O sonho americano

Criada pelo desejo de vencer em Le Mans, a Cunningham
honrou essa vontade mesmo sem chegar ao topo do pódio

Texto: Fabiano Pereira - Fotos: Supercars.net e divulgação

Briggs Cunningham começou correndo nas ruas com um Dodge equipado com motor de avião Hispano-Suiza. De uma próspera família de Cincinnatti, Ohio, o piloto americano nasceu em 1907 e começou a pilotar após a Primeira Guerra Mundial. Modelos da Jaguar, Ferrari, Lister, OSCA e Abarth, além do Chevrolet Corvette, passariam por suas mãos, mas seu maior sonho era vencer a prova francesa 24 Horas de Le Mans com equipe e carro americanos. Sua estratégia o levou a produzir os próprios automóveis, a maior parte para corrida, com motores Cadillac e Chrysler. A série Cunningham C surgiu na primeira metade dos anos 50.

Foi uma época frutífera para fãs americanos de carros esporte nos moldes europeus, quando surgiram o Corvette, o Ford Thunderbird, o Nash-Healey e o Kaiser-Darrin. Depois de tentar em vão emplacar na prova francesa seu Fordillac, um Ford 1950 com motor Cadillac, visto pelos organizadores como um hot rod, ele preparou dois Caddies para correr em Le Mans. O mais preparado deles foi chamado de Le Monstre (o monstro) e, mesmo ficando em 10º e 11º lugares, a dupla permitiu que a equipe ganhasse popularidade na França. Mas foi em 1951 que o nome Cunningham obteve maior destaque nas corridas e na história do automóvel.

Exemplar único, o C-1 de 1951 usava motor V8 de 5,4 litros e 180 cv da Cadillac, chassi tubular e componentes de suspensão da Ford

Nascia a B.S. Cunningham Company em West Palm Beach, Flórida. O carro de corrida da equipe Cunningham com o qual seu fundador planejava vencer Le Mans, chamado de C-1, ficara pronto no fim do ano anterior e não negava as origens da equipe. Usava um motor V8 da Cadillac com válvulas no cabeçote, 5,4 litros, potência bruta (padrão neste artigo) de 180 cv a 5.200 rpm e câmbio manual de três marchas. Embora tenha ficado conhecido como o primeiro modelo da empresa, o C-1 era na verdade o protótipo do qual seria feito o C-2, portanto apenas um exemplar foi concluído.

O chassi usava tubos de aço com uma estrutura em "X" no centro. A suspensão dianteira, independente com braços sobrepostos e molas helicoidais, se baseava no sistema da Ford. Na traseira ia um eixo De Dion de fabricação própria. Os freios eram a tambor com comando hidráulico. Com 4,34 metros de comprimento, 1,78 m de largura, 2,67 m de entreeixos e 1.260 kg de peso, ele aparentava ser um perfeito roadster europeu, com sua longa frente, traseira descendente e pára-lamas ressaltados. As linhas curvas imperavam. O C-2 R de 1951 era quase igual por fora, mas na mecânica, sem apoio e fornecimento de motor da Cadillac, Briggs foi obrigado a procurar alternativas. Encontrou a da Chrysler, para a qual trabalhara no projeto do motor Hemi.

Os bons resultados com o C-2 R (foto no alto) nas competições, já com motor Chrysler, incentivou a produção do C-3 (ao lado), um Cunningham de luxo para rua

A empresa ofereceu-lhe um V8 de igual cilindrada e potência. Mas Cunningham conseguiu elevá-la a 270 cv a 5.500 rpm por meio da adoção de quatro carburadores Zenith DD, taxa de compressão mais alta e mudanças no comando de válvulas e nos sistemas de admissão e escapamento, feitas para as provas de Watkins Glen e Elkhart Lake. O chassi do C-1 foi mantido, até com tambores de freio da Cadillac, mas recebeu amortecedores Chrysler Oriflow e Houdaille e direção mais rápida. Das três unidades concluídas, uma chegou a registrar 243 km/h na corrida de Le Mans. Os 1.530 kg de peso, porém, limitavam sua agilidade e sobrecarregavam os pneus de aro 16 e os freios.

Em Glen, Phil Walters e John Fitch chegaram em primeiro e segundo lugares, na ordem. Briggs Cunningham foi o quarto colocado. Foi por resultados assim que ele decidiu, ainda em 1951, construir o C-3 sobre o chassi do C-1. A idéia era oferecer uma versão de rua do esportivo de competição com acabamento requintado. Os chassis eram enviados a Turim, na Itália, para receber a carroceria Vignale desenhada por Giovanni Michelotti e então retornar à América para acabamento final e entrega. Continua

Carros do Passado - Página principal - Escreva-nos - Envie por e-mail

Data de publicação: 15/4/08

© Copyright - Best Cars Web Site - Todos os direitos reservados - Política de privacidade