O título era perfeito para
esse filme de 1960, uma das mais famosas obras do diretor
Federico Fellini. O enredo tratava de pessoas da alta sociedade
italiana que passavam seus dias em busca de prazeres fugazes e
vazios.

Esse retrato crítico dos
italianos abastados foi um senhor avanço em relação à dureza dos
filmes neo-realistas do pós-guerra, com suas mazelas sociais.
Sobretudo por mostrar uma Itália onde uma minoria já podia se
refestelar em luxos e excessos que só a prosperidade econômica
permite. Para a maioria dos italianos, entretanto, essa
realidade era exótica. A prosperidade significava poder ter
casa, comida, roupa lavada, algum conforto e diversão. |
Os dois últimos em geral
vinham associados à possibilidade de se locomover com mais
liberdade e rapidez. A porta de entrada para realizar esse sonho
era, além das motonetas, o Fiat "Cinquecento". As ruas italianas
viviam abarrotadas dele, que se tornou ícone da época.
Além dos tradicionais futebol, automobilismo, ópera e culinária,
as novas formas de lazer italiano incluíam ver os últimos filmes
produzidos naqueles anos áureos de Cinecittá — a Hollywood local
— e torcer para seu cantor favorito no Festival della Canzone
Italiana (vulgo Festival de San Remo), transmitido ao vivo pela
RAI, maior emissora local.
Mais do que a recuperação e a evolução de um estilo de vida, a
Itália dos anos 60 vivia uma efervescência cultural que só
perdia para a americana, a inglesa e a francesa. Nesses países,
contestação e revolução eram as palavras de ordem. Na Itália,
ainda que houvesse artistas questionadores como o próprio
Fellini, prevalecia uma imagem descompromissada e divertida na
mídia mundial.
Fossem os filmes de Marcello Mastroianni e Sophia Loren, as
estrelas mais internacionais do país, fossem as canções
românticas e alegres de Domenico Modugno ou no rock adolescente
de Rita Pavone, a Itália se orgulhava do reconhecimento mundial
de seus representantes na cultura popular e de massa. E o Fiat "Cinquecento"
era mais um honroso e querido exemplo disso, um pequeno bocado
de uma doce vida. |