
Ousada, a Willys passou a fazer
o Interlagos nos moldes do Alpine francês, em um processo mais voltado à
divulgação que aos lucros

A equipe de competição,
chefiada por Luiz Antônio Greco, ajudava na divulgação da marca com
demonstrações em cidades de baixa venda |
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A alusão à potência aumentada
(40 cv brutos, 32 líquidos) era evidente na publicidade do Gordini, que
trazia ainda câmbio de quatro marchas
Foto: Jorge
Meditsch

O Capeta pretendia ser um
carro esporte de motor dianteiro e estilo bem elaborado, mas a crise em
meados dos anos 60 arquivou seu projeto |
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Aparentemente o objetivo não era lucro sobre a operação trabalhosa,
peculiar — a plataforma do Interlagos era de pequenos pedaços de ferro
redondo soldados e revestidos em fibra de vidro, então insólito material
empregado para fazer base e carroceria —, mas divulgar marca e o Gordini.
E o fez criando a Equipe Willys de Competição, pioneira em
profissionalismo. Servia para correr, fazer demonstrações em cidades
onde a marca precisava instigar vendas, desenvolver tecnologia — a caixa
de quatro marchas usada em Aero, Jeep, Rural, picape foi desenvolvida
por Luiz Antônio Greco, chefe, e Nelson Brizzi, primeiro mecânico —,
criar soluções, como modificar o Interlagos com soluções de ergonomia e
operacionais não encontradas no modelo original; fazer o Interlagos
vencer corridas em autódromos e ruas, ao contrário de seus resultados
europeus em ralis; construir carros de corrida marcantes como o Willys
Gávea, um Fórmula Três, primeiro nacional para corridas internacionais
no Cone Sul; os Binos Mark I e II.
A Equipe Willys foi berço generoso, ajudando a desenvolver talentos
marcantes de nosso automobilismo: Luizinho Pereira Bueno, os irmãos
Wilson e Emerson Fittipaldi,
José Carlos Pace, Bird
Clemente, ampla lista, a maioria formando base para futura experiência
internacional.
Na área de produtos, marcou traço de personalidade. No Jeep, pioneiro,
diferenciou-o dos demais mundo afora pelo corte dos para-lamas
traseiros. Rural teve a carroceria modificada, modelo apenas aqui
existente — e cabines vendidas à Argentina. O picape teve essa
personalização. O desenvolvimento local chegou ao exercício de adaptar
antigo conceito proposto pelo estilista norte-americano Brook Stevens
sobre o Aero-Willys. Aí a engenharia nacional foi provocada a fazer um
carro parecendo novo sem mudar a essência. Reviu tudo — motor com
cabeçote modificado, novos coletores, dupla carburação, de 90 para 110
cv, suspensão, freios — e levou o resultado, o Aero 2600, para ser
mostrado no Salão de Paris em 1962. Nada de delírio tropical, mas o
maior efeito-demonstração para mostrar que o Brasil tinha uma indústria
automobilística.
Sem matriz para absorver tecnologia, desenvolvia-a aqui mesmo, como ser
a primeira marca a adotar a vantagem operacional e econômica do sistema
elétrico com 12 volts; o pioneirismo do alternador substituindo o
gerador; a citada caixa com quatro marchas
sincronizadas; suspensão dianteira independente para Rural e picape.
Num protótipo, criado para ser produto, mas cancelado pela crise
econômica pós-Revolução Militar de 1964, estavam o motor ampliado para
3,0 litros, a novidade tardia do coletor de admissão removível, a caixa
de quatro marchas.
Por si só, o tal esportivo natimorto, dito Capeta, era um atrevido
desafio. Chassi próprio, suspensão frontal com braços inferiores e feixe
de molas transversal, motor dianteiro entre eixos, equilíbrio de formas
adequado passados quase 50 anos de sua construção, ainda exibia uma
surpreendente perfeição escultórica no molde e no trabalho de fibra de
vidro. Projeto e supervisão direta para realização em tempo recorde por
Roberto Araújo, diretor de estilo — com lugar na mesa diretora, uma
conquista para o setor, mas amostra clara que para o ágil Pearce estilo
era coisa importante.
O estilo daqui melhorou o de lá. Em 1965 a equipe de Araújo inverteu o
corte dos para-lamas traseiros, mudou o projeto do mundialmente
festejado Stevens, esticando o carro. O Aero cresceu, impôs-se, e com a
nova caixa sincronizada de quatro marchas praticamente renasceu com
mudança aparentemente tão pequena.
A crise que exorcizou o Capeta provocou Pearce a levar ao governo
federal, por meio de Lindberg Cury, jovem sócio da Planalto, revendedora
em Brasília, solução para a enorme queda de mercado, causada pela
restrição de circulação de moeda e financiamento máximo em seis meses:
redução impactante do imposto, o IVC, de 30% para 7,5%, recuperados
mensalmente; criação de carros simplificados; financiamento especial
pela Caixa Econômica em 48 meses com 10% de entrada. O governo gostou,
fez sua parte.
Das fábricas a Willys "cometeu" o Teimoso, Gordini simplificado beirando
a irresponsabilidade — atrás, por exemplo, única luz sobre a placa
iluminava-a, marcava presença e sinalizava freio. Um exemplo de
síntese... Deu certo. O programa durou o ano de 1965, mas o Teimoso veio
até 1967 em quase 9.000 unidades vendidas.
Sintonizado com o mercado e as condições políticas no mando
centralizado, Pearce mandou desenvolver um carro para a alta hierarquia
— o Itamaraty Executivo, única limusine até hoje de um fabricante no
Brasil. Em acordo com a Karmann-Ghia, o carro era esticado em 75
centímetros, criando enorme área interna, absorvendo dois pequenos
bancos retráteis.

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