Fúria ao entardecer

De início notável pelo desempenho e estabilidade, o Plymouth Fury
ganhou fama em Christine quando já estava em fim de carreira

Texto: Fabrício Samahá - Fotos: divulgação

Diferenciado pela faixa lateral e as calotas douradas, o primeiro Fury
de 1956 usava um motor V8 de 5,0 litros modificado para render 240 cv

Ainda oferecido em cor e carroceria únicas, o modelo 1957 estava mais potente e adotava o estilo Forward Look de vários carros da Chrysler

Existem automóveis que se tornam mais conhecidos por sua atuação no cinema. Em geral são carros esporte como o Aston Martin DB5 do agente 007 — ele mesmo, Bond, James Bond —, ou o Dodge Charger "General Lee" de Os Gatões, ou mesmo o DeLorean DMC-12 da trilogia De Volta para o Futuro. Há também modelos simples e que esbanjam simpatia, como o Volkswagen de Herbie, e outros que impressionam por seu aspecto intimidador. Como Christine.

Christine era um Plymouth Fury 1958 do filme homônimo de John Carpenter, inspirado em um livro com o mesmo nome, um carro que sentia ciúmes doentios de seu jovem proprietário (leia boxe). A escolha do autor do livro, o rei norte-americano do terror literário Stephen King, não podia ter sido melhor: o Fury, lançado um ano antes do modelo retratado na obra, tinha nas formas imponentes uma de suas características mais apreciadas.

A Plymouth, divisão da Chrysler nos Estados Unidos que fez parte de sua gama de 1928 a 2001, precisava mesmo revigorar sua imagem. Por tradição a marca mais vendida do grupo, ela amargara em 1954 a queda para a quinta posição no mercado, a primeira vez desde 1930 em que não ocupava o terceiro lugar. A insistência em desenhos conservadores pode ser apontada como um fator decisivo. Foi para dar a volta por cima que a Plymouth — como as demais divisões da Chrysler — apresentou em 1955 um novo e atraente estilo que logo fez muitos adeptos, assim como o primeiro motor V8 da marca.

O Fury (fúria em inglês) aparecia no Salão de Chicago em janeiro de 1956 em única versão — cupê hardtop — e disponível em uma só cor, um branco que tendia a bege, com uma faixa lateral (a sweepspear) em alumínio anodizado na cor dourada. Compartilhadas com os modelos Savoy e Belvedere, suas linhas mostravam laterais altas, dois faróis destacados em relação ao capô, para-brisa e vidro traseiro envolventes e aletas nos para-lamas de trás que terminavam nas lanternas. Além da faixa, diferenciavam-no a grade com elemento no mesmo tom dourado e as calotas. No interior, o painel de formato simétrico entre os lados e o acabamento combinavam branco e bege.

Até ali, nada havia de furioso nesse Plymouth, mas bastava acelerar para perceber o que mais o distinguia dentro da divisão. Em vez do V8 de 277 pol³ (4,55 litros) dos outros modelos, o Fury usava a unidade de 303 pol³ (5,0 litros) que movia o Chrysler Windsor e o Dodge Royal do mercado canadense. Com cilindrada que se encaixava nos limites da Nascar, tornando-o base ideal para competição, o 303 recebia comando de válvulas mais "bravo", taxa de compressão elevada, carburador de corpo quádruplo e escapamento duplo de baixa restrição.

Resultados: potência de 240 cv e torque de 42,8 m.kgf (valores brutos, padrão neste artigo até 1971), nada modestos para uma época em que o Chevrolet Corvette tinha meros 195 cv na versão básica. Para demonstrar o que sua potência representava, a Plymouth colocou um cupê para correr em Daytona Beach, na Flórida, no mesmo dia de sua apresentação em Chicago. O piloto Phil Walters cumpriu a milha lançada (1,6 quilômetro contado já em velocidade) com média de 199,5 km/h e chegou a 132,8 km/h na milha a partir do zero.

O comprador podia optar por uma caixa manual de três marchas ou pela automática PowerFlite de duas, com trocas comandadas por botões. Além do motor, o Fury vinha com todo o conjunto revisto para o maior desempenho, com menor altura de rodagem, molas e amortecedores mais firmes, estabilizador na dianteira, freios a tambor de grande diâmetro e pneus 7,10-15.

Sensação de carro esporte   Em teste, a revista Popular Science considerou o Fury a combinação do desempenho de um carro esporte à praticidade e ao conforto de um modelo familiar: "Sua aceleração é alegre, com 0-60 milhas por hora [0-96 km/h] em 10,8 segundos. Molas e amortecedores mais firmes deixam-no muito à frente dos carros convencionais (...) e seus grandes freios de especificação policial o contêm com rapidez e suavidade. Não há dúvida: você tem uma sensação de carro esporte com esse carro". Continua

 

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Data de publicação: 12/3/11

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