Em mercados onde a emissão de gás carbônico é levada muito a sério, como
na Europa, a Volkswagen tem uma linha específica de modelos com alterações para
consumir menos combustível e, como consequência, liberar menos CO2 na atmosfera:
a BlueMotion, designação em inglês composta por azul — alusão à cor dos rios e
do céu — e movimento. No Brasil, a única versão com o mesmo objetivo era o
Polo BlueMotion, lançado em 2009 e vendido
desde então em quantidades mínimas (o Gol antigo recebeu em 2010 a versão
Ecomotion, de proposta semelhante).
Agora a Volkswagen quer tornar o logotipo BlueMotion mais comum nas ruas.
Escolheu para isso um modelo dos mais vendidos de sua linha, o Fox, e definiu um
acréscimo de preço moderado — 3% — para que a opção pela consciência ambiental
não pesasse no bolso. Oferecido apenas com o motor de 1,6 litro, o Fox ecológico
custa R$ 36.730 com três portas e R$ 38.300 com cinco, mas esses preços incluem
escassos equipamentos.
A dotação de série abrange direção assistida, computador de bordo, banco do
motorista com regulagem de altura, conta-giros e para-sóis com espelhos de
cortesia. O pacote Trend acrescenta volante com controle de áudio,
sistema de configurações I-System e rádio/CD com
MP3 e interface Bluetooth. Há ainda o módulo
Funcional II (banco traseiro com ajuste longitudinal e três apoios de cabeça), o
kit V (ar-condicionado, controle elétrico de vidros, travas e retrovisores,
travamento a distância, alarme, entre outros), módulo tecnológico V (retrovisor
interno fotocrômico, faróis e limpador de
para-brisa automáticos, para-brisa degradê), sensor
de estacionamento traseiro, faróis e lanterna de neblina, o rádio citado,
bolsas infláveis frontais e freios antitravamento (ABS). Com todos os opcionais
ele chega a R$ 50.120.
Na Europa, o habitual da linha BlueMotion é usar motor turbodiesel — aqui
proibido para automóveis — e tecnologias como parada
e partida automáticas. Na falta desses recursos, o Fox adota outras medidas.
As mais importantes são o câmbio com marchas mais longas e os pneus mais
estreitos (175/70 R 14 em vez de 195/55 R 15) com resistência ao rolamento 23%
menor, pois contêm mais sílica em sua composição.
Comparado ao Fox 1,6 convencional, o BlueMotion tem a primeira e a segunda
marchas mais curtas, a terceira igual, a quarta e a quinta mais longas e o
diferencial (que afeta todas elas na relação final) bastante mais longo. Há
ainda um sutil alongamento (menos de 1%) causado pelos pneus de diâmetro maior.
Quando se faz o cálculo que importa, considerando marchas, diferencial e
diâmetro dos pneus, o resultado é que o BlueMotion fica 6% mais longo em
primeira, 9% em segunda, 17% em terceira, 23% em quarta e nada menos que 29%
mais longo em quinta marcha. Com isso, a 120 km/h reais nessa marcha o motor
gira a apenas 2.600 rpm, ante 3.300 rpm do outro Fox.
Outras alterações são a grade frontal com menores aberturas para melhor
aerodinâmica (beneficiado também pelos pneus, o Cx
baixou de 0,353 para 0,33, melhora de 7%), reprogramação da central eletrônica
do motor e maior pressão de enchimento dos pneus (passa de 29/28 lb/pol² para
36/34 lb/pol², dianteiros e traseiros, na ordem). Para compensar a maior
transmissão de irregularidades pelos pneus mais cheios, os amortecedores da
versão têm calibração mais macia; o perfil bem mais alto dos pneus também
contribui para um rodar mais suave. Ao contrário do Polo, não houve alteração na
altura de rodagem.
O Fox ganhou ainda formas de orientar o motorista para uma condução mais
eficiente. Além do computador de bordo de série, o painel traz indicador digital
de consumo instantâneo, por meio de uma barra gráfica; indicador digital de
velocidade, além do tradicional velocímetro analógico; e indicador digital que
sugere a troca de marchas. O item orienta tanto a mudança para cima quanto para
baixo e, ao conter a indicação numérica da marcha, pode sugerir que se passem
duas delas de uma vez (de segunda para quarta, por exemplo). De resto, a versão
recebe painel cinza escuro e bancos revestidos de tecido azul na seção central.
Como tudo isso afeta o desempenho do Fox? Pelos dados do fabricante, o
BlueMotion ficou um pouco mais rápido na aceleração de 0 a 100 km/h (em 10,6
segundos com gasolina e 10,3 com álcool, contra 10,8 e 10,5 s do convencional na
mesma ordem), manteve a velocidade máxima com gasolina e ganhou 1 km/h com
álcool. Portanto, cai por terra o mito de que câmbio longo prejudica o
desempenho: o que importa é o motorista manter o motor na rotação certa para
cada situação. Claro que os pneus com menor atrito e o ganho aerodinâmico
ajudam.
Já no que mais interessa — consumo —, a novidade é claramente vantajosa. É pena
que a VW não mais informe os índices em ciclos-padrão de cidade e estrada, mas
sua média ponderada de 16,1 km/l com gasolina e 10,9 km/l com álcool indica
melhora de 12,7% e 12,6%, na ordem, em relação ao Fox comum (14,3 e 9,7 km/l,
mesma ordem).
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