Uma preocupação
minha e que sempre reforço junto à equipe e aos colaboradores do BCWS
é que é preciso informar com precisão. Não basta usar bom português,
efetuar diagramações corretas, se o conteúdo, a informação, é impreciso.
Espanta-me cada vez que leio, em uma publicação especializada em
veículos — faz parte da atividade de qualquer editor ler o que os outros
escrevem —, suspensões que são exatamente do mesmo tipo descritas de
maneira diferente, só porque cada fabricante encontra uma maneira de
descrevê-las.
Em nome da precisão da informação, eu deveria dizer qual a publicação,
mas por questão de ética prefiro não o fazer. Pois bem:
se lermos a ficha técnica de um desses testes comparativos, constatamos
que cada uma diz como é a suspensão traseira à sua moda. Isso porque o
redator, sem ter conhecimento da técnica do automóvel, limita-se a
transcrever o que o fabricante diz.
Nisso só há um perdedor: o leitor. Porque essa discrepância se verifica
em suspensões exatamente do mesmo tipo, como aquela por eixo de torção
com molas helicoidais, a mais comum nos automóveis nacionais. Ele não
recebeu a informação correta ao ler aquela revista.
Não consigo deixar de esboçar um leve sorriso quando leio, por exemplo,
que a suspensão traseira do Gol por eixo de torção é “interdependente”,
palavra pomposa para informar — ou não? — que existe ligação,
interdependência, entre os dois lados da suspensão. Não é só: já li não
me lembro onde o termo “semi-independente” para o mesmo conceito. Ou
seja, é a própria figura da mulher meio-grávida.
Sei que alguns leitores podem torcer o nariz quando alguém do time
escreve “plástico reforçado com fibra de vidro” em vez do curto e fácil
de pronunciar “fibra”, ao descrever o material da carroceria de um
automóvel. Só que tem de ser assim, o nome do material conforme ele é de
verdade.
Já falei nisso antes (leia editorial),
mas o fato é que o BCWS não reconhece a palavra “montadora” como
sinônimo de fábrica. O leitor tem o direito de saber que uma Fiat, Ford,
General Motors e Volkswagen — para citar as mais antigas casas
automobilísticas nacionais — montam, sim, mas antes desenham, constroem
protótipos, desenvolvem-nos, testam-nos, usinam motores e transmissões,
montam-nos, estampam a carroceria, armam-nas numa estação robotizada e
pintam a carroceria (em instalações grandes e caras). Não é apenas
montadora: é fábrica, e com todo o mérito.
Outro caso é o rigor dos dados técnicos, algo levado muito a sério pela
equipe. Na recente avaliação da Scénic
1,6 automática, ao elaborar a simulação de desempenho, eu e o
consultor Iran Cartaxo percebemos que as relações de marcha e de
diferencial fornecidas pela Renault geravam valores (como a velocidade
por 1.000 rpm em cada marcha) incompatíveis com o que eu havia percebido
ao dirigir a minivan.
Consultado, o fabricante limitou-se a confirmar os dados. Foi preciso
insistir para que consultasse sua engenharia que, no último momento,
admitiu uma omissão nos números fornecidos que causava a disparidade.
Entretanto, publicações que já haviam avaliado o modelo endossaram os
números incorretos, sem perceber.
E seu leitor, mais uma vez, saiu perdendo.
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