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A Glaspac, dos bugues ao Cobra

Dois amigos trouxeram para cá a tendência dos bugues.
E criaram uma versão nacional do esportivo de Shelby

Texto: Paulus Hanser de Freitas

Donald Pacey e Gerry Cunningham eram amigos de infância e, apesar dos nomes, brasileiros e paulistanos. Netos de ingleses, suas famílias ainda tinham grande ligação com a pátria de origem e, quase adultos, ambos foram à Inglaterra estudar. Lá chegando, na década de 50, estes entusiastas do automóvel entraram em contato com o mundo de competições, que sempre foi fervilhante naquele país. Participaram de várias competições amadoras e se familiarizaram com uma nova tecnologia, então crescendo muito em competições: a moldagem de peças em resina de poliéster reforçada com fibra-de-vidro.

Amplamente utilizado na produção de carrocerias de veículos de competição, devido à facilidade de moldagem e baixo peso, esse material hoje tem ampla utilização em várias indústrias, desde piscinas até carrocerias de automóveis. Em relação ao aço estampado, mais comum nos carros, tem como principal vantagem o custo de ferramental mais baixo, prestando-se muito bem à produção em baixo volume.

Criado na Califórnia nos anos 60, o Meyers Manx é o "pai" de todos os bugues
do mundo. Um veículo simples, barato e divertido para curtir nas praias

Na Inglaterra dos anos 50, a indústria de fibra-de-vidro encontrava-se em franca expansão. Colin Chapman lançara em 1957 o Lotus Elite, com chassi e carroceria inteiramente construídos no material. Era montado como um carrinho de brinquedo, com basicamente três peças grandes coladas. Nos Estados Unidos o desenvolvimento era ainda maior, com a GM já vendendo o Corvette com carroceria de fibra desde 1953, apesar desse carro contar com um chassi tradicional tipo escada em aço.

Donald Pacey, voltando ao Brasil em 1960, resolveu investir na nova tecnologia e criou então a Glaspac, em 1962, para produzir peças em fibra-de-vidro. Pacey viria a ser um dos pioneiros do processo de plástico reforçado no Brasil, junto de Rino Malzoni e seu Puma (saiba mais), e a Willys com seu Interlagos. Os primeiros anos da Glaspac foram difíceis, por produzir peças em um material ainda pouco conhecido. Finalmente Pacey convenceu a Mercedes-Benz a usar algumas peças de fibra em seus novos ônibus monobloco: grade, capô e pára-lamas.

A Glaspac foi parte integrante da fase considerada mais interessante do automobilismo brasileiro -- a década de 60 --, época em que se desenvolviam carros de competição sérios aqui mesmo. Os Fórmula Junior de Chico Landi foram encarroçados pela Glaspac. Também o foi o Willys/Ford Bino. Ainda, os protótipos do Puma foram criados na empresa, ligando-a à mais famosa marca nacional de carros fora-de-série.

Um pioneiro: fabricado sob licença de Bruce Meyers, o bugue Glaspac trouxe ao Brasil uma onda que persiste ainda hoje no Nordeste, com vários pequenos fabricantes

Em 1968 Gerry Cunningham voltava da Inglaterra e se tornava sócio de Donald. Ele trouxe uma idéia nova para a empresa: produzir um bugue na plataforma do Fusca. Hoje tal coisa parece banal, portanto requer alguma explicação para colocá-la em contexto. Os dune-buggies espalharam-se pelo mundo, em várias versões diferentes, mas todos eles são cópias, de uma forma ou de outra, do Meyers Manx dos anos 60, criado na Califórnia pelo genial Bruce Meyers.

O Manx era barato de construir e usava a comum plataforma Volkswagen. Transformou mecânicos de fundo de quintal do mundo todo em "fabricantes" de modo quase instantâneo: bastava comprar um kit do Manx e o transformar em modelo padrão, copiando-o. A facilidade de produzir, o baixo número de peças da carroceria e a leveza, desempenho e funcionalidade a baixo custo do carro deixam patente a genialidade do projeto de Bruce Meyers.

Mas em 1968 o Manx ainda era novidade, e a febre dos bugues estava apenas para começar. Donald e Gerry viajaram à Califórnia para conhecer o Meyers Manx e seu hoje lendário criador. Voltaram com uma licença para produzi-lo no Brasil. Parece incrível hoje que alguém solicite licença para produzir bugues, mas naquela época ele era um carro como outro qualquer e o projeto tinha dono. A Glaspac efetivamente introduziu no Brasil esse até então desconhecido tipo de veículo.
Continua

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Fotos desta página: Fabrício Samahá (abertura) e divulgação (outras)

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