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O mundo dos espertos

"Nova geração": como alguns fabricantes tentam fazer
o consumidor de bobo com pequenas modificações

por Fabrício Samahá

Fabrício Samahá, editorMal havíamos falado, nesta quarta-feira (17), da discutível estratégia da Volkswagen em chamar a renovação parcial do Gol de "Geração 4" — repetindo o feito da "Geração 3" de 1999 —, e lá veio outro fabricante com a mesma história, só que de forma ainda mais descarada. "Chevrolet lança terceira geração da S10", anunciava a informação à imprensa da General Motors, na quinta, sobre a modestíssima alteração de estilo que pode ser vista em nossa avaliação.

Fico imaginando o que leva esses fabricantes — e também a Peugeot, que no ano passado recorreu ao mesmo abuso ao efetuar mínimas modificações visuais no 206 — a tentar fazer jornalistas e consumidores de bobos, com um uso tão inapropriado do termo "geração". Para quem lê o BCWS há pouco tempo, recomendo um artigo de 1999, publicado por ocasião do lançamento do Gol "Geração 3", que esclarece o que deve e o que não deve ser chamado dessa forma.

O politicamente incorreto ditado que afirma que o mundo é dos espertos parece aplicar-se, com perfeição, a nosso grande e belo país. A esperteza está por toda parte, dos produtos que têm sua quantidade diminuída, sem correspondente redução no preço (recentemente tornou-se obrigatório, enfim, informar ao consumidor a diminuição), às promessas impossíveis de cumprir feitas por candidatos políticos, passando pela disseminação de combustíveis adulterados e, claro, a discreta e paulatina eliminação de equipamentos de série nos automóveis.

Esta ocorre com tanta freqüência que parecem haver verdadeiros "Departamentos de Depenação" dentro de alguns fabricantes. Não dá para imaginar? Uma equipe especializada em observar os carros da empresa e descobrir o que pode ser removido, de um ano-modelo para outro ou até dentro do mesmo ano-modelo, "sem que o consumidor perceba". E lá se vão luzes de cortesia, cintos de segurança traseiros retráteis, recursos diversos de ajuste e configuração de funções e até lâmpadas não obrigatórias por lei dentro de lanternas.

Claro que tudo acontece da forma mais sutil possível. Em muitos casos, só comparando a lista de equipamentos de série atual com a de anos anteriores é possível constatar a "depenação" antes de fechar o negócio. O consumidor hoje precisa ficar atento, ao trocar o carro por outro de mesmos modelo e versão, para não comprar gato por lebre. Ajuda muito, claro, ler avaliações detalhadas como as do BCWS.

E voltamos à questão das gerações. Pode parecer purismo, mas neste site não admitimos que uma mudança tão sutil quanto a do S10/Blazer ou a do 206, ou mesmo uma alteração parcial como a do Gol, seja chamada de nova geração. Primeiro, porque levaria o leitor à confusão com as verdadeiras mudanças de geração, aquelas integrais, como ocorreu com o Gol em 1994 (os outros modelos citados ainda não passaram por uma desde o lançamento no Brasil). Segundo, porque nos soa como desrespeito ao consumidor — mais ou menos como colocar um boné na cabeça do paciente e cobrá-lo por uma cirurgia plástica.

Como a grande maioria das publicações não contesta esse tipo de manobra de marketing, endossando-o ao leitor, fica a impressão de que o mundo — ou pelo menos nosso país — é mesmo dos espertos. Mas não se preocupe o leitor: se eles são espertos, nós somos mais. E vamos continuar a dividir essa esperteza com você.

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Data de publicação: 19/8/05

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