
Por trás das linhas
conservadoras, a mecânica trazia um V12 de duplo comando com 280 cv,
suspensão mais moderna e freios antitravamento


Espaço de sobra, banco traseiro
reclinável e com massagem, recursos eletrônicos: os passageiros de trás
são a razão de existir desse Toyota


O imperador Akihito no Century
Royal usado desde 2006: seis metros e três toneladas para o conforto e a
segurança do mais nobre passageiro |
O
interior recebia novidades como controle automático de temperatura do
ar-condicionado. Sob o capô, o motor V8 chegava a 4,0 litros e ganhava
injeção eletrônica, o que elevou o torque (29,5 m.kgf), embora com menor
potência (165 cv). Junto de novas alterações
visuais de pequena monta, estreava em 1987 a caixa automática de quatro
marchas com controle eletrônico e alavanca no console.
A linha 1991 trazia a versão L, com entre-eixos 15 centímetros mais
longo para aumentar ainda mais o conforto de quem viajava atrás. Se não
fosse suficiente, a linha de produção do modelo — um tanto artesanal
para os padrões japoneses — podia fornecer também uma limusine com 5,77
m de ponta a ponta e 3,51 m entre eixos. Dois anos mais tarde a Toyota
adotava bolsa inflável para o motorista e mudanças na aparência, como a
grade.
Após três décadas de produção, a empresa afinal lançava em abril de 1997
um Century todo novo, embora ao primeiro olhar ele ainda pudesse ser
confundido com os antecessores. Dos faróis quase quadrados à traseira
baixa, passando pela linha formal do teto e até mesmo a forma das
laterais do para-choque, tudo nele havia sido desenhado para deixar à
vontade quem apreciasse o modelo original. Nem mesmo os retrovisores
saíram dos para-lamas, embora a legislação já não os exigisse ali para
automóveis — apenas os utilitários continuavam obrigados. Como concessão
aos novos tempos, ao menos foram abolidos os quebra-ventos.
O interior ganhava sofisticação e conveniência, sempre com prioridade
aos passageiros do banco traseiro. Eles contavam com encostos
reclináveis, sistema massageador, cortinas nas janelas e um rebatimento
do banco dianteiro direito para que um dos ocupantes pudesse esticar as
pernas. As portas não precisavam ser batidas: ao se aproximar do
batente, um mecanismo concluía o fechamento.
Importante novidade era o primeiro motor V12 com tração traseira em um
carro japonês. A unidade de 5,0 litros e concepção moderna, com duplo
comando nos cabeçotes e quatro válvulas por cilindro, fornecia 280 cv
(limite de potência estabelecido pelo governo do país) e 46,8 m.kgf,
entregues à caixa automática de cinco marchas. Maior, o Century agora
media 5,27 m de comprimento, 1,47 m de altura e 3,02 m de entre-eixos,
mantendo a largura de 1,89 m, e pesava 2.050 kg. Os freios tinham discos
ventilados nas quatro rodas e sistema antitravamento (ABS) e a suspensão
traseira agora era independente.
Como o antecessor, o segundo Century passou por poucas e lentas
modificações. Em 2003 era adicionada uma versão movida a gás natural, em
que o motor perdia um pouco do rendimento e ficava com 258 cv. Dois anos
depois a caixa automática passava a ter seis marchas, o motor tinha as
emissões poluentes reduzidas e os passageiros do banco traseiro ganhavam
monitores de DVD. Nova grade aparecia em 2007 e, no ano seguinte, o
carro recebia sintonizador de TV digital e
faróis de xenônio. Em 2010 a Toyota introduzia vidros laminados com
alta reflexão de raios ultravioleta e comando por voz para sistemas como
o de navegação.
Com praticamente um só adversário no mercado local — o
Nissan President, também com
longa história e estilo conservador —, o Century assumiu em 2006 a
função de transporte oficial do imperador Akihito, antes usuário de um
Prince Royal 1967 fornecido pela Nissan. O nobre passageiro dispõe de
uma versão especial chamada Century Royal, com oito lugares, maiores
dimensões — 6,15 m de comprimento —, portas
traseiras com abertura para trás, suspensões com molas pneumáticas e um
peso expressivo de 2.920 kg.
Existem também versões com volante à esquerda destinadas a outros
países, em geral para uso por embaixadas, já que não há exportação
regular do modelo. Adaptações para carro fúnebre são feitas por empresas
especializadas. E uma versão conceitual foi apresentada pelo fabricante
no Salão de Tóquio de 1975 com motores elétricos e turbina a gás. O
Century Gas Turbine Hybrid usava 20 baterias de 12 volts — imagine o
peso total — para alimentar um motor elétrico junto a cada roda
traseira. Apenas com eletricidade era possível alcançar 120 km/h; com
querosene para a turbina, a máxima passava a 160 km/h.
Embora não seja mais o carro de maior preço vendido pela Toyota no Japão
— hoje a versão híbrida do Lexus
LS representa essa posição na marca —, o Century permanece um
símbolo de classe, conforto, estilo tradicional e sobriedade para a
indústria daquele país. A julgar pela longevidade da primeira geração e
pela fidelidade de seus nobres clientes, não será surpresa se ele chegar
ao próprio centenário.
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