O escorpião que virou sapo

Sem o glamour das marcas de topo, o Scorpio destacou-se pelo
espaço e foi vítima do excesso de ovais da Ford dos anos 90

Texto: Fabrício Samahá - Fotos: divulgação

De início oferecido só com cinco portas, o Scorpio lembrava o Escort e o Sierra, mas era muito espaçoso e farto em recursos de conveniência

Os motores iniciais ficavam entre 88 e 150 cv, mas um V6 de 195 cv viria mais tarde -- assim como a ampla perua, apresentada só em 1992

Embora sem o prestígio de um Mercedes-Benz, BMW ou Jaguar, vários fabricantes europeus ofereceram modelos grandes de luxo como alternativas mais acessíveis a essas marcas de renome. Citroën, Ford, Opel, Peugeot, Renault e Volvo, entre outras, tiveram em seus catálogos carros sofisticados no acabamento e na mecânica. No caso da Ford alemã e inglesa — a marca até hoje trabalha em paralelo nos dois países para desenvolver seus produtos europeus —, esse representante foi desde 1972 o Granada. Só que o lançamento do terceiro Escort, em 1980 (igual ao primeiro feito no Brasil), e do Sierra em 1982 havia demonstrado a desatualização do Granada, cujas linhas retas destoavam das novas tendências da Ford e de todo o mercado nos anos 80.

Em março de 1985 era apresentado seu sucessor, o Scorpio, produzido na unidade alemã de Colônia. Nos mercados do Reino Unido o consagrado nome Granada foi mantido, sendo a versão de topo chamada de Granada Scorpio. De início estava disponível apenas o modelo de dois volumes e cinco portas. Só em 1990 apareceria o sedã de três volumes, voltado a mercados onde o cinco-portas não era bem aceito, e em 1992 viria a perua — nada de cupê ou sedã duas-portas como no antigo Granada, pois andavam em desuso na categoria. A arquitetura mecânica era tradicional, com motor longitudinal e tração traseira, como no Sierra ou no antecessor.

No estilo, o Scorpio estava em plena sintonia com os mais modernos carros do período. As formas eram suaves, com cantos arredondados, e o cuidado com a aerodinâmica podia ser visto nos vidros nivelados à carroceria, o capô em cunha com grade de perfil baixo e o uso comedido de frisos, vincos e saliências. O Cx era bom para a época, 0,33. Os grandes faróis incluíam unidades auxiliares e o tratamento dado às colunas (em preto fosco) causava a impressão de que os vidros de um lado e de outro fossem ligados pela traseira, pois o friso cromado não era interrompido. O três-volumes ostentava um porta-malas elevado e lanternas traseiras menores.

O hatch media 4,67 metros de comprimento, 1,76 m de largura, 1,39 m de altura e 2,76 m de distância entre eixos. Sedã e perua seriam mais longos, 4,74 m, com o mesmo entre-eixos. Todos ofereciam exuberante espaço interno, sobretudo para as pernas de quem viajava no banco traseiro. O interior era muito bem-acabado e farto em equipamentos de conveniência, além de ter um painel elegante e de fácil leitura. A versão Ghia, mais luxuosa, vinha com ajuste elétrico dos bancos dianteiros e da reclinação dos traseiros, volante regulável em altura e distância, computador de bordo, desembaçador elétrico do para-brisa (por sistema similar ao do vidro traseiro), sistema de verificação de sistemas e comandos de áudio e ar-condicionado para quem viaja atrás.

Quatro motores equipavam o Scorpio de início. Os de quatro cilindros, com cilindradas de 1,8 e 2,0 litros, eram da série Pinto, assim apelidada por ter equipado tal modelo da Ford norte-americana. Lançada nos anos 60, tinha comando de válvulas no cabeçote e rendimento adequado: potência de 88 cv e torque de 14,3 m.kgf no primeiro, com carburador, e 115 cv e 16,3 m.kgf no segundo, dotado de injeção eletrônica. Mais potentes eram as unidades V6 da antiga série Cologne (Colônia), nome que a distinguia da linha Essex feita na Inglaterra e usada em outros modelos. Com comando no bloco, o de 2,4 litros fornecia 128 cv e 20,7 m.kgf, e o de 2,8 litros, 150 cv e 22,2 m.kgf, valores modestos para as cilindradas. O maior permitia acelerar de 0 a 100 km/h em 9,1 segundos e alcançar 204 km/h.

O Scorpio usava câmbio manual de cinco marchas e oferecia um automático de quatro para o motor V6, que passava a 2,9 litros e 23,8 m.kgf (com os mesmos 150 cv) caso se assinalasse essa opção. O 2,8 podia também vir com tração integral, bem recebida nos países de inverno rigoroso. As suspensões de toda a gama eram atuais (dianteira McPherson e traseira por braços semi-arrastados, ambas com molas helicoidais e estabilizador) e a de trás podia receber nivelamento automático de altura por molas pneumáticas auxiliares. Era o primeiro carro de produção no mundo a contar, em seus freios a disco nas quatro rodas, com sistema antitravamento (ABS) de série em toda a linha. Os pneus variavam da medida 185/80 R 14 à 205/60 R 15. Continua

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Data de publicação: 26/5/09

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