
O Cooper Monaco ou "King Cobra"
(esquerda), com motor Ford 429, e o Cobra Daytona Coupe, que bateu os
recordes de Riverside de imediato


Em Le Mans de 1965, Carroll
comandava a equipe da Ford; o Daytona vencia na categoria GT e o GT40
(embaixo) estreava na de protótipos


Shelby com a versão Mk IV do
GT40; sob seu comando, a Ford venceu Le Mans por quatro vezes
consecutivas e tirou a Ferrari da hegemonia |

Nos EUA ele dominou as provas da categoria A do SCCA, mas sua
aerodinâmica não ajudava em provas europeias de alta velocidade, como Le Mans.
Então, Pete Brock sugeriu desenhar um cupê de linhas fluidas para receber a
mesma mecânica, o que Shelby aceitou, embora sem acreditar que seria o bastante.
Pois estava errado: quando o Cobra Daytona Coupe fez seu primeiro teste em
Riverside, em 1964, bateu de imediato todos os recordes do circuito! Capaz de
superar 300 km/h, o cupê mostrou grandes resultados, vencendo Le Mans na
categoria GT, com Carroll no comando da equipe. Era a primeira vez em que a
Ferrari perdia nessa classe.
Antes do Daytona, Shelby
havia concluído o Cooper Monaco ou "King Cobra", um roadster de corrida com
chassi Cooper e motor Ford de 429 pol³ (7,0 litros) altamente preparado. Apesar
da altíssima potência, o carro beirava o incontrolável por falta de suspensão e
pneus apropriados. Mas Dave MacDonald venceu com ele uma prova no circuito de
Phoenix, em 1964, com um tempo recorde de volta.
O Cobra de rua trocava já em 1963 o motor de 260 pol³ pelo de 289, ou 4,75
litros, para acelerar de 0 a 100 km/h em 5,5 segundos. O mais potente deles,
contudo, nasceu de uma forma inesperada: após aplicar o motor Ford de 429 pol³
ou 7,0 litros em Cobras de corrida, Shelby foi surpreendido com a necessidade de
produzir 100 unidades assim equipadas para homologação, pois a vigente para a
versão 289 não era válida para o novo carro. Como só havia 51 exemplares e
concluir outras 49 a tempo seria impraticável, o 429 não foi homologado — e a
solução foi vendê-lo para uso em rua, de 1965 em diante. Com potência de 425 cv
e torque de 66,4 m.kgf, fazia de 0 a 100 em 4,8 segundos.
O Cobra deixou de ser produzido em 1967, após menos de 1.000 unidades (apenas
287 com o motor de 7,0 litros), mas isso não pôs fim a sua carreira. O próprio
Shelby e a inglesa AC voltariam a fazê-lo nos dois lados do Atlântico, atividade
que persiste ainda hoje, e surgiram infinitas réplicas mundo afora — apesar da
ferrenha oposição de seu criador, que já moveu muitos processos contra os
fabricantes.
O GT40 e a
Ferrari
A parceria com a Ford rendeu outros êxitos. Os carros preparados por
Shelby conquistaram vitórias em provas de arrancada e no Campeonato Mundial de
Carros Esporte de 1966 — o título de construtor da Ford foi o primeiro de uma
equipe norte-americana. Faltava superar a Ferrari em Le Mans na categoria
Protótipos. A tarefa coube ao GT40,
projetado com a participação de Carroll, que venceu a prova quatro
vezes consecutivas de 1966 a 1969. O trabalho em conjunto resultou também em
versões especiais do Mustang, as
GT 350 e GT 500. O primeiro surgiu em
1965 como carro de corridas, o GT 350 R, e venceu o campeonato do SCCA na
categoria B de produção por três vezes, de 1965 a 1967.
Ao fim da década a parceria com a Ford se encerrava. Já no anos 80 Shelby
voltava a trabalhar junto a um grande fabricante.
Lee Iacocca, que nos anos 60 havia
influenciado na parceria entre a Ford e o preparador, era então presidente da
Chrysler Corporation e o convidou para retrabalhar os modelos do grupo. Sábia
decisão, pois a Chrysler vinha oferecendo muito pouco em desempenho e identidade
naqueles tempos difíceis para a indústria norte-americana — penalizada por
limites de consumo e normas de segurança e de emissões poluentes.
O primeiro resultado foi o Dodge
Shelby Charger de 1983, um compacto com motor de 2,2 litros e 107 cv que
recebia de Carroll alterações em suspensão, freios e aparência. Seguiu-se o
Omni GLH ("goes like hell", algo como "anda pra
diabo"), enquanto os modelos Daytona Shelby, Lancer Shelby, Spirit R/T e Daytona
IROC R/T, todos da Dodge, vinham com componentes do preparador, mas sem sua
participação direta no projeto.
Continua
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