A mãe dos carros de mamãe

Com teto alto e portas corrediças, a Nissan Prairie inaugurou em 1982
um segmento que ganharia milhões de adeptos: o das minivans

Texto: Fabrício Samahá - Fotos: divulgação

A provável inspiração vem do conceito Lancia Megagamma, desenhado por Giugiaro e apresentado em 1978, mas que não entrou em produção

Mesmo sem os retrovisores avançados (usados só no Japão), harmonia não era o forte da Prairie, cujo teto era muito alto em relação ao capô

Tudo pela praticidade: portas corrediças sem coluna central, bancos que se emendavam ao reclinar e base de acesso à bagagem bem baixa

Cada vez que se fala no início da onda das minivans, vêm à mente três modelos pioneiros: a Nissan Prairie no Japão, a Renault Espace na Europa e a Dodge Caravan nos Estados Unidos. As três foram lançadas num espaço de dois anos e, como atenderam a países diferentes como seus principais mercados, costuma-se atribuir a todas elas o mérito de lançar uma tendência seguida com força nas décadas seguintes. O modelo francês e o norte-americano são bem conhecidos, mas e quanto ao nipônico?

A primeira geração da Prairie (código M10), apresentada no Japão em agosto de 1982, ofereceu algo que não se via desde muito tempo: a opção de sete lugares em um veículo compacto, com 4,09 metros de comprimento, 1,66 m de largura, 1,57 m de largura (quase tão alto quanto largo) e 2,51 m de distância entre eixos. Com exceção da Fiat 600 Multipla dos anos 50 e, claro, da Volkswagen Kombi em suas várias gerações feitas na Alemanha, o consumidor interessado em levar sete pessoas num carro tinha de optar por modelos bem maiores, como a perua Citroën CX ou pesados utilitários esporte. Não havia nada parecido à Prairie no mercado japonês ou no europeu. Suas linhas, que parecem ter sido inspiradas no conceito Lancia Megagamma de 1978, elaborado por Giorgetto Giugiaro, estavam longe de seduzir. Os objetivos eram praticidade e aproveitamento de espaço.

Se até o capô a minivan parecia um automóvel comum, dali para trás havia importantes diferenças: o teto era muito mais alto (cerca de 20 centímetros a mais que um carro médio típico da época) e havia duas portas laterais traseiras corrediças, ideais para acesso em locais apertados, como junto a paredes ou muito próximo de outro carro ao lado. Os vidros acompanhavam a altura anormal de forma até exagerada, pois os laterais traseiros chegavam ao patamar do teto e o da quinta porta tinha a base mais baixa, como se a intenção fosse tê-los tão amplos quanto possível — uma tendência nos anos 80 que se reverteria mais tarde. Vista de qualquer ângulo, a Prairie mostrava proporções um tanto estranhas, ao contrário da Mitsubishi Chariot (sua concorrente direta de 1983 em diante), em que havia certa harmonia entre a quantidade de chapa e de vidros nas laterais. Não fosse por isso, a Nissan teria conseguido um aspecto até agradável com os elementos retilíneos que eram padrão naquele tempo. No mercado local os retrovisores vinham nos para-lamas dianteiros por exigência da lei.

A Prairie não era prática apenas pelas portas corrediças, que se tornariam marca registrada das minivans (estranhamente, não nos modelos compactos que hoje existem em várias marcas, no Brasil inclusive). Não havia coluna central, sendo as portas dianteiras e traseiras travadas em cima, embaixo e umas às outras, o que permitia acesso ainda mais fácil ao interior. Isso exigiu um suporte para a ancoragem superior dos cintos de três pontos, para que ficassem à mão dos ocupantes como se houvesse as colunas. Os bancos dianteiros, se removidos os encostos de cabeça, podiam ser reclinados até se encaixar nos assentos traseiros, enquanto o encosto de trás admitia reclinação em cerca de 45 graus: assim, o interior podia acomodar objetos volumosos ou mesmo servir para um descanso. Com o banco traseiro rebatido, a compacta minivan liberava espaço com 1,40 metro no sentido longitudinal e acomodava grandes volumes com o benefício da altura generosa. O acesso ao compartimento de bagagem era excelente graças ao recorte no para-choque, que deixava o assoalho plano e baixo bastante próximo do solo. E tudo isso podia ser associado a mais dois lugares na parte traseira, opcionais.

O motor inicial era um quatro-cilindros de 1,5 litro com comando de válvulas no cabeçote e alimentação por carburador, que fornecia potência de 75 cv e torque de 12,4 m.kgf
suficientes para suas pretensões e para o peso de 1.020 kg, embora a situação se complicasse com sete pessoas a bordo. Logo aparecia a opção de 1,8 litro com 90 cv e 15,2 m.kgf, que melhorava bastante o desempenho. O câmbio manual tinha cinco marchas, com alternativa de uma caixa automática de três velocidades (mais tarde com quatro), e a tração dianteira era padrão no começo, mas mais tarde surgia a opção pela integral de uso temporário, recurso bem aceito no mercado japonês. A suspensão independente nas quatro rodas seguia o esquema McPherson na frente e usava braços arrastados na traseira; as rodas eram de 13 pol. Alguns países, como a Inglaterra, a receberam com uma unidade de 1,6 litro no lugar da 1,5 inicial. Continua

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Data de publicação: 11/5/10

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