

O jovem Nelson de kart (nº 19)
ao lado de Roberto Pupo Moreno, diante da Kombi de apoio em 1974, e
correndo como "Piket" para despistar


Piquet na Divisão 4 nacional,
com o protótipo Camber (em cima), e na Super Vê em 1976 com o carro da
equipe Polar, de Achcar e de Rossi |
Nossa história no automobilismo mundial é muito rica e diversa. Um dos
primeiros nomes de destaque foi Chico Landi, que foi competir na Itália.
No fim da década de 1950 e no princípio dos anos 60, o também paulista
Christian Heins — mais conhecido como Bino — brilhou nas pistas, mas
faleceu num acidente trágico em 1963. Ainda nos 60 despontavam os irmãos
Emerson e Wilson Fittipaldi e
José Carlos Pace, o Moco. Já na
década de 1970, outro brasileiro estreava em pistas europeias para fazer
sucesso. Não era de São Paulo: Nelson Piquet Souto Maior nasceu na
cidade do Rio de Janeiro em 17 de agosto de 1952.
Devido à carreira do pai, o ex-ministro Estácio Gonçalves Souto Maior,
mudou-se na infância para a nova capital federal, Brasília. Já na
adolescência mostrou-se pouco interessado nos estudos. Nos esportes
destacava-se no tênis, mas não o achava emocionante. Seus reflexos eram
melhores para atividades mais excitantes. Logo começou a frequentar as
oficinas da cidade, fazendo boas amizades. Como muitos adolescentes na
época, começou a dirigir antes dos 18 anos e andava forte pelas largas
avenidas. Com as mãos sujas de graxa, mas com muito prazer, era
habilidoso sobretudo com a mecânica Volkswagen. Uma de suas primeiras
corridas foi no circuito do Estádio Magalhães Pinto, em Belo Horizonte,
MG. Conhecido como Mineirão até hoje, tinha o traçado difícil e era
inseguro tanto para os pilotos quanto para o público.
Nelson era amigo do futuro piloto Alex Dias Ribeiro, frequentavam a
mesma oficina. Num Fusca muito bem preparado, com uma Kombi surrada de
apoio e pouco dinheiro, viraram-se Nelson e os mecânicos e tiraram o
primeiro lugar na categoria e quarto na geral. No grid havia Opala,
Corcel, Simca Esplanada e alguns protótipos interessantes. Nesse tempo
também era muito habilidoso no kart, como fora antes nas pistas de
autorama, onde a paixão brotou. Dr. Estácio e dona Clotilde não viam com
bons olhos o começo de vida adulta de seu filho caçula. A irmã Gerusa e
os irmãos Geraldo e Alexis seguiam estudos e carreiras mais ortodoxas.
Com muito custo Nelson completou o segundo grau e passou no vestibular.
O pai prometera a ele um Fusca caso entrasse na universidade. Passou em
Biblioteconomia da Universidade de Brasília e cursou pouco tempo para
justificar o presente.
Outro rapaz de talento, mais novo, fazia parte da turma: Roberto Pupo
Moreno. Ambos usavam os karts da Oficina Induspina-Ideal e os levavam na
velha e fiel Kombi que, por várias vezes, ganhava sobrevida nas hábeis
mãos de Nelson. Nas pistas ele usava um Fusca da mesma oficina com
para-lamas bem largos, motor de 2,0 litros e câmbio de seis marchas — um
foguete na época. Outros amigos no princípio da carreira foram Giu
Ferreira, Ricardo Achcar e Ronaldo Rossi, engenheiro mecânico e
proprietário da Polar, que fazia o protótipo de mesmo nome com mecânica
VW. Era a disputada Divisão 4 do campeonato nacional, que tinha
concorrentes como Avallone, Heve e Manta. Na disputa entravam pilotos
famosos da década de 1970 como Alfredo Guaraná Menezes, Francisco
Lameirão, Pedro Muffato, Jan Balder, Antonio Carlos Avallone e Pedro
Victor de Lamare.
Nelson começava a sair do eixo Brasília-Goiânia, onde correu pela equipe
Camber para alçar voos maiores. Em 1973 foi correr na Divisão 1 com os
mesmos patrocinadores da época do kart e do Fusca, mas agora estava com
um Opala de seis cilindros que, apesar de competitivo, não era páreo ao
Maverick V8, bem mais potente. As provas eram em Brasília, na famosa Mil
Quilômetros; em Interlagos, em São Paulo; e em Tarumã, no Rio Grande do
Sul.
Em sua primeira prova, Piquet chegou em nono lugar em dupla com
Pedro Leopoldo. Na época via com bons olhos uma categoria que se firmava
a cada ano: a Fórmula Super Vê.
Continua
|