Quando se trata de atender à crescente preferência do consumidor
brasileiro pelos câmbios que dispensam a troca manual de marchas e o uso do
pedal de embreagem, as marcas francesas têm uma peculiaridade: oferecem, mesmo
em seus carros compactos, caixas automáticas — e não as
automatizadas que Fiat, Volkswagen e General
Motors têm aplicado a modelos dessa categoria. Depois do Peugeot 207 e do
Citroën C3, chega a vez de um câmbio automático para o Renault Sandero.
Ao menos nessa fase inicial, a opção está restrita ao acabamento Privilège, que
tem seu preço básico elevado de R$ 40.400 para R$ 43.900 (aumento de R$ 3.500)
com a adição do câmbio. O opcional custa um pouco mais que os automatizados da
concorrência, mas é preciso considerar que apenas na versão Automatic — não
deveria ser Automatique? — a Renault voltou a usar o motor de 1,6 litro e quatro
válvulas por cilindro (também empregado no Sandero Stepway), enquanto o
Privilège manual continua com o 1,6 de duas válvulas. Portanto, se descontados
R$ 1.000 como um valor justo pela troca de motor, o câmbio em si sai por R$
2.500. No restante, o conteúdo da versão é o mesmo.
A caixa usada no Sandero segue o padrão de outros modelos da marca (Fluence à
parte), com quatro marchas e gerenciamento eletrônico do tipo autoadaptável, que
escolhe entre diversos programas de funcionamento de acordo com a forma de
dirigir do motorista e as condições de uso. Além da operação automática, pode
ser feita a seleção manual de marchas pela alavanca no console: uma vez movida
para a esquerda a partir da posição D, comanda-se a troca ascendente para frente
e a redução para trás.
Em modo manual, trocas para cima continuam automáticas ao chegar ao limite de
rotações, ao redor de 6.300 rpm, mas é possível usar grande parte do curso do
acelerador sem provocar redução
—
boa medida da Renault para quem gosta de dirigir com economia. Só mesmo
ao apertar o interruptor de fim de curso a redução é comandada, o que julgamos
mais seguro em situações de emergência, em que uma aceleração rápida seja
necessária. Também foi previsto o botão para o modo de inverno, útil em pisos de
baixa aderência, pois faz o carro sair da imobilidade em segunda marcha.
E como o câmbio se comporta nessa nova aplicação? Não muito bem. Falta uma boa
dose de refinamento à caixa, cujas trocas das marchas mais baixas são bem
sentidas, até com alguns trancos. Além disso, pela calibração da central ou do
acelerador com controle eletrônico, as respostas
ao comando do pé direito são muito lentas em alguns casos. Também é possível
notar nele a "síndrome de embreagem patinando" que havia chamado nossa atenção,
anos atrás, na minivan Scénic com o mesmo
motor e câmbio automático: em aceleração parcial o motor mantém uma rotação
média, com ruído um constante e desagradável, e o carro não parece desenvolver
nem faz a troca para cima, como se fosse um modelo manual com a embreagem gasta.
Ao menos em um aspecto, o Sandero mostrou-se melhor que outros Renaults
avaliados: o câmbio sobe marchas com rapidez quando se alivia o acelerador, sem
insistir em manter o motor em alta rotação — no Mégane, algumas vezes tivemos de
efetuar a mudança manual após uma "esticada de marcha", diante da demora da
troca automática. O que atenua a insatisfação com o câmbio automático do Sandero
é o fato de que a concorrência direta está longe de ser melhor.
Os outros automáticos da categoria — 207 e C3 — usam uma caixa que produz o
mesmo nível de trancos, ou mesmo mais, e também têm apenas quatro marchas. Já
Gol, Fox, Palio e Punto oferecem câmbios automatizados que, apesar de ter cinco
marchas e maior eficiência na transmissão de energia, ficam muito atrás de
qualquer automático em termos de refinamento e suavidade. Em terra de cego...
Contudo, se a opção pelo câmbio pode não trazer tanta satisfação, o motor que o
acompanha é bastante bom
— e
claramente superior ao de duas válvulas por cilindro, tanto em
desempenho em alta rotação quanto em maciez de funcionamento.
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