Carisma, ponto alto do Beetle

O novo Fusca perde em conforto, desempenho e
preço para o Golf, mas tem um charme irresistível

-- Olha que Fusca maneiro!

Após dois anos no mercado nacional e quatro no americano, onde foi lançado no Salão de Detroit de 1998, o Volkswagen New Beetle ainda provoca reações curiosas no trânsito. Jovens, senhores, senhoras e sobretudo crianças olham, apontam, sorriem e, não raro, fazem comentários entusiasmados. Muitos nem devem imaginar que aquele "Fusca maneiro" é uma nova carroceria aplicada à plataforma do Golf, mas não faz a menor diferença. O carrinho é mesmo carismático.

Além da associação a um modelo que se confunde com a própria história de nossa indústria -- aspecto em que leva vantagem sobre o Chrysler PT Cruiser, seu concorrente mais próximo --, o Beetle esbanja charme ao combinar a silhueta nostálgica do Fusca, com seus pára-lamas destacados e estribos (só que agora em plástico), a elementos modernos como os faróis superelipsoidais (facho baixo; o alto usa superfície complexa) e um pára-brisa amplo e avançado.

O vidro dianteiro, aliás, é um dos pontos que impressionam ao entrar no carro: fica muito à frente do usual, dando espaço a um imenso painel e criando um ar de minivan -- exato oposto ao velho Fusquinha. Pela mesma razão as portas são grandes, mas não a ponto de facilitar o acesso ao banco traseiro. Por outro lado, os bancos dianteiros têm prático mecanismo que os faz levantar-se, retornando depois ao ajuste original.

O espaço é bastante bom na frente e a posição de dirigir confortável, apesar dos bancos firmes demais e de pouco apoio lombar, que cansam em longos percursos. Os encostos de cabeça são os mais duros já vistos em nossas avaliações. Atrás é que as coisas se complicam mesmo: cabem apenas duas crianças, já que o espaço é exíguo em todas as dimensões e passageiros mais altos ficarão com a cabeça encostada... no vidro, não no teto. Vale lembrar que o Beetle é um quatro-lugares, não possuindo cinto para um ocupante adicional.

A irreverência do novo Fusca volta a se manifestar nas alças dos passageiros traseiros (ao estilo dos velhos VW), painéis de porta e laterais superiores na cor da carroceria (mas de plástico), um vasinho para flores (!) e o compacto painel, que inclui um diminuto conta-giros. Não há termômetro do motor, mas a VW adotou uma luz-piloto azul para indicar que está frio: perfeito, já que essa informação é que faz mais falta nos carros despojados (e no Mercedes Classe A) que não têm o instrumento. A luz vermelha, de superaquecimento, é testada a cada partida como convém.

O porta-malas não cresceu muito desde seu antepassado... são 209 litros, pouco mais que num Ka, e com acesso difícil

Posição de dirigir é boa, mas os bancos -- sobretudo os encostos de cabeça -- são muito duros. O acesso à traseira é facilitado por um bom sistema de rebatimento, mas lá o espaço é reduzido mesmo para dois

Vários detalhes cativam: controle elétrico dos vidros com função um-toque, sensor antiesmagamento e temporizador (mas com posição dos botões pouco ergonômica), travamento automático das portas ao rodar, seu destravamento em dois estágios (a do motorista em separado), ajuste elétrico dos faróis, porta-óculos onde estaria a alça de teto do motorista (bem mais útil que a alça...), tomadas de energia 12V no console (estranha é a posição do cinzeiro e do acendedor, distantes sob o painel) e no porta-malas, controle automático de velocidade, retrovisor esquerdo biconvexo, abertura e fechamento dos vidros e do teto solar pela fechadura da porta (ótimo após deixar o carro horas sob sol). Continua