Em dezembro, na linha 1961, era apresentada a versão Super Luxe. Trazia rodas com calotas e sobre-aros, antena de teto, bancos revestidos em couro, apoio de braço central, teto solar e contorno cromado dos faróis e das molduras dos vidros. O aspecto geral melhorava. Os bancos dianteiros dessa versão reclinavam-se e, com os encostos quase na horizontal, somavam-se aos assentos traseiros para compor duas camas razoáveis. Naqueles tempos, dormir à beira de estradas e nos estacionamentos de postos — chamados lá de estações de serviço — era comum e seguro.

O desempenho do 404 era adequado com o motor de 1,6 litro e 72 cv, mas a versão com injeção e 88 cv destacava-se no cenário das estradas francesas

O 404 era um carro bonito, mas também muito robusto, uma tradição da marca. Em sua categoria, na França, concorria com o Citroën ID 19, a linha Simca Chambord/Vedette e o Renault Frégate em final de produção. Visava ao mercado americano e um acordo de exportação de produtos Peugeot já havia sido homologado em 1958. Logo foi exportado. A propaganda nos Estados Unidos o mostrava ao lado de um ferro velho, com o título: "Chame-me de indestrutível!"

O motor de quatro cilindros, em posição longitudinal e inclinado a 45°, tinha 1.618 cm³ de cilindrada, potência de 72 cv a 5.400 rpm e torque máximo de 13,5 m.kgf a 2.250 rpm. O bloco era em ferro fundido e o cabeçote em alumínio, com câmaras de combustão hemisféricas. Era alimentado por um carburador Solex em posição invertida e trazia o comando de válvulas no bloco. O conjunto levava o sedã a 145 km/h, velocidade máxima razoável para a categoria. Tinha câmbio de quatro marchas, todas sincronizadas, com alavanca na coluna de direção e tração traseira.
Continua

Os discretos rabos-de-peixe mostram que a Peugeot estava atenta às tendências americanas de estilo, também aplicadas a outros modelos europeus
Nas telas
Em Trafic, de 1971, o impagável Senhor Hulot (Jacques Tati) e seu mecânico (Tony Knepper) fazem uma tremenda sátira ao trânsito em geral. Esta comédia é muito atual, pois o tráfego nas grandes cidades só piora. Neste filme muito interessante há cenas satíricas no Salão de Paris. No estande da Peugeot, um atendente esmera-se na limpeza de um 404 preto de quatro portas. Nas cenas de rua podemos ver vários 404 também. Os detalhes do comportamento dos motoristas dentro dos carros, gestos e olhares são de tirar qualquer pessoa do sério.

O Dia do Chacal (The Day of the Jackal, 1973), com Edward Fox e Michel Auclair, foi o primeiro e melhor filme a tratar do temido terrorista Carlos Chacal. A trama se passa em 1962 e 1963, sobretudo na França e na Itália. Quando o Chacal sai da Itália, percorre os Alpes franceses a bordo de um Alfa Romeo Giulietta Sprint conversível branco. Por necessidade de disfarce, ele o pinta de azul escuro. Momentos depois envolve-se num acidente com um 404 branco 1963 (acima) e deixa marcas de tinta no pára-lama esquerdo traseiro. O Peugeot sofre pouco com o abalroamento. Já o Alfa... Fazendo um bloqueio de estrada, para tentar interceptar o Chacal após o acidente, a polícia francesa usa várias peruas 404. Suspense do princípio ao fim em um ótimo filme policia, histórico em todos os sentidos. Foi imitado por outros dois, que não conseguiram o mesmo brilho.

Charada (Charade, 1963) traz um elenco de grandes estrelas do cinema da época: Cary Grant (como Peter Joshua), a bela

Audrey Hepburn (Regina 'Reggie' Lampert), Walter Matthau (H. Bartholemew), James Coburn (Tex Panthollow) e George Kennedy. Numa mistura de comédia romântica, policial e suspense, o filme quase todo é passado em Paris. E nesta bela cidade, numa cena, Grant sai a bordo de um 404 táxi. Instantes depois, Hepburn também entra no mesmo modelo, de outra cor. Ótimo filme.

É raro vermos um carro francês num filme passado nos Estados Unidos, mas em Crown, o Magnífico (The Thomas Crown Affair, 1968) aparece um 404 de 1962 em frente a um banco de uma pequena cidade. Este ótimo policial foi estrelado por Steve McQueen e Faye Dunaway.

No hilariante As Aventuras de Rabi e Jacó (Les Aventures de Rabbi Jacob, 1973), a perua 404 está presente em várias cenas. É a história de um pai de família muito correto, mas racista. Indo ao casamento da filha, Victor, interpretado pelo grande comediante francês Louis de Funès, desmascara um grupo de revolucionários árabes, mas para seu desespero é descoberto. Logo disfarça-se de Jacob e se mete em encrencas muito engraçadas.

No ótimo seriado Persuaders, rodado na Europa entre 1971 e 1972, o Peugeot foi presença constante. Na série um modelo prata 1966 (acima) aparece em vários dos 24 episódios da série estrelada por Roger Moore (Brett Sinclair), Tony Curtis (Daniel Wilde) e Laurence Naismith (Fulton). Em cada episódio apareciam lindas mulheres, belas paisagens européias e belos carros.

Para ler
La Peugeot 404 de Mon Pére - por Dominique Pagneux, editora ETAI. É parte de uma famosa coleção na França, que homenageia carros das décadas de 1950 e 1960, sempre intitulada "O carro de meu pai". Publicado em 2000, traz 120 páginas com informações técnicas precisas, belas fotos de época e vários raios X das diversas versões da linha 404. Uma obra completa. Les Archives du Collectionneur - Revue Technique - editora ETAI. Para quem deseja restaurar e gosta de manutenção detalhada, os "arquivos do colecionador" fornecem muitos dados dos carros da família 404. Não faltam desenhos detalhados, tanto mecânicos quanto do interior do automóvel, e belas fotos de época. Para quem gosta de desmontar e remontar um carro com critério.

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