A
Ford norte-americana tinha uma grande novidade em sua linha 1955.
Tratava-se do Thunderbird,
anunciado como um "carro pessoal", com o qual a empresa respondia ao
lançamento do Chevrolet Corvette,
dois anos antes. Algo ofuscado pelo "pássaro trovão", porém, estava
outro modelo estreante da marca: o Fairlane.
Denominado em alusão a Fair Lane, a requintada casa de Henry Ford em Dearborn
(Michigan), cidade-sede
da empresa nas cercanias de Detroit, o novo modelo assumia o topo da
linha da divisão Ford em substituição à série Crestline. E chegava no
momento de uma renovação de estilo de seus carros, que assumiam uma
ampla grade dianteira, para-brisa envolvente e pequenas aletas ("rabos
de peixe") nos para-lamas traseiros.
A gama de carrocerias incluía Club Sedan de duas portas, Crown Victoria,
Town Sedan (único a ter quatro portas), Convertible e Sunliner (ambos conversíveis). O Crown Victoria era atração à parte: um sedã
hardtop de duas portas com duas opções
de teto, uma toda de aço e outra com parte em plástico transparente,
solução já vista em 1954 no Crestline Skyliner. Uma faixa cromada
transversal ligava por cima as colunas centrais de cada lado. Apesar da
interessante ideia de L. David Ash, projetista responsável pelos
carros-conceito
X-100 e Mystere, a versão — em geral vendida com acabamento luxuoso
e pintura em dois tons — não teve êxito e sairia de linha após dois
anos-modelo.
Os Fairlanes eram oferecidos com dois motores: o de seis cilindros em
linha, 223 pol³ (3,7 litros) e 120 cv e o inédito V8 de "bloco pequeno"
da série Y, de 272 pol³ (4,5 litros), com 162 ou 182 cv. Tanto o câmbio
manual quanto o automático Ford-O-Matic tinham três marchas e, no caso
deste último, era novo o recurso do kick-down: bastava acelerar até o
fim do curso para provocar uma redução de marcha. A concepção técnica do
carro era tradicional, com carroceria sobre chassi, tração traseira,
suspensão independente à frente e por eixo rígido atrás, freios a
tambor.
O sedã com motor V8 e caixa automática foi avaliado pela revista
Popular Mechanics, que destacou vários atributos: "O
comportamento e a estabilidade estão melhores que os de qualquer Ford
que já dirigimos, e comparam-se favoravelmente com qualquer carro
testado. A suspensão dianteira é uma revelação. Há muito pouca rolagem
em curvas e a estabilidade do carro, sob quase qualquer condição de
estrada, é excelente. A caixa automática é suave em operação e quase
imperceptível. O acabamento interno é o mais refinado já oferecido pela
Ford, e igual ou melhor que o de alguns carros mais caros".
A linha 1956 trazia novidades como o Town Victoria, um hardtop
disponível com duas ou quatro portas; lanternas traseiras ampliadas e
motores mais potentes. O seis-cilindros passava a fornecer 137 cv. A
linha Y ganhava a opção de 292 pol³ (4,8 litros), com carburador de
corpo duplo e 200 cv, enquanto um V8 maior de 312 pol³ (5,1 litros)
estava disponível com 215 cv.
No ano seguinte vinham mudanças mais abrangentes. A carroceria era
redesenhada com certa inspiração no
Lincoln Continental, comprimento e largura aumentavam, a altura
total diminuía em 7,5 centímetros e havia uma distância entre eixos mais
longa específica para o Fairlane, cuja gama se abria em duas. A série
básica incluía sedãs e hardtops de duas e quatro portas, enquanto a
linha 500 oferecia os mesmos modelos e ainda os conversíveis Sunliner e
Skyliner.
O 500 Skyliner era a estrela: em vez da habitual capota macia, vinha com
teto rígido (de aço) retrátil, que por um complexo mecanismo era
guardado sob a tampa do porta-malas, esta aberta em sentido contrário ao
do acesso à bagagem — um arranjo comum hoje, mas surpreendente à época.
Embora a Peugeot tenha produzido o 402 Éclipse
nos anos 30 com solução semelhante, o esquema da Ford é considerado o
primeiro fabricado em grande volume. A ideia havia sido proposta pelo
projetista Gilbert Spear para o Continental Mark II da Lincoln, mas
acabou chegando às ruas pela divisão mais acessível do grupo.
Claro que não foi simples implementá-la: o mecanismo de rebatimento do
teto compreendia três motores elétricos, 10 relês e 182 metros de fios.
Acionado o botão na coluna de direção, apenas com o câmbio em
ponto-morto, a tampa traseira se erguia, o teto era levantado, sua parte
dianteira dobrava-se, o conjunto era guardado no porta-malas e a tampa
se abaixava. Após o processo, o Skyliner podia passar por um Sunliner
caso não se observassem os para-lamas traseiros mais imponentes. Ao
contrário dessa versão, porém, ele vinha de série com motor 272 e não
oferecia o seis-em-linha.
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