Apelo selvagem

Com o único motor central já feito em série por Detroit, o
Pontiac Fiero foi uma surpresa americana nos anos 80

Texto: Fabiano Pereira - Fotos: divulgação

A década de 1980 figura entre as menos valorizadas da história de Detroit. Os carros americanos da época eram quase tão pequenos quanto os europeus e japoneses, sem a extravagância que os celebrizou, resultado da crise do petróleo que afetou a economia dos Estados Unidos de 1973 em diante. Mas a racionalidade com que a indústria local projetava carros foi dosada com interessantes exercícios de criatividade em variados segmentos, como o Chevrolet Citation, as minivans da Chrysler, o Ford Taurus e o Mercury Sable, o Cadillac Allanté e o Buick Reatta. Neste grupo ainda consta, com destaque, o esportivo Pontiac Fiero.

O Fiero começou a ser produzido em agosto de 1983 e disputou os holofotes na linha 1984 com a quarta geração do Chevrolet Corvette. A idéia do projeto surgira em 1969 como sugestão de John De Lorean, pai do Pontiac GTO e do DeLorean DMC-12. Associada a carros esportivos desde que o GTO inaugurou o segmento dos "musculosos" em 1964, essa divisão da GM teve sua imagem reforçada com o Firebird de 1967. E foi esse famoso modelo da marca que até deu origem a um carro-conceito de motor central em 1971.

Três volumes, motor entreeixos de quatro cilindros, dois lugares: a receita do Fiero, que lembrava a do Porsche 914, tinha atributos para agradar

Todavia, um modelo esportivo de série exclusivo da Pontiac — e com motor entre os eixos — só se tornaria uma realidade com a chegada do Fiero. A inspiração certamente vinha da Europa, em especial do Porsche 914, lançado naquele ano também com motor central de quatro cilindros, dimensões enxutas, três volumes bem definidos, dois lugares e faróis escamoteáveis. Outros seguidores desse Porsche seriam o Fiat X 1/9, lançado em 1972, e o primeiro Toyota MR-2, contemporâneo do Fiero.

Desenhado por Hulki Aldikacti, o pequeno esportivo da Pontiac era muito atraente, mas, diferente do 914 e do X1/9, não seguia o conceito targa. Seu nome significava "orgulhoso" em italiano e "selvagem" em espanhol. Sprint, P3000, Pegasus, Fiamma, Sunfire e Firebird XP foram algumas alternativas consideradas para identificar o modelo. Tendo recebido o sinal verde em 1979, ano da segunda grande crise do petróleo, o projeto foi elaborado num momento em que as prioridades da GM eram reduzir o consumo e as emissões de poluentes. A fábrica o anunciava como carro para viagens curtas, não um esportivo legítimo.

Apesar das linhas atraentes, a expectativa gerada pelo carro-madrinha de 232 cv (foto) causou decepção com o desempenho da versão de produção, que ficava em 92 cv

Primeiro Pontiac de dois lugares desde os cupês feitos de 1926 a 1938 e com preço a partir de US$ 8 mil, o Fiero vendeu 136.840 unidades em seu primeiro ano no mercado. Ele foi interpretado como um carro esporte pelo público e a GM teve parte da responsabilidade por isso. E nem só por causa da arquitetura e do estilo do modelo. Com um motor quatro-cilindros Super Duty de 2,7 litros, potência de 232 cv e torque de 29 m.kgf, a Pontiac criou um Fiero para ser carro-madrinha da 500 Milhas de Indianápolis.

Embora esse motor não tenha sido adotado na versão de produção, o acabamento diferenciado dessa unidade chegou às lojas em uma série especial, a Indy Pace Car. Era de se prever a associação de visual com desempenho, mas a realidade encontrada nas lojas era muito mais modesta. Munido do antigo quatro-cilindros Iron Duke de 2,5 litros, com comando de válvulas no bloco, injeção de combustível, 92 cv e 18,6 m.kgf, ele mal chegava a 160 km/h e acelerava mal com o peso de 1.135 kg. O câmbio manual de quatro marchas, que vinha com duas opções de relações, fazia par com a caixa automática de três velocidades. Continua

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Data de publicação: 28/11/06

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