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Quatro portas e um tridente

Em cinco gerações, o Maserati Quattroporte atravessou em
grande estilo os muitos percalços por que passou a marca

Texto: Fabrício Samahá - Fotos: divulgação

Fundada em 1926 pelos irmãos Alfieri, Ettore, Bindo e Ernesto Maserati, a empresa que levava tal sobrenome não começou pelos carros de rua: antes deles, produziu modelos de competição vitoriosos, como o 250F que venceu o Campeonato Mundial de Grandes Prêmios (a Fórmula 1 da época) em 1954 e 1957 nas mãos de Juan Manuel Fangio. Só em 1947 surgia o A6, o primeiro Maserati "civil", que 10 anos mais tarde dava lugar ao 3500 GT. Era possível perceber ali uma tendência: a de buscar segmentos de mercado mais refinados, com carros de luxo que não deixassem de lado a esportividade.

O caminho até um sedã, porém, não seria tão simples. Consta ter havido intermináveis discussões entre o comendador Adolfo Orsi, à frente da empresa desde 1938 e favorável à proposta, e seu filho (também chamado Adolfo), contrário à idéia. Finalmente, no Salão de Turim em novembro de 1963 era lançado o Quattroporte, cujo nome em italiano indicava sua primazia dentro da marca: era um sedã de quatro portas, não mais um cupê ou um conversível como todos os Maseratis feitos até então.

O desenho de Pietro Frua para o cupê 5000 GT (foto) foi a base para o projeto do Quattroporte, com os faróis retangulares em destaque em relação à grade protuberante

Desenhado por Pietro Frua, exibia um desenho interessante, com a cabine recuada e um tanto compacta em relação aos longos capô e porta-malas. Os faróis retangulares estavam mais altos e em destaque, enquanto a grade ovalada ficava protuberante. Nota-se grande semelhança de estilo com as apenas três carrocerias produzidas por Frua para o cupê 5000 GT, com motor V8 de 5,0 litros e 340 cv (o modelo teve no total 34 unidades, incluídas as feitas por Pinin Farina, Monterosa, Ghia, Allemano e Carrozzeria Touring). A construção da carroceria do Quattroporte cabia à empresa Maggiora, de Turim, enquanto a Vignale fazia a pintura e a montagem.

O luxuoso interior tinha bom espaço para cinco pessoas, com bancos dianteiros individuais reclináveis e o nobre acabamento em couro Connolly. Os vidros, bastante curvos para a época, contavam com controle elétrico e havia opção de ar-condicionado. O completo painel era dotado de conta-giros, amperímetro, manômetro e termômetro de óleo e o volante, como habitual nos esportivos da época, usava aro de madeira e três raios metálicos. A chave de ignição e partida era inserida no painel à esquerda do volante.

O estilo elegante e de sutil esportividade do Quattroporte vinha associado a um interior luxuoso, com painel completo, volante de madeira e bancos de couro Connolly

O Tipo 107, codinome do projeto, vinha competir em uma classe de grande prestígio ao lado dos ingleses Lagonda Rapide (cuja marca pertencia à Aston Martin desde 1947) e Jaguar Mark X e do francês Facel Vega Excellence. Para tanto, recebeu um motor V8 de 4,1 litros com duplo comando de válvulas e quatro carburadores Weber de corpo duplo, derivado da unidade de competição (de 430 cv a 8.000 rpm) do Maserati 450 S do fim da década de 1950. Recalibrado para um funcionamento mais dócil em baixa rotação, gerava potência de 260 cv a 5.000 rpm e torque de 40 m.kgf a 3.000 rpm. Estava bem situado diante dos concorrentes, pois o Lagonda usava um seis-cilindros de 4,0 litros e 240 cv; o Jaguar, outro "seis" de 3,8 litros e 265 cv; e o Facel, um V8 de 4,8 litros e 250 cv.

Com opção entre câmbio manual ZF de cinco marchas e automático Borg-Warner de três, o Quattroporte acelerava de 0 a 100 km/h em oito segundos e atingia 230 km/h, velocidade máxima das mais elevadas para um sedã a seu tempo. Era um carro respeitado nas estradas de alta velocidade da Europa. Possuía tração traseira, freios a disco nas quatro rodas, pneus radiais Pirelli Cinturato em medida 205 VR 15, diferencial autobloqueante e direção assistida (os dois últimos como opcional). Podia vir ainda com uma relação de eixo traseiro 15% mais curta, para ganhar em aceleração com prejuízo da velocidade máxima.
Continua

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Data de publicação: 3/2/07

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