Tesouro relapidado

Com o Mark III e seus sucessores, a Lincoln criou um adendo à
história do Continental para recuperar o estilo de um clássico

Texto: Fabiano Pereira - Fotos: divulgação

Faróis escamoteáveis, grade ao estilo greco-romano, largas colunas e o estepe continental: o estilo do Mark III transmitia luxo e imponência

Painel com mostradores quadrados, ajuste elétrico dos bancos e outros refinamentos em um grande cupê, movido pelo motor V8 de 7,5 litros

Nem sempre conseguimos valorizar ou aproveitar todo o potencial de nossas melhores ideias. No mundo do automóvel, não são poucas as histórias de carros com grandes criações desperdiçadas por circunstâncias sociais, econômicas, do mercado automotivo ou do próprio marketing do fabricante. O Lincoln Continental Mark III 1968 se enquadra no último caso, o da ideia que causa comoção no público, desperta desejos e repercussão, mas acaba se perdendo com o tempo e, quando recuperada, parece deslocada. O Mark III era a segunda tentativa da Lincoln de recuperar a aura do Continental original de 1940.
 
É bem provável que a Lincoln não soubesse calcular as consequências de, mais uma vez, deixar para trás sua mais prestigiada criação quando tirou de linha o Continental Mark II, em 1957. Afinal, ele homenageava com seu estilo e exclusividade o modelo de maior impacto da marca, tanto no mercado quanto culturalmente, o clássico de 17 anos antes.
 
Enquanto os Estados Unidos viviam a fase de maior ebulição social e cultural de sua história, na década de 1960, as duas mais sofisticadas gerações desse clássico sobreviviam apenas na memória de seus admiradores. Ainda que o nome Continental fosse mantido, ele estava desvirtuado num modelo com outra proposta. Passada uma década da eliminação do Mark II, ainda faltava à linha Lincoln um toque, se não de esportividade, de sofisticação mais particular que a do familiar e um tanto diplomático (no sentido de carro oficial mesmo) Continental dos anos 60.
 
Pela segunda vez, a divisão de luxo da Ford decidiu resgatar da aura de seu maior clássico para 1968. O Continental não saiu de linha — a Lincoln criou uma situação inusitada, uma bifurcação em sua linha de produtos. Havia o Continental nas versões sedã e cupê hardtop e agora esse segundo cupê, mais curto e bem distinto no estilo, o Continental Mark III.
 
O nome completo já havia sido adotado em 1958 para identificar o sucessor do clássico Mark II. Já o novo modelo, 10 anos mais tarde, retomava a tradição dos primeiros Continentals de duas portas e estepe continental — aquele montado de pé no porta-malas, formando uma saliência em sua tampa. Se a quarta geração de 1961 fora um outro grande sucesso, faltava a ela qualquer ligação com o estilo tão característico dos dois nobres antepassados homônimos. Sua versão sedã hardtop era a mais vendida e o cupê hardtop tratou de obscurecer ainda mais o interesse pelo conversível de quatro portas, produzido até 1967.
 
Se o Mark III de 1958 marcou uma completa ruptura no estilo clássico do Continental, o Mark III de 1968 tratou de trazê-lo de volta em uma releitura moderna, um cupê hardtop de quatro lugares. A partir dali, a história do Lincoln Continental se dividiria em dois modelos à parte. O "sobrenome" Mark logo passou a identificar o modelo mais novo, primeiro informal e mais tarde oficialmente. Mais que o estilo clássico dos primeiros Continentals, o Mark III 1968 recuperou a noção de exclusividade desses modelos, pelo nível de equipamentos, de acabamento e, sim, pelo preço. Lançado em 5 de abril de 1968, ele era o produto mais caro oferecido pela Ford.
 
Visualmente, o Continental Mark III aparentava o luxo que seu preço fazia supor. A frente media nada menos que 1,83 metro de comprimento, maior até que a do Mark II. A grade era retangular e bem centralizada, projetada na dianteira e criando um desnível no capô. A exemplo dos Rolls-Royces, lembrava um palácio greco-romano. Os faróis duplos escondidos eram um modismo da época, mas no Mark III eles vinham cobertos por uma cobertura escamoteável na cor do carro, parecendo parte da carroceria.

As colunas traseiras largas e revestidas pela mesma lona do teto conferiam elegância e sobriedade ao cupê. Na traseira, as lanternas verticais eram discretas. O destaque era mesmo a imitação de ressalto para o estepe na tampa do porta-malas, que casava com as luzes junto à placa traseira. Com 2,98 metros, ele era 22,3 cm mais curto entre os eixos que os demais Lincolns. A base mecânica era a mesma do Ford Thunderbird, mas Lee Iacocca, então vice-presidente da Ford, exigiu cuidados para distinguir o modelo pelo desenho. Continua

 

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Data de publicação: 18/12/10

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