Exner e um de seus trabalhos
para a Studebaker: o cupê Starliner com vidro traseiro envolvente, no
entanto atribuído ao mais famoso Loewy
De cima para baixo, Chrysler
K-310, Flight Sweep I, Diablo e Falcon: conceitos elaborados pela Ghia e
a equipe de Exner na década de 1950 |
Detroit não era considerada a "capital do automóvel" à toa. Ali as
grandes fábricas norte-americanas — General Motors, Ford e Chrysler —
lançavam tendências para o mundo. Na década de 1950, em que a indústria
japonesa ainda engatinhava e a europeia se reconstruía da Segunda Guerra
Mundial, os Estados Unidos é que apontavam os rumos do estilo dos
automóveis. Alguns homens se destacaram naquele cenário, como
Bill Mitchell, que atuou dos anos
30 aos 70 na GM, e Richard A. Teague, que trabalhou para GM, Packard,
Chrysler e American Motors. Outro nome que não pode ser esquecido
daquele período áureo é Virgil Exner.
Virgel Max Exner nasceu em 24 de setembro de 1909 em Ann Arbor, no
estado de Michigan, e foi adotado ainda bebê por George e Iva Exner.
Interessado por artes e carros desde cedo, estudou arte na Universidade
de Notre Dame, em Indiana, mas abandonou o curso após dois anos por
falta de recursos. Passou então a trabalhar como auxiliar em um estúdio
de arte especializado em publicidade, onde conheceu Mildred Marie
Eshleman, com quem se casou em 1931. Tiveram dois filhos, Virgil Jr.
(que seguiu a mesma carreira do pai) e Brian, morto em um acidente.
Durante os anos 30, Exner se destacou no desenho de anúncios
publicitários — começou pelos caminhões Studebaker — e chamou a atenção
de Harley Earl, chefe de estilo da GM, que o contratou. Aos 25 anos, em
1934, ele já comandava o departamento de desenho da divisão Pontiac — a
pessoa mais jovem nesse cargo na história da corporação até recentemente
— e criava para a marca os modelos 1937 e 1938. Um dia, recebeu uma
proposta do francês Raymond Loewy, da empresa de desenho industrial
Loewy and Associates, responsável pela aparência de itens tão diversos
quanto a geladeira Coldspot e a locomotiva a vapor S1 da Pensilvânia. Se
mudasse de empresa, Virgil ganharia o dobro de seu salário de então; se
ficasse na GM, poderia vir a ser o sucessor de Earl. Optou por mudar — e
mais tarde reconheceria que foi a decisão certa, até porque Harley levou
mais 21 anos para se aposentar.
Em 1938 passava a desenhar no estúdio de Loewy, em Nova York, carros
como os modelos 1939 e 1940 da Studebaker e veículos militares para os
tempos de conflito. Não foi um período fácil, pois Loewy fazia questão
de assinar todos os trabalhos e deixava pouca liberdade aos
funcionários. Roy Cole, vice-presidente de engenharia da Studebaker,
sugeriu a Virgil que trabalhasse em projetos alternativos, em casa, para
a hipótese de se romper o negócio entre Loewy e a empresa. Em 1944 a
Studebaker recebia do estúdio um projeto para o que seria seu primeiro
carro do pós-guerra. Pediram para ver também os desenhos alternativos de
Exner e, para surpresa de Loewy, esses foram os escolhidos. Raymond
reagiu demitindo o desenhista, que logo foi contratado diretamente pela
Studebaker.
Também coube a Virgil, como atesta o registro de patente, o desenho
final do cupê Starliner de 1947, parte da linha
Commander/Champion que foi a primeira a trazer algo novo ao mercado
— todas as outras marcas mantiveram por mais tempo em linha os velhos
modelos de 1942. O Starliner era um cupê de cinco lugares com desenho
inusitado na parte traseira da cabine: quatro seções formavam um vidro
tão envolvente que dispensava janelas laterais atrás das portas. Apesar
das críticas — havia quem perguntasse se o carro estava indo ou vindo —,
a proposta chamava atenção. Contudo, a fama de sua autoria coube a Loewy,
homem influente dentro da empresa e um nome de forte apelo publicitário
na época.
Após contratar Virgil como chefe de estilo, a Studebaker chamou Raymond
para trabalhar com ele e com a equipe que incluía Bob Bourke e Gordon
Buehrig, este projetista da antiga Auburn-Cord-Duesenberg. Bourke, que
sucederia Exner no cargo, disse em 1985 que "Loewy não sabia desenhar
automóveis, de jeito nenhum. Ele era ridículo em termos de carros — e
sabia disso". A difícil relação de trabalho fez com que Virgil deixasse
a Studebaker. Roy Cole apresentou-o à Ford e à Chrysler — e foi nesta
que ele ingressou em 1949 no Grupo de Estilo Avançado, ao lado de Cliff
Voss e Maury Baldwin.
No fim dos anos 40, os desenhos da Chrysler estavam defasados. Os carros
eram altos, tinham cabine retilínea e formas sem inspiração. O novo
projetista empenhou-se em reverter essa situação, mas isso levaria algum
tempo. Para testar a aceitação a propostas revolucionárias, sua equipe
fez ousados carros-conceito — chamados de Idea Cars ou "carros ideia" —
em parceria com a Carrozzeria Ghia de Turim, na Itália, chefiada por
Luigi Segre, como Chrysler d'Elegance e K-310, Dodge Firearrow III e
DeSoto Adventurer (um modelo homônimo, mas bem diferente, seria
produzido mais tarde). As formas simples e charmosas do d'Elegance
inspiraram o Volkswagen
Karmann-Ghia. Continua
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