Em fim de carreira depois de nove anos de mercado — e no aguardo de sua
nova geração, prevista para o
segundo trimestre —, o Ford EcoSport afinal ganha um competidor direto nacional.
O Renault Duster chega com uma variedade de opções que cobre todo o leque
oferecido pelo concorrente, com motores de 1,6 e 2,0 litros, câmbios manual e
automático e trações dianteira e integral. E foi a versão de topo, a 4WD, que o
Best Cars colocou em avaliação (um comparativo com o EcoSport não foi
possível, pois a Ford não tinha um disponível).
Este Renault nasceu Dacia, a marca romena incorporada ao grupo francês em 1999.
Isso explica seu desenho pouco pretensioso, quase antiquado, pois nos últimos
anos a Dacia se tornou o braço da Renault para atender a mercados emergentes e
segmentos de entrada. Mas elementos como os para-lamas ressaltados e os adereços
fora-de-estrada estão bem de acordo com o estilo que muitos procuram nos
utilitários esporte. Alguns detalhes mostram cuidado no projeto, como faróis com
refletor duplo e repetidores laterais das luzes
de direção. Abriríamos mão dos estribos, que servem apenas para sujar a barra da
calça ao entrar e sair.
Se na parte externa o Duster fabricado em São José dos Pinhais, PR, traz apenas
uma nova grade — de gosto discutível — como diferença para o original romeno,
por dentro o modelo nacional se beneficiou das novidades recém-adotadas pelo
Sandero, com o qual compartilha muitos componentes. A versão brasileira ganhou
painel mais elaborado, mais espaços superiores para objetos, aparelho de áudio e
comandos de ventilação de melhor aspecto, além de colocar os controles elétricos
de vidros nas portas (na Europa ainda vêm no painel). O acabamento permanece
simples, com materiais sem requinte, mas o conjunto agrada mais aos olhos. O
carro avaliado trazia o revestimento de bancos opcional em couro, que mais
parece vinil.
Como os "irmãos" Logan e Sandero, o Duster oferece posição de dirigir
confortável, com um bom banco (apesar de curto no assento) e regulagens de
altura para ele e para o volante (um pouco deslocado para a direita), mas falta
espaço adequado para o pé esquerdo em repouso. Os difusores de ar são ótimos, os
instrumentos usam a eficaz iluminação em laranja, o rádio/toca-CDs com MP3 traz
conexões USB e auxiliar e comandos junto ao volante e há computador de bordo e
aviso para porta mal fechada. No banco traseiro, a acomodação de pernas e
cabeças é muito boa e o espaço lateral não chega a impedir uma viagem com três
adultos de porte mediano. Essa é a parte boa do interior.
Uma das partes negativas é que, como já abordado na
última avaliação do Sandero,
falhas de ergonomia estão por todo lado. São
exemplos o botão de ajuste elétrico dos retrovisores abaixo da alavanca de freio
de estacionamento, que requer parar o carro para uma simples correção do
espelho; o rádio peculiar, em que o botão central não comanda o volume; e o
controle elétrico de vidros nas portas traseiras, muito recuado no apoio de
braço.
No painel, os marcadores digitais de combustível e temperatura "somem" com
faróis acesos de dia (não há ajuste na intensidade de luz) e no carro avaliado
as portas não travavam em movimento, inesperado hoje em dia. Além disso, os
porta-objetos no topo do painel (debaixo de sol e à vista com o carro parado)
não suprem bem a falta de locais no console; já o espaço junto ao teto pode
deixar os itens caírem com o movimento do carro e ainda representa risco de se
bater a cabeça ao entrar. O ar-condicionado impõe uma escolha: alto nível de
ruído na terceira velocidade ou refrigeração insuficiente na segunda.
E, mesmo nesta versão de topo, faltam diversos itens esperados em sua faixa de
preço, como iluminação para a parte traseira da cabine,
função um-toque e
temporizador para o controle elétrico de vidros, faixa degradê no
para-brisa, proteção por ultrassom no alarme antifurto, indicador de temperatura
externa e uma simples tampa no espelho do para-sol do passageiro. Diante de
tanta simplicidade, surpreende ver o capô ser erguido por molas a gás, como se
fosse um carro de luxo...
Por causa da tração suplementar, a versão 4WD traz o estepe (de tamanho
integral, mas com roda de aço) dentro do compartimento de bagagem, sob o
assoalho, o que reduz sua capacidade de 475 para 400 litros, ainda aceitável
para o tipo de carro. Ao dispensar o estepe preso à traseira, o Duster pôde
receber uma quinta porta com abertura para cima, mais prática que a articulação
lateral do EcoSport. O que deveria ser revisto são o banco traseiro, com divisão
60:40 só no encosto, e a cobertura divisória — como é mole, mas não do tipo que
se enrola, torna-se um estorvo quando retirada do lugar para o transporte de
cargas maiores.
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