Um Rolls-Royce para dirigir

Sedã de duas portas ou conversível, o Corniche aliou o requinte
da marca a um ambiente que convidava a assumir o volante

Texto: José Geraldo Fonseca - Fotos: divulgação

O primeiro uso do nome Corniche foi nesse protótipo da Bentley, de 1939, que teve o projeto encerrado por um bombardeio alemão à França

O Silver Shadow lançado em 1965 (em branco) foi base para o Mulliner Park Ward Saloon, sedã de duas portas com estilo clássico e elegante

A palavra corniche, de origem francesa, refere-se a um tipo de estrada situada junto a um morro ou penhasco, na qual de um lado existe uma elevação, e do outro, uma forte queda. Provavelmente os mais famosos corniches são os situados na região da Cote D'Azur, no sul da França, nas cercanias do Principado de Mônaco.

Nessa região, cuja sofisticação já foi palco de centenas de filmes, não é difícil encontrar residências com preços em euros de oito dígitos e carros das marcas mais prestigiadas do mundo, como Rolls-Royce. Por isso, não é de se estranhar que a fabulosa marca britânica tenha resolvido adotar essa palavra para designar um de seus modelos, a versão de duas portas do Silver Shadow.

Essa não foi a primeira vez em que o fabricante inglês aplicou tal nome a um de seus carros. Ele já havia sido usado em 1939, em um modelo da Bentley — marca que à época pertencia à Rolls-Royce — que não passou do estágio de protótipo. Desenvolvido sobre a mecânica do modelo Mark V, tinha uma bela carroceria desenhada por Pourtout e construída pelo encarroçador francês Vanvooren. Com motor de seis cilindros e boa aerodinâmica, somente três chassis e um carro completo haviam sido construídos quando a Segunda Guerra Mundial veio atrapalhar os planos da empresa.

O exemplar único já havia passado por 24.000 quilômetros de testes pela Europa continental quando se acidentou com um ônibus em Paris, um ano depois de sua construção. A carroceria foi retirada para reparo pelo construtor e o chassi com motor foi encaminhado para a fábrica consertá-lo. Quando aguardava no porto para ser embarcada rumo à Inglaterra, a mecânica foi destruída em um bombardeio alemão, dando um fim de história para o primeiro Corniche.

O nome ressurgiu em 1971, quando foi adotado numa atualização do Rolls-Royce de duas portas que já existia desde 1966 como Silver Shadow Mulliner Park Ward Saloon. O Silver Shadow havia sido lançado em 1965 apenas em versão sedã e, como em quase todos os carros da RR da época, uma versão Bentley também foi feita, tendo mínimas diferenças para o Silver Shadow, a principal sendo a grade. O carro era chamado Bentley T.

O Silver Shadow, primeiro Rolls de construção monobloco, usava o motor V8 que havia surgido em 1959, quebrando um jejum de 54 anos em que a empresa não produzia um carro com essa configuração mecânica — os últimos haviam sido os três exemplares do Legalimit de 1905. Com 6,25 litros, usava bloco e cabeçote em alumínio e comando de válvulas no bloco, era alimentado por dois carburadores SU de venturi variável e não tinha sua potência divulgada — a empresa informava apenas que ela era suficiente.

A real razão desse sigilo nunca foi revelada, mas entre as suposições está a de que a empresa preferia não constranger seus ricos clientes com números inferiores aos disponíveis em muitos carros comprados pela classe média norte-americana. Afinal, enquanto alguns carros-pônei e "musculosos" dos Estados Unidos atingiam mais de 300 cv brutos — algo como 250 cv líquidos —, a potência do motor de 6,25 litros era estimada em 200 cv.

O máximo em requinte   Antes, algumas unidades do sedã Silver Shadow haviam sido transformadas em duas portas pelo encarroçador independente James Young, na qual a porta traseira era retirada e painéis de carroceria eram inseridos no local, assim como uma porta dianteira maior. Foram efetuadas 50 transformações entre 1965 e 1967, sendo 35 em Rolls-Royce e 15 em Bentley, quando o surgimento do modelo de fábrica levou ao fim da produção.

O carro da própria Rolls tinha a vantagem de ter um desenho lateral diferenciado, aproximando-se ao de um cupê, ao passo que as transformações da Young mantinham o perfil original, apenas com as portas a menos. O estilo com curva ascendente da linha de cintura do Mulliner, apelidado de garrafa de Coca-Cola, dava um ar menos sóbrio e mais esportivo, assim como a ausência de coluna central. Foi desenhado por Bill Allen. Continua

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Data de publicação: 20/11/10

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