A virtude está no meio

Diferentes na fórmula e no resultado, as gerações do Toyota MR2
tiveram em comum o que as fazia incomuns: o motor central

Texto: Fabrício Samahá - Fotos: divulgação

O protótipo SA-X, de 1981, já indicava a configuração a ser adotada no MR2 de produção, mas alguns detalhes de estilo ainda seriam mudados

Motor central, tração traseira e dois lugares: assim era formado o nome do novo Toyota, cujas linhas retas pareciam ter-se inspirado no origami

O console alto que separava os bancos dava um ar esportivo, mas no restante o interior do MR2 era sóbrio, caso do painel de instrumentos

Colocar o motor o mais perto possível do centro do carro sempre foi uma boa estratégia em modelos esportivos e de competição. Por ser um item com muita massa concentrada, o motor influi bastante na distribuição de peso entre os eixos, sendo fácil perceber que uma posição central favorece essa divisão. Ao reduzir o momento polar de inércia, esse arranjo torna o veículo mais ágil em mudanças de direção, como nas curvas. Beneficia também as acelerações e frenagens em comparação a um motor dianteiro ou traseiro.

Historicamente, porém, motor central-traseiro (é possível também o central-dianteiro, atrás do eixo anterior, mas à frente da cabine) foi privilégio de carros esporte de certo prestígio, do Porsche 914 a um grande número de Ferraris e Lamborghinis, passando por De Tomaso, Lotus e Maserati, entre outros. Uma das razões é que não é possível compartilhar plataforma entre um carro com essa configuração e um modelo mais convencional — um hatch de cinco lugares, por exemplo —, o que eleva os custos de desenvolvimento e produção. Assim, raramente um fabricante voltado a grandes volumes se dispõe a lançar um esportivo de motor central, sendo o Fiat X 1/9 uma das raras exceções.

Mas foi o que aconteceu com a Toyota, bem antes de se tornar o número um do mundo. Em 1976 a empresa iniciou estudos para um carro compacto e de linhas esportivas, mas econômico e adequado aos novos tempos de petróleo caro. Não se pretendia um carro esporte, mas um modelo para transporte individual que trouxesse prazer em dirigir. A colocação central-traseira transversal do motor foi sugerida três ou quatro anos mais tarde pelo engenheiro de testes Akio Yoshida — e aceita.

Um protótipo dentro desses parâmetros era concluído em 1981: o SA-X, um modelo de três volumes com frente baixa, faróis escamoteáveis, para-brisa que parecia formar uma só peça com os vidros laterais e tomadas de ar para o motor atrás das portas. Enquanto o projeto seguia em desenvolvimento, uma aparição pública foi programada para avaliar a receptividade do público. No Salão de Tóquio de 1983 era revelado o carro-conceito SV-3, com algumas alterações de estilo em relação ao SA-X.

Depois de ligeiros retoques, o primeiro Toyota — mais que isso, o primeiro carro japonês de série — com motor central ganhava as ruas do Japão em meados de 1984 com o nome MR2, definido como Mid-engine, Rear-wheel-drive, 2-seat, ou um carro de dois lugares com motor central e tração traseira. As vendas nos Estados Unidos começavam no ano seguinte. A sigla logo rendeu o apelido de "Mister Two" (Senhor Dois) nos países de língua inglesa, mas não foi usada na França e na Bélgica, onde ele se chamava Coupe MR — a original seria lida em francês como M-Er-Deux, pronúncia muito próxima à da palavra merde.

Os traços básicos do projeto de 1976 ainda estavam à vista nessa primeira geração (código W10) do MR2, que seguia o padrão de linhas retas comum a seu tempo — há quem o relacione ao origami, a arte tradicional nipônica de criar objetos dobrando papel. A tomada de ar lateral aparecia só no lado direito, dando ao carro um detalhe assimétrico, já que no lado esquerdo vinha o bocal do tanque de combustível. O vidro traseiro estava mais perto da vertical do que as colunas faziam parecer, a fim de se obter um aspecto esportivo quando visto de lado. Embora tivesse seu charme, o pequeno Toyota não seria chamado facilmente de bonito.

Compacto, ele media 3,95 metros de comprimento, 1,66 m de largura, 1,23 m de altura e 2,32 m de distância entre eixos e pesava 950 kg na versão japonesa (nos EUA, com reforços estruturais para atender às normas de segurança, chegava a 1.070 kg). O interior mostrava esportividade no console central elevado, que separava os bancos de encosto alto, mas não no painel de aspecto tradicional. Havia dois porta-malas, um à frente (onde vinha o estepe) e outro na traseira.

Apesar de sua plataforma própria, o MR2 aproveitava componentes mecânicos de outros modelos da linha. O motor de 1,6 litro, duplo comando e 16 válvulas com injeção, que fornecia potência de 130 cv no mercado nipônico (112 no norte-americano, por causa de normas de emissões poluentes mais severas, e 116 ou 124 cv na Europa, conforme o uso ou não de catalisador), era o mesmo do cupê Corolla GT-S de tração traseira. Continua

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Data de publicação: 4/6/11

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