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O bugue Glaspac era vendido apenas como kit, para ser montado pelo proprietário, como o Manx original -- o que ajudou as oficinas que montavam o carro a entendê-lo e, posteriormente, a copiá-lo. A produção durou até 1975, quando a proliferação de cópias caseiras, em geral de qualidade inferior, tornou inviável a produção em escala industrial. Os dois amigos então concentraram-se na fabricação de outros itens menos nobres, mas não menos lucrativos, como quiosques e caixas de correio. Se você prestar atenção, vai ver ainda hoje a marca Glaspac em cabines de pedágio pelo Brasil afora.

Os anos 70 e 80 foram propícios à fabricação de réplicas e carros fora-de-série no Brasil. Neste anúncio da Tander Car o bugue da Glaspac aparece ao lado de cópias dos famosos Bugattis

Mas Pacey e Cunningham não se desligaram do mundo automobilístico. O jovem Émerson Fittipaldi foi encorajado várias vezes pelos donos da Glaspac a se mudar para a Inglaterra, para tentar progredir em sua então estagnada carreira de piloto no Brasil. Quando finalmente decidiu fazê-lo, Cunningham o acompanhou na viagem e apresentou-o a seus contatos no mundo de competições daquele país.

No bairro paulistano de Santo Amaro, lar da Glaspac, os negócios iam bem e o dinheiro não faltava. Os dois amigos resolveram aplicar novamente em sua paixão, a de construir carros. Após o bugue e o Puma, cresceu absurdamente o número de fabricantes de esportivos com plataforma de Fusca no Brasil. Mas ao contrário da Puma, que naquela época caminhava para se tornar a "Porsche brasileira", já criando suspensões modificadas, motores preparados e um sem-fim de modificações, os outros se limitavam a colocar carrocerias bonitas -- para sermos gentis com muitos autores -- em chassis de Fusca e Brasília.

Cansados desses falsos esportivos, os donos da Glaspac queriam fazer um carro realmente interessante, algo que qualquer entusiasta gostasse à primeira vista. Uma boa idéia seria uma réplica do famoso Cobra (leia história). Além do óbvio interesse histórico do carro, tudo conspirava para facilitar: o motor Ford V8 era usado aqui no Maverick e no Galaxie/LTD/Landau, em versão com 302 pol3 (4,95 litros), o desenho da carroceria já era de domínio público, e o carro era de construção simples.

A Glaspac então escreveu para o fabricante AC, na Inglaterra, pedindo mais informações sobre o carro e contando seus anseios. Para surpresa total, a AC respondeu com desenhos detalhados de todo o carro e uma carta autorizando a produção da réplica, com apenas uma ressalva: não usar as marcas AC e Cobra. Só isso.

Com a ajuda do fabricante original, começou o projeto do novo carro. Desenvolveu-se um chassi de tubos de seção quadrada e chapa de aço soldados. Os tubos seriam preenchidos com espuma de poliuretano, para reduzir vibrações e ruídos, bem como evitar penetração de umidade, que causaria corrosão. O material também seria usado seletivamente na carroceria de fibra, como reforço estrutural e/ou revestimento termoacústico.

Com o motor V8 do Landau e boa preparação, o Glaspac atingiu 205 km/h no teste de uma revista: era o mais veloz do Brasil na época

O motor permaneceria na posição do carro original, logo atrás do eixo dianteiro. O eixo traseiro seria o do Galaxie, com diferencial autobloqueante. O câmbio Clark viria do Maverick de quatro marchas e no eixo dianteiro seria usado o conjunto completo do Opala, com direção, suspensão e freios. Os pneus 215/70 usariam rodas de 14 pol na frente e 15 pol atrás.

O primeiro carro foi montado visando à apresentação no Salão do Automóvel de São Paulo de 1981. Esse protótipo vermelho, finalizado às pressas como todo carro desse gênero, foi então apresentado ao salgado preço de Cr$ 3,8 milhões. Com esse valor era possível comprar o carro mais caro da época, o Alfa Romeo 2300 TI4 (Cr$ 3,24 milhões) e ainda sobrava dinheiro para comprar o mais barato, um Fusca 1300 (pouco menos de Cr$ 600 mil).

Logo choveram pedidos de carros para avaliação das revistas especializadas. A primeira avaliação do Glaspac aconteceu na pista de Interlagos. O protótipo vermelho estava equipado com um V8 usado, já com mais de 100 mil quilômetros, e sem qualquer acerto de suspensões. Mas os donos da empresa queriam também sentir a reação dos avaliadores, o que poderia auxiliá-los no desenvolvimento do carro.
Continua

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