

Um interior sem
requinte, mas bem desenhado, com as comodidades mais desejadas,
boa posição de dirigir e mais espaço que o esperado

Foto: Paulo de Araújo

Ainda que avaliado longe
das condições ideais, o Picanto mostrou boa estabilidade e
respostas ágeis com o motor flexível de 1,0 litro e 80 cv |
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MOTOR
- transversal, 3 cilindros em linha; duplo comando variável no cabeçote,
4 válvulas por cilindro. Diâmetro e curso: 71 x 84 mm.
Cilindrada: 998 cm3. Taxa de compressão: 12,5:1. Injeção
multiponto sequencial. Potência máxima: 77 cv (gas.) e 80 cv (álc.) a 6.200 rpm. Torque máximo:
9,6
m.kgf (gas.) e 10,2 m.kgf (álc.) a 4.500 rpm. |
CÂMBIO
- manual, 5 marchas, ou automático, 4 marchas; tração dianteira. |
FREIOS
- dianteiros a disco ventilado; traseiros a tambor (opcional: a disco); antitravamento
(ABS) opcional. |
DIREÇÃO
- de pinhão e cremalheira; assistência elétrica. |
SUSPENSÃO
- dianteira, independente McPherson; traseira, eixo de torção. |
RODAS
- 5 x 14 pol; pneus, 165/60 R 14. |
DIMENSÕES
- comprimento, 3,595 m; largura, 1,595 m; altura, 1,49 m;
entre-eixos, 2,385 m; capacidade do tanque, 35 l; porta-malas, 292
l; peso, 940 kg (manual) e 970 kg (automático). |
Dados do fabricante;
desempenho e consumo não disponíveis |
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Três cilindros e flexível
A primeira geração do Picanto tinha motor
de 1,0 litro e quatro cilindros a gasolina com potência de 64 cv e
torque de 8,9 m.kgf, números que o deixavam para trás de toda a
concorrência local. Esse tempo passou: o novo traz
uma unidade de três cilindros em linha e 1,0 litro, flexível em
combustível (o segundo da Kia, depois do Soul), com bloco e cabeçote de
alumínio, duplo comando, quatro válvulas por cilindro e
variação do tempo de abertura, além de taxa de compressão bastante alta
(12,5:1).
Tudo concorre para bom rendimento, e o resultado não deixa a desejar:
com gasolina, 77 cv e 9,6 m.kgf; com álcool, 80 cv e 10,2 m.kgf. Acabou
bem mais potente que a versão a gasolina (70 cv) vendida na Europa, onde
há uma opção de quatro cilindros e 1,2 litro
— menos interessante aqui, pois a ela incidiria maior alíquota de IPI,
Imposto sobre Produtos Industrializados.
O acionamento do comando de válvulas é por meio de corrente, robusta e
livre de manutenção. Pena não ter sido usado aqui o sistema de
parada e partida automáticas do motor,
disponível em mercados europeus.
Motor de três cilindros pode causar estranheza por aqui, onde muitos só
se lembram de tê-lo visto nos longevos modelos da
DKW-Vemag, mas faz todo o
sentido. A cilindrada unitária (por cilindro) ideal fica entre 300 e 500
cm³, mas os motores de quatro cilindros e 1,0 litro — em
geral reduzidos de unidades maiores — têm apenas 250 cm³
por cilindro. No Picanto são 333 cm³, dentro da faixa ideal. É verdade que existe o fator das vibrações, em que um três-em-linha é naturalmente desbalanceado, mas para tudo há solução
nesses dias.
A avaliação da imprensa deu-se em um local pouco apropriado ao tipo de
carro, o circuito da Fazenda Capuava, em Vinhedo, SP. Ideal para
explorar o potencial de grandes esportivos como os
Mercedes-Benz AMG e o
BMW 1 M Coupe, a pista não
permite avaliar um carro pequeno e despretensioso, como este Kia, em
condições próximas às que ele enfrentará nas mãos dos compradores. Mesmo
assim, fomos adiante.
Começamos pela versão com câmbio manual, dando a primeira volta devagar
para sentir o quanto o tricilíndrico vibraria. E... não vibrou. O motor
trabalha bem, sobe de giros com certa facilidade — o corte de rotação
ocorre algo acima de 6.200 rpm, com pequena margem além da potência
máxima — e transmite pouca aspereza, indicação de projeto competente,
que inclui o uso de coxins hidráulicos. Embora uma pista passe a
sensação de desempenho menor que o efetivo, o Picanto mostrou-se ágil,
com boas respostas mesmo em baixas rotações e nível de ruído contido.
O câmbio com engates macios e precisos (que lembra os melhores da
Volkswagen) e o pedal de embreagem leve, assim como a direção macia em
baixa velocidade e que transmite segurança em alta, apontam para um
carro agradável de dirigir no tráfego das cidades, seu hábitat natural.
Outro ponto alto é a estabilidade: levado perto do limite várias vezes,
o Kia revelou rodar firme, bem controlado pelos amortecedores, e boa
aderência dos pneus, apesar da medida moderada, 165/60 R 14 (vale a ressalva de que foi usada pressão
muito mais alta que a recomendada, 50 lb/pol², a fim de evitar desgaste
acentuado no uso em pista).
Na versão de caixa automática, as mesmas boas sensações, somadas a
mudanças de marcha relativamente suaves e com resposta adequada ao
acelerador. Seria útil, porém, contar com um modo de seleção manual.
Lamentável é que a importadora não informe dados de desempenho e
consumo, este um quesito em que o Picanto promete se destacar. Permanece
o diminuto tanque de 35 litros, que poderia ser revisto agora que o
carro pode consumir álcool, de consumo 40% maior.
A suspensão foi mantida do anterior, mas recalibrada, com eixo traseiro de torção mais rígido e
molas mais macias. Na
falta de irregularidades no piso como as que infestam nossas ruas e
estradas, dirigimos um pouco pelas ruas de terra da fazenda para poder
sentir melhor as suspensões. A impressão foi boa, com rodar macio e
absorção correta das irregularidades, mesmo com a alta pressão dos
pneus. Outras considerações ficam para a avaliação completa.
Quando o primeiro Picanto chegou por aqui, há cinco anos, a marca Kia
ainda estava em fase de consolidação no mercado brasileiro, embora
presente desde 1992. Hoje o quadro é outro, com modelos bem-sucedidos
como Cerato e Soul e uma imagem sólida, o que abre caminho para
que o novo Picanto tenha sucesso em sua segunda chance. Só não terá vida fácil por conta
da renovada concorrência, em particular pelo
Fiat 500 Cult, da mesma faixa de preço
e que aposta em igual fórmula de estilo charmoso, bom acabamento e
oferta de comodidades. |