


O sedã 2000 que deu origem a
nosso FNM JK: linhas inspiradas nos norte-americanos, bancos inteiriços
e conforto para longos percursos


O Spider da Touring (vermelho)
lembrava o sedã, mas era descontraído; no cupê Sprint de Bertone, os
primeiros quatro faróis usados pela Alfa |
Entre 1950 e 1959 a italiana Alfa Romeo produziu o modelo
1900, um sedã de linhas arredondadas que
inaugurou na marca o uso da estrutura
monobloco e da produção em linha de montagem. Com mais de 20 mil
unidades fabricadas, o 1900 pode ser considerado um sucesso para seu
tempo — e deu origem a diversas interpretações mais esportivas, com
carrocerias elaboradas por empresas como Boano, Farina, Touring e Zagato.
Antes que o 1900 encerrasse seu ciclo no mercado, porém, a gama Alfa
Romeo ganhou aquele que seria seu sucessor. O modelo 2000, que estreava
no Salão de Turim, Itália em novembro de 1957, buscava uma categoria
pouco superior à do 1900 e à do mais recente
Giulietta. Para os
brasileiros, esse Alfa tem um sentido especial: foi a base para que a
Fábrica Nacional de Motores lançasse aqui o FNM 2000 JK, em abril de
1960, marcando um passo importante na indústria nacional em termos de
refinamento técnico (leia
história). Por outro lado, na Europa o 2000 e seu sucessor 2600
tiveram versões mais esportivas que não chegaram à fábrica no Brasil.
As formas discretas do 1900 davam lugar no 2000 a um estilo imponente,
com influência da indústria norte-americana em elementos como os
para-lamas traseiros, em forma de "rabos de peixe" e encerrados em
lanternas verticais. Os Estados Unidos representavam na época o centro
da indústria automobilística mundial, a principal referência em técnica
e estilo, o que explica o estilo americanizado também de outros sedãs
europeus do mesmo período, como o Fiat 1800/2100
e o Peugeot 404. Outras diferenças
marcantes no desenho, em relação ao do antecessor, eram os para-lamas
dianteiros mais altos que o capô, para-brisa e vidro traseiro mais
envolvente, vidros laterais maiores e uso mais extenso de frisos e
adornos. A frente, claro, ostentava o escudo tradicional da marca.
No interior, o uso de alavanca de câmbio na coluna de direção — junto ao
grande volante de dois raios com aro de buzina — permitia o emprego de
dois bancos inteiriços, para que o 2000 levasse até seis pessoas com
relativo conforto. O painel combinava um conta-giros circular a um
velocímetro em escala horizontal. Com a concepção clássica de motor
longitudinal e tração traseira, o 2000 aproveitava em parte a plataforma
do 1900, mas com distância entre eixos e bitolas ampliadas. O sedã de
quatro portas media 4,71 m de comprimento, 1,70 m de largura, 1,43 m de
altura e 2,72 m entre eixos; pesava 1.340 kg.
Também do 1900 vinha o motor de quatro cilindros em linha e 1.975 cm³,
com duplo comando de válvulas no cabeçote,
bloco de ferro fundido e alimentação por dois carburadores. Alguns
acertos elevaram a potência a 105 cv e o torque a 15,5 m.kgf: era pouco
para conferir a esportividade habitual da marca ao pesado sedã, mesmo
com a caixa manual de cinco marchas (todas
sincronizadas) sendo escalonada para quinta de desempenho, ou seja,
com relações próximas entre si. Por
outro lado, a velocidade máxima de 160 km/h impressionava bem diante do
patamar de desempenho da época. A suspensão independente na frente usava
braços sobrepostos, enquanto a traseira recorria ao clássico eixo
rígido, ambas com molas helicoidais. Tambores com aletas para dissipar o
calor freavam as rodas de 400 mm (15,7 pol de aro) com pneus radiais
165-400.
Um ano depois do sedã, no mesmo Salão de Turim, a Alfa apresentava o
2000 Spider, denominação comum na marca para pequenos conversíveis. A
plataforma do 1900 Super Sprint, de menor entre-eixos (apenas 2,50 m),
recebeu uma carroceria elegante e exclusiva, projetada e construída pela
empresa Touring. Mesmo que os elementos básicos de desenho do
quatro-portas estivessem presentes, o Spider mostrava classe e tempero
esportivo com seu perfil mais baixo e a cabine de dois lugares recuada,
típica dos roadsters.
Apesar das menores dimensões (4,50 m de comprimento, 1,66 m de largura,
1,32 m de altura), permanecia um carro amplo e confortável, destinado a
agradáveis viagens e não apenas a curtir um percurso sinuoso e travado.
O motor de 2,0 litros vinha levemente modificado — com maior
taxa de compressão e três carburadores
Solex 44 de corpo duplo — para obter 115 cv e, dentro da proposta
jovial, a alavanca de câmbio estava no assoalho. Bem mais leve, pesava
1.180 kg; com o auxílio da melhor aerodinâmica, alcançava 175 km/h. Em
1961 viria uma opção de 2+2 lugares, isto é, com um pequeno banco
traseiro para crianças.
Continua
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