O
que seria de um Editorial de fim de ano sem uma retrospectiva do que
se passou nesses 12 meses? Relembrar os fatos mais importantes de
2011 é obrigatório, seja para comemorar o que aconteceu de melhor ou
para aprender com o que não foi como deveria. Então, vamos em
frente.
O ano começou com dois lançamentos em classes bem distintas em
janeiro: o Chery QQ, um chinês entre os carros mais baratos do
mercado, e o novo Grand Cherokee da Jeep. Em fevereiro ocorreu o
primeiro lançamento de uma fábrica instalada no País, o do Peugeot
408. Em março vieram quase juntos o Toyota Corolla com leve
reestilização e o todo novo Volkswagen Jetta, além do Volvo S60 e da
estreia da chinesa JAC com o compacto J3.
Abril teve poucos lançamentos: apenas o Audi A7 e a versão nacional
do Mitsubishi Pajero Dakar. Maio compensou o atraso com uma
avalanche de novidades: Citroën C3 Picasso, Sandero retocado, Audi
A1, VW Passat e Mercedes-Benz Classe C remodelados, novas gerações
do Mercedes SLK e do VW Touareg. Seguiu-se um junho aquecido pela
chegada do BMW 1 M Coupe, do Fiat Bravo T-Jet depois de longo
atraso, do cupê Kia Cerato Koup e do grande Cadenza da mesma marca.
Julho marcou poucas alterações no Ford Ka e no VW Polo, ao lado do
lançamento à imprensa do MG6 e do MG 550. Agosto foi de dar gosto em
quem aprecia importados, pois foram apresentados os compactos Fiat
500 (que passava a vir do México) e Kia Picanto de segunda geração,
a minivan JAC J6 e o utilitário esporte Fiat Freemont. Como
contraponto, a "aventureira" VW Space Cross vinha da Argentina.
Em setembro mais um mexicano ganhou espaço no mercado, o Nissan
March, ao lado do Chevrolet Cruze de produção local e dos
sul-coreanos Hyundai Elantra e Veloster. Outubro foi outro mês
movimentado com as chegadas de Renault Duster, Ford Fiesta mexicano
em carroceria hatch, Audi A6, Range Rover Evoque, Mitsubishi Lancer
sedã e hatch, o cupê esporte Peugeot RCZ e o VW Tiguan atualizado.
Veio novembro com lançamentos importantes: segunda geração do Fiat
Palio, quarta (em termos de fabricação brasileira) do Honda Civic e
os sedãs compactos, mas crescidos, Nissan Versa e Chevrolet Cobalt,
além de uma renovação para Toyota Hilux picape e SW4. Enfim,
dezembro deu um merecido descanso aos jornalistas, sendo apenas
introduzido o VW Amarok de cabine simples. |
Protecionismo
À parte os novos modelos e versões, o mercado foi movimentado por
outros fatores. A indústria não tem de que se queixar: no acumulado
de janeiro a novembro, 2011 superou 2010 na produção de veículos (em
quase 1%), nos licenciamentos (em 4,8%) e até nas exportações (em
4,7%), apesar das reclamações de que a baixa cotação do dólar torna
os produtos locais menos competitivos no exterior.
Em que pese o cenário tão favorável a quem produz no Brasil, o
governo federal criou a necessidade de proteger a "indústria
nacional" por um indigesto aumento de 30 pontos percentuais no
Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para modelos
importados, excluindo aqueles trazidos do México e do Mercosul por
empresas que fabriquem carros aqui. Tudo devidamente costurado para
causar pouco impacto às marcas instaladas no Brasil — que são as
grandes importadoras de carros — e grande efeito àquelas que só
importam, mesmo que em volume bem menor.
A medida foi contestada, sobretudo por não ter respeitado o prazo de
90 dias para entrar em vigor, e os importadores conseguiram
prorrogar para hoje, 16 de dezembro, o início da vigência das novas
alíquotas. O caso lembra o
ocorrido em um
antigo reino...
Enquanto o IPI subia e descia para subir de novo mais tarde, veio a
notícia: a maioria dos brasileiros roda em carros inseguros em caso
de colisão, mostravam novos
testes da entidade Latin NCap com modelos do segmento de
entrada. Na falta de legislação adequada, espera-se que a divulgação
desse quadro ajude a levar mais consumidores a se interessarem pelo
assunto em sua decisão de compra.
Enfim, depois de um ano movimentado, ficam as expectativas para o
próximo. E o que este editor gostaria de ver em 2012?
Primeiro: que continue em expansão a concorrência entre marcas,
modelos e origens. Não queremos apenas os chineses ou os coreanos,
nem só os mexicanos e argentinos, mas todos eles — e muitos mais —
para dar opções ao consumidor e acirrar a competição por sua
escolha. Esse é o único caminho para termos carros melhores e, quem
sabe, menos caros à disposição.
Segundo: que esse direito de escolha seja respeitado pelo governo
federal. Não bastasse a carga tributária obscena que pagamos — e não
se trata só de carros aqui —, ainda nos querem cercear o direito de
recusar um carro nacional e optar por um importado? Produzir
automóveis no Brasil é uma atividade lucrativa demais para
justificar esse tipo de protecionismo. Se alguém não estiver
satisfeito com o cenário de competição, pode fazer as malas hoje
mesmo.
Terceiro: que o Poder Público em seus diversos níveis leve mais a
sério o automóvel e os motoristas. Que o lamentável estado de grande
parte das vias e a proliferação injustificada de lombadas mereçam a
atenção das autoridades. Que continue séria fiscalização dos postos
para termos combustíveis de qualidade. Que seja exigido dos
produtores de álcool seu fornecimento a custos adequados, para que
toda a tecnologia desenvolvida nesses motores seja aproveitada — e
não com o País todo usando gasolina em carros flexíveis, como hoje.
Que a legislação de trânsito seja cumprida na íntegra, e não apenas
dois ou três artigos que tragam farta arrecadação mediante multas.
Enfim, não resta dúvida de que teremos muito assunto — de
lançamentos a questões de nosso cotidiano ao volante — para
conversar no novo ano. Por ora, envio ao leitor e à leitora votos de
boas festas e de um excelente 2012!
P.S.: Não deixe de compartilhar com outros leitores seus
pedidos ao Papai Noel, sobre o mundo do automóvel, por meio da seção
Interface. |
Apesar do
cenário tão favorável a quem produz no Brasil, o governo quis
proteger a "indústria nacional" pelo aumento de IPI para importados |