De Dearborn ao Piemonte

Depois de 15 anos como uma das linhas mais importantes da
Ford nos Estados Unidos, o Fairlane cedeu lugar ao Torino

Texto: Fabrício Samahá - Fotos: divulgação

Os sedãs Fairlane de duas e quatro portas: formas contemporâneas e duas versões de motores para um carro importante dentro da linha Ford

O Crown Victoria era o destaque: à frente da faixa transversal cromada, inspirada em carros-conceito, o teto podia ser normal ou transparente

O conversível Sunliner foi oferecido desde o primeiro ano do Fairlane; nas fotos o Town Victoria, lançado para 1956 com duas ou quatro portas

A Ford norte-americana tinha uma grande novidade em sua linha 1955. Tratava-se do Thunderbird, anunciado como um "carro pessoal", com o qual a empresa respondia ao lançamento do Chevrolet Corvette, dois anos antes. Algo ofuscado pelo "pássaro trovão", porém, estava outro modelo estreante da marca: o Fairlane.

Denominado em alusão a Fair Lane, a requintada casa de Henry Ford em Dearborn (Michigan), cidade-sede da empresa nas cercanias de Detroit, o novo modelo assumia o topo da linha da divisão Ford em substituição à série Crestline. E chegava no momento de uma renovação de estilo de seus carros, que assumiam uma ampla grade dianteira, para-brisa envolvente e pequenas aletas ("rabos de peixe") nos para-lamas traseiros.

A gama de carrocerias incluía Club Sedan de duas portas, Crown Victoria, Town Sedan (único a ter quatro portas), Convertible e Sunliner (ambos conversíveis). O Crown Victoria era atração à parte: um sedã hardtop de duas portas com duas opções de teto, uma toda de aço e outra com parte em plástico transparente, solução já vista em 1954 no Crestline Skyliner. Uma faixa cromada transversal ligava por cima as colunas centrais de cada lado. Apesar da interessante ideia de L. David Ash, projetista responsável pelos carros-conceito X-100 e Mystere, a versão — em geral vendida com acabamento luxuoso e pintura em dois tons — não teve êxito e sairia de linha após dois anos-modelo.

Os Fairlanes eram oferecidos com dois motores: o de seis cilindros em linha, 223 pol³ (3,7 litros) e 120 cv e o inédito V8 de "bloco pequeno" da série Y, de 272 pol³ (4,5 litros), com 162 ou 182 cv. Tanto o câmbio manual quanto o automático Ford-O-Matic tinham três marchas e, no caso deste último, era novo o recurso do kick-down: bastava acelerar até o fim do curso para provocar uma redução de marcha. A concepção técnica do carro era tradicional, com carroceria sobre chassi, tração traseira, suspensão independente à frente e por eixo rígido atrás, freios a tambor.

O sedã com motor V8 e caixa automática foi avaliado pela revista Popular Mechanics,  que destacou vários atributos: "O comportamento e a estabilidade estão melhores que os de qualquer Ford que já dirigimos, e comparam-se favoravelmente com qualquer carro testado. A suspensão dianteira é uma revelação. Há muito pouca rolagem em curvas e a estabilidade do carro, sob quase qualquer condição de estrada, é excelente. A caixa automática é suave em operação e quase imperceptível. O acabamento interno é o mais refinado já oferecido pela Ford, e igual ou melhor que o de alguns carros mais caros".

A linha 1956 trazia novidades como o Town Victoria, um hardtop disponível com duas ou quatro portas; lanternas traseiras ampliadas e motores mais potentes. O seis-cilindros passava a fornecer 137 cv. A linha Y ganhava a opção de 292 pol³ (4,8 litros), com carburador de corpo duplo e 200 cv, enquanto um V8 maior de 312 pol³ (5,1 litros) estava disponível com 215 cv.

No ano seguinte vinham mudanças mais abrangentes. A carroceria era redesenhada com certa inspiração no Lincoln Continental, comprimento e largura aumentavam, a altura total diminuía em 7,5 centímetros e havia uma distância entre eixos mais longa específica para o Fairlane, cuja gama se abria em duas. A série básica incluía sedãs e hardtops de duas e quatro portas, enquanto a linha 500 oferecia os mesmos modelos e ainda os conversíveis Sunliner e Skyliner.

O 500 Skyliner era a estrela: em vez da habitual capota macia, vinha com teto rígido (de aço) retrátil, que por um complexo mecanismo era guardado sob a tampa do porta-malas, esta aberta em sentido contrário ao do acesso à bagagem — um arranjo comum hoje, mas surpreendente à época. Embora a Peugeot tenha produzido o 402 Éclipse nos anos 30 com solução semelhante, o esquema da Ford é considerado o primeiro fabricado em grande volume. A ideia havia sido proposta pelo projetista Gilbert Spear para o Continental Mark II da Lincoln, mas acabou chegando às ruas pela divisão mais acessível do grupo.

Claro que não foi simples implementá-la: o mecanismo de rebatimento do teto compreendia três motores elétricos, 10 relês e 182 metros de fios. Acionado o botão na coluna de direção, apenas com o câmbio em ponto-morto, a tampa traseira se erguia, o teto era levantado, sua parte dianteira dobrava-se, o conjunto era guardado no porta-malas e a tampa se abaixava. Após o processo, o Skyliner podia passar por um Sunliner caso não se observassem os para-lamas traseiros mais imponentes. Ao contrário dessa versão, porém, ele vinha de série com motor 272 e não oferecia o seis-em-linha.

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Data de publicação: 10/3/12

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