Alfabeto evolutivo   As alterações seguintes do 500 passaram a incorporar letras a seu nome como símbolo dos aprimoramentos ao longo dos anos. O 500 D aparecia no segundo semestre de 1960, com o motor de 17,5 cv (capaz de 95 km/h e 20,8 km/l) da Giardiniera, enquanto a versão Sport saía de linha. Vinha homologado para quatro passageiros e 40 kg de bagagem. O peso vazio aumentou, mas não podia ser mais apropriado para o nome do modelo: 500 kg.

O 500 D combinava a frente e o motor da Giardiniera a um teto solar menor, sobre os bancos dianteiros apenas, além de tanque com menor prejuízo ao espaço de bagagem

A frente ficava igual à da Giardiniera, as lanternas eram novas, as faixas brancas voltavam aos pneus e o teto solar diminuía, ficando só acima dos bancos dianteiros, só que mais resistente e fácil de manejar. Mesmo com a capacidade aumentada de 20 para 22 litros, o tanque de combustível ganhava um formato que tomava menos espaço do pequeno porta-malas dianteiro. O 500 D custava 450 mil liras ao ser lançado e duraria até 1965. Foi quando o 500 F o substituiu.

Ao preço de 475 mil liras, o "F" foi lançado em março com portas de abertura tradicional para a frente, mais seguras em caso de acidente, e dobradiças embutidas. Na mecânica, a transmissão protagonizou as principais melhorias. Mais robusta, teve embreagem, eixo traseiro e diferencial retrabalhados. O motor de 499,5 cm³ rendia 18 cv, mas o consumo aumentava para 18,2 km/l. Os 20 kg adicionais exigiam mais do pequeno propulsor. Em 1966 a Giardiniera, antes feita em Mirafiori, passou a ser produzida pela Autobianchi em Desio.

Novas evoluções vinham com o 500 F, em 1965: portas com abertura convencional, transmissão mais resistente, motor de 18 cv

Além de oferecer mais equipamentos, a Fiat ainda decidiu oferecer a versão Lusso em setembro de 1968. Por dentro ela tinha volante exclusivo, bancos mais acolchoados e novos porta-objetos. A versão custava 525 mil liras, 100 mil a mais que um 500 F, e atendia ao público que buscava um carro pequeno, mas não tão espartano. Rendendo quase 19 km/l, o 500 L — como a versão também ficou conhecida — era reconhecível por barras extras nos pára-choques, que o deixaram com um comprimento de 3,02 m e peso de 530 kg. Faróis, lanternas e luzes de direção também estavam maiores. Até o logotipo da Fiat era retangular, diferente do que vinha com "bigodinhos" cromados no 500 F. As calhas do teto eram cromadas e os pneus passavam a radiais em medida 125 R 12, importante melhoria em segurança.

Ao longo dos anos, o 500 teve poucos concorrentes. Entre o segmento de "carros-bolha" para duas pessoas, como o Isetta e o Messerschmitt, e o de subcompactos com que o 600 brigava, o 500 teve no Mini inglês seu mais perfeito contraponto. Houve outros de menor expressão, mas também interessantes, como o Vespa 400, o Zundapp Janus, o BMW 600  e o Goggomobil T-250. Depois de uma década de mercado, era de se esperar que a Fiat começasse a desenvolver outro modelo para ocupar o lugar da linha 500. Este viria a ser o 126, em 1972.
Continua

Para ler
Fiat 500 - por Elvio Deganello, editora Giorgio Nada. Em italiano, bem apropriado para a história do pequeno Fiat, este livro de 120 páginas trata da história, aspectos técnicos e industriais e dicas de restauração, mas tem como principal interesse o fenômeno cultural desse carrinho que simbolizou uma época como poucos.
Baby Fiats - por Dave Randle, editora Sutton Publishing. O livro explica o advento dos carros pequenos e fáceis de manobrar desde os anos 1920 na Itália, um país que é montanhoso e com cidades densamente povoadas. Da necessidade ao culto dos pequeninos Fiat, carros antigos e recentes da marca formam o conteúdo tratado por Randle, com a devida atenção ao 500 e ao 600. São 160 páginas.
Fiat & Abarth 500 & 600 & Seicento - por Malcolm Bobbitt, editora Veloce Publishing. Aborda do Topolino ao recente Seicento, mas enfatiza o 600 original e o Nuova 500.
Há no conteúdo as vitórias das versões Abarth nas pistas. Mais de 200 fotos ilustram as 192 páginas do livro, que, além da história, especificações e outros dados de interesse, lista clubes, fornecedores de peças e especialistas para ajudar o colecionador na manutenção dos pequenos Fiats.
Fiat & Abarth 500 & 600: Colour Family Album - por David Sparrow e Andrea Sparrow, Veloce Publishing. Para quem prefere ler em inglês, este livro traz, ao longo de 98 páginas, fotos e mais fotos do 500 e também do 600 com bem pouco texto. Um belo livro de arte para a mesa da sala e para namorar os detalhes do modelo, para quem prefere se abster de ler detalhes técnicos ou históricos.
Fiat 500 - Guida al Restauro - por Italo Grossi e Marcello Lo Vetere, Giorgio Nada. Neste guia italiano, Grossi e Lo Vetere ensinam o restaurador e colecionador, com seqüência de fotos, a deixar seu 500 com o aspecto com que deixou a fábrica. O livro de 96 páginas ainda dá dicas de como examinar a documentação antes de adquirir um exemplar.
"La dolce vita"
O título era perfeito para esse filme de 1960, uma das mais famosas obras do diretor Federico Fellini. O enredo tratava de pessoas da alta sociedade italiana que passavam seus dias em busca de prazeres fugazes e vazios.

Esse retrato crítico dos italianos abastados foi um senhor avanço em relação à dureza dos filmes neo-realistas do pós-guerra, com suas mazelas sociais. Sobretudo por mostrar uma Itália onde uma minoria já podia se refestelar em luxos e excessos que só a prosperidade econômica permite. Para a maioria dos italianos, entretanto, essa realidade era exótica. A prosperidade significava poder ter casa, comida, roupa lavada, algum conforto e diversão.

Os dois últimos em geral vinham associados à possibilidade de se locomover com mais liberdade e rapidez. A porta de entrada para realizar esse sonho era, além das motonetas, o Fiat "Cinquecento". As ruas italianas viviam abarrotadas dele, que se tornou ícone da época.

Além dos tradicionais futebol, automobilismo, ópera e culinária, as novas formas de lazer italiano incluíam ver os últimos filmes produzidos naqueles anos áureos de Cinecittá — a Hollywood local — e torcer para seu cantor favorito no Festival della Canzone Italiana (vulgo Festival de San Remo), transmitido ao vivo pela RAI, maior emissora local.

Mais do que a recuperação e a evolução de um estilo de vida, a Itália dos anos 60 vivia uma efervescência cultural que só perdia para a americana, a inglesa e a francesa. Nesses países, contestação e revolução eram as palavras de ordem. Na Itália, ainda que houvesse artistas questionadores como o próprio Fellini, prevalecia uma imagem descompromissada e divertida na mídia mundial.

Fossem os filmes de Marcello Mastroianni e Sophia Loren, as estrelas mais internacionais do país, fossem as canções românticas e alegres de Domenico Modugno ou no rock adolescente de Rita Pavone, a Itália se orgulhava do reconhecimento mundial de seus representantes na cultura popular e de massa. E o Fiat "Cinquecento" era mais um honroso e querido exemplo disso, um pequeno bocado de uma doce vida.

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