Um projetista multitarefa

Philippe Charbonneaux desenhou de barcos a escovas de dentes e, no
ramo de automóveis, foi o criador de ideias muito interessantes

Texto: José Geraldo Fonseca - Fotos: divulgação

Uma das ilustrações de Charbonneaux para revistas e o Delahaye 135M retratado em catálogo; no alto, o modelo 235 que o francês desenhou

 
 

Motor central, motorista no meio dos passageiros, certa aerodinâmica: elementos ousados do projeto para Jean Pierre Wimille, feito em 1948

O que pode haver em comum entre o desenho de um televisor e o de um carro? Talvez o fato de serem do mesmo projetista. Se for essa a resposta, é muito provável que o autor de ambos seja Philippe Charbonneaux, um dos poucos desenhistas que conseguiu sucesso projetando tipos tão diferentes de bens.

Se os televisores atuais, muito finos e quase totalmente ocupados pelas telas, não permitem a inserção de elementos de estilo encontrados em veículos, os aparelhos das décadas de 1950 e 1960, com grandes gabinetes e telas minúsculas, permitiam essa ousadia, bem aproveitada por Charbonneaux em seus futurísticos aparelhos de TV. E ele também seguia o caminho inverso, com parte dos elementos de estilo dos televisores sendo adotados em seus veículos.

Philippe Charbonneaux nasceu em 18 de fevereiro de 1917 em Reims, França. Seu pai era um importante agricultor, conhecido por seu papel pioneiro na industrialização de produtos agrícolas. Na escola, Philippe passava seu tempo desenhando aviões na classe, com uma paixão precoce pela aviação. Depois de fazer um curso de idiomas na Inglaterra, prestou o serviço militar na Força Aérea de seu país, onde recebeu a tarefa de traduzir manuais de pilotagem e de manutenção de aeronaves.

Em seu tempo de lazer desenhava carros, sua outra paixão, e enviava os desenhos a grandes encarroçadores parisienses da época, como Franay, Figoni & Falaschi e Saoutchick. Durante a Segunda Guerra Mundial, depois de outra viagem à Inglaterra — onde trabalhou como tradutor — e de uma missão no Marrocos, ele retornou a Reims. Observador atento da força aérea alemã, informava às autoridades francesas das novidades que havia observado nas esquadras inimigas. Ocupava seu tempo livre fazendo pinturas a guache das aeronaves envolvidas no conflito.

Após o fim da guerra, seus desenhos eram ilustrados com frequência nas capas das revistas Science et VieL'Equipement Automobile  e Le Monde Illustré,  entre outras. Com certa notoriedade por suas capas de revista, a Charbonneaux foi confiada em 1947 a elaboração das ilustrações de promoção de vendas da Delahaye. Logo também estava ilustrando os catálogos da Delage. Um ano depois ele cruzava um marco em sua carreira, quando a Delahaye lhe delegou a modernização do estilo de seus carros. Com talento, definiu a silhueta do modelo 235, integrando para-lamas e faróis de maneira incomum. O protótipo foi construído na Itália pela encarroçadora Motto. Uma versão esporte, chamada Grand Prix, também foi desenhada por ele.

No ano anterior, Charbonneaux havia sido procurado pelo piloto Jean Pierre Wimille para desenhar a carroceria de um carro que ele planejava produzir em pequena série. A especificação era, ao mesmo tempo, simples e inovadora. O carro deveria ser leve e rápido, com o diferencial de oferecer três lugares em linha — com o motorista no centro e um pouco mais adiante, como se veria quatro décadas depois no McLaren F1 — e motor em posição central. A aerodinâmica era um elemento importante do estudo.

O carro de Wimille causou sensação no Salão de Paris, em outubro de 1948. Alguns destaques do desenho eram a parte superior em formato aproximado de gota, as portas entrando pelo teto e aletas onde normalmente ficaria o vidro traseiro. Mas a morte de Jean Pierre durante teste para o Grande Prêmio da Argentina, em 28 de janeiro de 1949, encerrou o projeto.

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Data de publicação: 24/3/12

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