de valores de Nova York em 1929, que haviam derrubado as vendas de carros mesmo na Europa. Além do motor menor, o sistema elétrico regredia para o de seis volts para reduzir custos; por outro lado aparecia um modelo alongado em 20 centímetros, o Laudaulet, com quatro lugares normais e dois pequenos bancos adicionais. Com peso de 1.450 kg, o desempenho do 1,6-litro nessa versão estava longe de ser satisfatório, mas não se exigia muito naqueles tempos de recessão.

Ainda nos anos 20, a linha Wanderer crescia com a fabricação paralela de modelos como o W11 10/50 PS, um carro mais luxuoso lançado em 1928 com o primeiro motor de seis cilindros em linha da empresa. Com 2.540 cm³, válvulas no cabeçote e 50 cv, permitia atingir 90 km/h e dava elevado conforto com a maciez de funcionamento inerente a essa configuração. A alavanca do câmbio manual de três marchas vinha no assoalho. Esse topo de linha da marca alemã media 4,60 m de comprimento, 1,72 m de largura, 1,85 m de altura e 2,92 m entre eixos e pesava 1.320 kg. Havia cinco opções de carroceria: sedã de quatro portas, carro de turismo (aberto) de quatro lugares, roadster e conversível de duas portas — o primeiro com perfil mais esportivo que o segundo — e o Pullman Limousine de quatro portas, que media 17 centímetros a mais. Uma revisão na linha em 1930 dava-lhe caixa de quatro marchas, entre-eixos ampliado para 3 m e novas carrocerias feitas por empresas como Daimler-Benz (ela mesma, a fábrica dos Mercedes), Glaser e Reutter. Continua

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Data de publicação: 13/4/10

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