O Fiat que foi para a lama

Produzido em duas gerações por 36 anos, o Campagnola
conquistou os italianos com simplicidade e robustez

Texto: Fabrício Samahá - Fotos: divulgação

A Fabbrica Italiana Automobili Torino, ou Fiat, produziu poucos modelos fora-de-estrada em sua história de mais de um século (foi fundada em 1899). O pequeno jipe Campagnola, fabricado de 1951 a 1987 em duas gerações, talvez seja o mais conhecido deles. Seu projeto nasceu de uma concorrência feita pelo governo italiano, poucos anos depois do fim da Segunda Guerra Mundial, para definir o novo Autovettura di Ricognizione (AR) ou veículo de reconhecimento a ser usado pelo exército.

A Alfa Romeo — então desvinculada da Fiat, pela qual seria absorvida em 1969 — também participou do estudo com o Matta, mas o Campagnola foi o vencedor. Seu desenho, característico do tipo de veículo, lembrava o do Jeep Willys americano em menor proporção, com dois faróis circulares, grade formada por vãos estampados na própria carroceria, pára-lamas dianteiros salientes e laterais traseiras planas. O pára-brisa era bipartido e — detalhe inusitado e prático — as portas podiam ser abertas em 180° e travadas junto às laterais, deixando livre o vão de acesso sem a necessidade de retirá-las.

O Campagnola de 1952, ao lado, e 20 anos depois, acima: evoluções discretas em um jipe valente e com boas soluções, como as portas que travavam abertas a 180°

O primeiro Campagnola era identificado como 1101 (número do projeto) ou, no caso da versão militar, AR-51, em alusão ao ano de lançamento. Podia ter capota rígida ou de lona e diferentes distâncias entre eixos. A mais comum era a de 2,30 metros e teto rígido, com 3,77 m de comprimento, 1,60 m de largura e 1,94 m de altura. O motor inicial era o mesmo que seria usado a partir do ano seguinte no sedã 1900, com quatro cilindros em linha, cilindrada de 1.901 cm³ e comando de válvulas no bloco. No jipe, porém, era recalibrado para maior força em baixa rotação e fornecia potência de 53 cv a 3.700 rpm (ante 60 cv do sedã) e torque máximo de 13,1 m.kgf.

Tinha câmbio manual de quatro marchas (a primeira não sincronizada) e tração temporária nas quatro rodas, com redução. Em um tempo em que eixos rígidos eram o padrão em jipes, o Campagnola já usava suspensão dianteira independente, a mesma do sedã 1100 lançado em 1948. A traseira, com eixo rígido e feixe de molas semi-elíticas, vinha do utilitário 1100 ELR. Com estrutura de carroceria sobre chassi, o utilitário pesava cerca de 1.300 kg, tinha freios a tambor e pneus na medida 6,40-16.

Com a série A, em 1955, chegavam a opção de motor a diesel, sistema elétrico aperfeiçoado e maior capacidade de carga

O pequeno jipe foi um sucesso em numerosas aplicações, tanto militares quanto civis. As polícias militar (Carabinieri), rodoviária (Polizia Stradale) e florestal, o corpo de bombeiros e as frotas governamentais compraram grande quantidade deles. Outros foram às mãos de consumidores comuns, em geral fazendeiros que precisavam de um veículo barato e valente para uso na zona rural e na urbana. O material de divulgação da Fiat destacava atributos como a capacidade de rebocar três toneladas, a "grande economia de operação" e a múltipla aplicação em atividades na agricultura. Continua

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Data de publicação: 16/1/07

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