

Faróis escamoteáveis, grade ao
estilo greco-romano, largas colunas e o estepe continental: o estilo do
Mark III transmitia luxo e imponência


Painel com mostradores
quadrados, ajuste elétrico dos bancos e outros refinamentos em um grande
cupê, movido pelo motor V8 de 7,5 litros |
Nem
sempre conseguimos valorizar ou aproveitar todo o potencial de nossas
melhores ideias. No mundo do automóvel, não são poucas as histórias de
carros com grandes criações desperdiçadas por circunstâncias sociais,
econômicas, do mercado automotivo ou do próprio marketing do fabricante.
O Lincoln Continental Mark III 1968 se enquadra no último caso, o da
ideia que causa comoção no público, desperta desejos e repercussão, mas
acaba se perdendo com o tempo e, quando recuperada, parece deslocada. O
Mark III era a segunda tentativa da Lincoln de recuperar a aura do
Continental original de 1940.
É bem provável que a Lincoln não soubesse calcular as consequências de,
mais uma vez, deixar para trás sua mais prestigiada criação quando tirou
de linha o Continental Mark II, em 1957. Afinal, ele homenageava com seu
estilo e exclusividade o modelo de maior impacto da marca, tanto no
mercado quanto culturalmente, o clássico de 17 anos antes.
Enquanto os Estados Unidos viviam a fase de maior ebulição social e
cultural de sua história, na década de 1960, as duas mais sofisticadas
gerações desse clássico sobreviviam apenas na memória de seus
admiradores. Ainda que o nome Continental fosse mantido, ele estava
desvirtuado num modelo com outra proposta. Passada uma década da
eliminação do Mark II, ainda faltava à linha Lincoln um toque, se não de
esportividade, de sofisticação mais particular que a do familiar e um
tanto diplomático (no sentido de carro oficial mesmo) Continental dos
anos 60.
Pela segunda vez, a divisão de luxo da Ford decidiu resgatar da aura de
seu maior clássico para 1968. O Continental não saiu de linha — a
Lincoln criou uma situação inusitada, uma bifurcação em sua linha de
produtos. Havia o Continental nas versões sedã e cupê
hardtop e agora esse segundo cupê, mais
curto e bem distinto no estilo, o Continental Mark III.
O nome completo já havia sido adotado em 1958 para identificar o
sucessor do clássico Mark II. Já o novo modelo, 10 anos mais tarde,
retomava a tradição dos primeiros Continentals de duas portas e estepe
continental — aquele montado de pé no porta-malas, formando uma
saliência em sua tampa. Se a quarta geração de 1961 fora um outro grande
sucesso, faltava a ela qualquer ligação com o estilo tão característico
dos dois nobres antepassados homônimos. Sua versão sedã hardtop era a
mais vendida e o cupê hardtop tratou de obscurecer ainda mais o
interesse pelo conversível de quatro portas, produzido até 1967.
Se o Mark III de 1958 marcou uma completa ruptura no estilo clássico do
Continental, o Mark III de 1968 tratou de trazê-lo de volta em uma
releitura moderna, um cupê hardtop de quatro lugares. A partir dali, a
história do Lincoln Continental se dividiria em dois modelos à parte. O
"sobrenome" Mark logo passou a identificar o modelo mais novo, primeiro
informal e mais tarde oficialmente. Mais que o estilo clássico dos
primeiros Continentals, o Mark III 1968 recuperou a noção de
exclusividade desses modelos, pelo nível de equipamentos, de acabamento
e, sim, pelo preço. Lançado em 5 de abril de 1968, ele era o produto
mais caro oferecido pela Ford.
Visualmente, o Continental Mark III aparentava o luxo que seu preço
fazia supor. A frente media nada menos que 1,83 metro de comprimento,
maior até que a do Mark II. A grade era retangular e bem centralizada,
projetada na dianteira e criando um desnível no capô. A exemplo dos
Rolls-Royces, lembrava um palácio greco-romano. Os faróis duplos
escondidos eram um modismo da época, mas no Mark III eles vinham
cobertos por uma cobertura escamoteável na cor do carro, parecendo parte
da carroceria.
As colunas traseiras largas e revestidas pela mesma lona do teto
conferiam elegância e sobriedade ao cupê. Na traseira, as lanternas
verticais eram discretas. O destaque era mesmo a imitação de ressalto
para o estepe na tampa do porta-malas, que casava com as luzes junto à
placa traseira. Com 2,98 metros, ele era 22,3 cm mais curto entre os
eixos que os demais Lincolns. A base mecânica era a mesma do
Ford Thunderbird, mas
Lee Iacocca, então
vice-presidente da Ford, exigiu cuidados para distinguir o modelo pelo
desenho.
Continua
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