Irmãos coragem

Com uma configuração rara na marca — o motor central-traseiro —, os
Maseratis Bora e Merak superaram um período de grande turbulência

Texto: Fabrício Samahá - Fotos: RM Auctions e divulgação



Foto: RM Auctions

Um esboço das linhas do Bora, em grande parte mantidas no modelo final, e a assinatura de Giugiaro em sua então recém-fundada ItalDesign

Faróis escamoteáveis eram tendência; sobre o motor central-traseiro vinha um grande capô que incluía o vidro traseiro e vigias nas laterais

A aquisição pela Citroën, em 1968, trouxe um novo rumo para a Maserati, a marca fundada em 1914 pelos irmãos Alfieri. Enquanto a empresa italiana enfrentava graves dificuldades financeiras, a francesa via nessa compra o acesso a novas tecnologias e a um motor V6 que seria usado em seu novo topo de linha, o cupê SM, a ser lançado dois anos mais tarde.

Tão logo a absorção se concretizou, o administrador Guy Malleret sugeriu ao engenheiro Giulio Alfieri que projetasse um modelo esporte de dois lugares com motor central, posição que a Maserati ainda não havia aplicado a um carro de rua. Desde o lançamento do Lamborghini Miura, em 1966, os fabricantes com ênfase no desempenho vinham dedicando especial atenção a essa disposição mecânica.

Aprovado o projeto, a tarefa de desenhar o estilo do novo carro foi entregue ao estúdio ItalDesign — fundado no mesmo ano, 1968, por um talentoso jovem italiano chamado... Giorgetto Giugiaro. Segundo a encomenda, o automóvel deveria ser "claramente um Maserati: moderno, mas sem o aspecto exótico que decorações desnecessárias podem criar; muito esportivo, mas não agressivo demais; inovador, mas não revolucionário". O resultado do projeto Tipo 117 era apresentado ao público em março de 1971 no Salão de Genebra com o nome Bora (pronuncia-se borá), de um vento frio e violento que sopra do norte da Europa.

E Giugiaro fez um belo trabalho, pois o novo Maserati agradava de qualquer ângulo e, sem excessos de desenho, ainda hoje mostra linhas harmoniosas. Na carroceria predominavam os traços retos habituais dos desenhos do projetista italiano, mas com curvas na medida certa para o contraponto. A frente baixa usava faróis escamoteáveis, com comando hidráulico, e a coluna central larga conferia solidez ao estilo. O vidro traseiro estava muito próximo da horizontal e formava, com os vidros laterais e parte dos para-lamas, um grande conjunto que se abria para trás para acesso ao motor. Detalhe peculiar era que o teto e as colunas dianteiras vinham em aço inoxidável polido, sem pintura.

O interior do Bora mostrava o acabamento luxuoso típico dos carros esporte refinados italianos, com revestimento em couro, ar-condicionado e instrumentação completa, que incluía voltímetro, manômetro e termômetro de óleo. Ao tentar ajustar a posição de dirigir para seu biótipo, o motorista tinha uma surpresa: o banco não admitia regulagem para frente e para trás. Em vez disso, o volante — com três raios metálicos — era ajustável em altura e distância e, pela primeira vez em um carro de produção, o conjunto de pedais podia ser movido mais para perto ou para longe do condutor, em 75 mm, por meio de um sistema hidráulico.

A proposta de Alfieri para o uso do motor central no Bora encontrava oposição dentro de casa: a de seu piloto de testes Guerrino Bertocchi, de longa data um apreciador de carros com motor dianteiro, como o Ghibli da própria Maserati. Como conta Jan P. Norbye em seu livro Maserati Bora & Merak, o piloto "era hostil à ideia de um carro grã-turismo com motor central, e passou a demonstrar a jornalistas que sua velocidade em curva era apenas a mesma do Ghibli. Ele preferia esse modelo, sentindo-se confortável com o grande motor e o longo capô a sua frente, enquanto no Bora se sentava mais próximo da estrada e muito mais perto da frente do carro". Continua

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Data de publicação: 27/8/11

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