Best Cars Web Site - Avaliação Completa

Texto e fotos: Fabrício Samahá

Carros com certo tempo de mercado -- aquele tipo que certa revista afirmaria, sem parar e sem pensar, estar prestes a sair de produção -- costumam tomar certos caminhos. O mais comum é que recebam motores potentes e ampla dotação de equipamentos, para que se mantenham competitivos na relação custo-benefício. Foi assim, por exemplo, com Monza, Kadett, o Omega brasileiro e, de certo modo, o Tempra.

Com o Escort, porém, a história é diferente. O médio-pequeno da Ford não está de todo defasado -- a geração atual teve lançamento europeu em 1990, uma década depois do Santana e sete anos após o Uno. Mas a importância do segmento tem resultado em rápida evolução da concorrência, como atesta a chegada de Golf, Astra, Xsara, Brava e outros nos últimos dois anos. A marca sabe bem disso: lança agora em outubro o Focus, seu sucessor natural. Mas o processo adotado no Escort, para mantê-los em linha lado a lado, foi justamente retirar potência e equipamentos.

As versões GL e GLX com motor Zetec de 1,8 litro, 16 válvulas e 115 cv permanecem nas tabelas de preços, mas não é preciso procurá-las nas concessionárias para perceber que estão por desaparecer. A perua Escort GLX custa R$ 32.640, ou 8% mais que uma ainda atual Peugeot 306 Soleil Break. Uma moderna Citroën Xsara GLX, com duas bolsas infláveis de série, sai por 9% a mais que a Escort. Não é uma posição confortável para a Ford.

A marca do oval pretende, portanto, concentrar a linha Escort na versão GL com o novo e moderno Zetec Rocam de 1,6 litro, oito válvulas e 95 cv. Com interior enxuto em conforto e conveniência, mas dotada de direção assistida, a perua custa R$ 24.820 -- valor que a coloca abaixo de peruas de segmento inferior e menos potentes, como Palio Weekend ELX 1,25 e Corsa Wagon GLS 8V. Com ar-condicionado, o único opcional, passa a R$ 27.160. A Ford conseguiu tocar no bolso do consumidor -- mas isso teve um preço.

O revestimento interno é uma agradável surpresa em uma versão básica. Apesar da
acomodação adequada, encostos de cabeça traseiros deveriam ser oferecidos

O usuário começa a ter a sensação de carro empobrecido ao abrir sua porta pela chave -- não há opção de alarme, nem controle a distância. E as demais? Só por dentro, já que a trava central elétrica foi abolida em nome da redução de custos. Abrir os vidros requer o uso das velhas manivelas, e o incômodo de ter de fechá-los um por um, quando esquecidos pelos passageiros, retorna do passado. Também não há sistema de áudio -- a exemplo do GLX e das linhas Ka e Fiesta. Tudo isso pode ser corrigido numa concessionária ou loja de acessórios, mas o ideal -- por facilidade e confiabilidade -- seria que o carro viesse de fábrica com os itens desejados.

O revestimento dos bancos, em tecido macio e de tom claro, supera carros de preço superior, uma boa tradição da Ford. Mas o acabamento é precário em alguns pontos, como em torno da coluna de direção (sem regulagem) e nas colunas dianteiras com parafusos aparentes. O limpador de pára-brisa deveria ser sincronizado ao lavador. Não há muito espaço para objetos e o banco traseiro fica devendo apoios de cabeça, embora haja dois cintos de três pontos. O encosto é bipartido, mas não o assento, incoerência que já deveria ter sido sanada.

Sentado num banco cômodo, mas um pouco elevado demais e sem ajuste de altura, o motorista encontra alguns bons detalhes. O Escort ganhou hodômetros digitais com seis dígitos no totalizador, sugerido pelo Best Cars Web Site em avaliações anteriores, mas o indicador de combustível agora se desliga junto da ignição, uma pena. Os retrovisores externos convexos são adequados, há relógio no painel e comando interno do porta-malas, que de fora só pode ser aberto com chave. Continua