Quatro portas para as versões de dois bancos eram novidade no Modelo T em 1912, mas a do motorista não se abria: só podia ser removida

Entre as opções da linha 1912, de cima para baixo, o Commercial Roadster, o Town Car e o utilitário Delivery Car com carroceria fechada

As versões Landaulet e Coupe tiveram a produção interrompida em favor do novo Tourabout, com duas seções separadas de banco traseiro. A demanda pelo Ford quase triplicou, com 32.053 carros produzidos. Como também era hábito na época vender só o chassi com a mecânica do veículo para a aplicação de carrocerias especiais, a fábrica decidiu explorar esse segmento e passou a oferecer o seu por 700 dólares. Entre as mais conhecidas carrocerias nele instaladas estava a Depot Hack de madeira, precursora das peruas "woodie" dos anos 40. A participação de mercado da Ford subia para 18%.

A crescente popularidade do Modelo T originou seu apelido americano, Tin Lizzie. "Lizzie" era uma gíria que designava uma criada eficiente e confiável, "tin" significa lata. Contrariando o prognóstico da maior parte dos investidores que não acreditavam na popularização do automóvel, Henry Ford inaugurou a nova fábrica de sua companhia em Highland Park, chamada de Palácio de Cristal pela quantidade de janelas. Era a maior do mundo sob o mesmo teto — e esse tamanho todo não seria desperdiçado. As primeiras mudanças de estilo significativas viriam em 1911.

Os pára-lamas estavam mais arredondados em seus contornos e, entre o capô e o habitáculo, havia uma divisória de madeira que sustentava o pára-brisa mais alto. Novas também eram as carrocerias Open Runabout e Torpedo Runabout. Ambas tinham um único banco, mas a segunda contava com portas, ausentes na outra. No Touring, chapas de aço passavam a cobrir a estrutura de madeira da carroceria. Os preços começavam a cair, partindo de 680 dólares. Em contrapartida, as vendas dobraram e a participação no mercado já era de 35%.

O modelo 1912 marcou a chegava do primeiro "Tin Lizzie" de quatro portas, recurso disponível nas versões com duas fileiras de assentos. Era uma novidade curiosa, já que a porta do motorista não se abria e, assim como a do passageiro ao lado, podia ser removida. Chegava também a versão Delivery Car, um utilitário leve para, como o nome em inglês indicava, entregar cargas leves. Mais uma vez a Ford reduzia o preço, dessa vez em 80 dólares. "Cada dólar reduzido atrai mil compradores", dizia Henry Ford, justificando sua ousada política de preços.

Se a produção da Ford cresceu para 78.440 carros, sua participação no mercado caiu para 22% graças à concorrência que já se mobilizava na tentativa de oferecer alternativas acessíveis ao Modelo T. Entre elas estava a Little, que logo seria incorporada pela recém-fundada Chevrolet para esta oferecer modelos de baixo custo. Continua

Os especiais
Foram as competições com a participação do Modelo T que fomentaram a indústria de acessórios e preparação nos EUA. Ed Winfield, considerado por muitos o "pai do hot rodding", já colocava cabeçote multiválvula no T antes da Primeira Guerra Mundial. Mesmo depois do término da produção, em 1927, a indústria continuou a produzir milhares de acessórios para o Ford. O mais curioso, no entanto, é saber que ele pode ter dado origem ao termo "hot rod".

Há quem diga que o hábito de colocar motores potentes em carros comuns levou ao termo "hot roadster" (roadster quente). Os roadsters eram escolhidos pelo baixo peso. Mas "hot rod" também pode ser referir às bielas (connecting rods) ou às varetas (pushrods) que levavam movimento às válvulas desses motores. Ainda, era comum queimar os mancais de biela (connecting rod bearings) nos Fords de quatro cilindros, em especial o Modelo T, o que pode ter sido a causa desse termo. Na mesma onda hot rod eram comuns Fords Modelo A, B e V8 apimentados.
Para ler
Ford Model T: The Car That Put the World on Wheels - por Lindsay Brooke, editora Motorbooks. Com prefácio de Bill Ford, bisneto e hoje um dos principais executivos da Ford, o livro de 208 páginas conta a história do carro que mudou o mundo, suas novidades mecânicas e de manufatura. Mas Brooke também revela como era o dia-a-dia ao volante de um Tin Lizzie e sua presença na cultura popular americana.

The Model T: A Centennial History - por Robert H. Casey, editora The Johns Hopkins University Press. Casey avalia o impacto da produção em massa do Modelo T na vida americana, contando o desenvolvimento e a história do projeto. Ele valoriza em especial as pessoas que fizeram dele a lenda que se tornou e as que o compraram aos milhões, além de descrever a experiência de dirigir o carro. O livro traz em suas 176 páginas muitas fotos históricas nunca antes publicadas.

The Legendary Model T Ford: The Ultimate History of America's First Great Automobile - por Tom Collins, editora Krause Publications. Nas 304 páginas do livro, Collins celebra o centenário do Modelo T com 300 fotos coloridas, imagens históricas em preto e branco, especificações, dados de produção e referências de preço para colecionadores.

My Life and Work - por Henry Ford, editora Diggory Press. Quem melhor que o próprio Henry Ford para descrever suas idéias como administrador? Nesse livro que ele escreveu em 1922, cinco anos antes de o Modelo T sair de linha e 25 antes de sua morte, Ford trata de suas estratégias de produção industrial e seus conceitos acerca das relações de trabalho e economia em geral.
Uma referência em inglês de 136 páginas para executivos e administradores de empresa, escrita com base nos aprendizados que o empresário americano tirou de seu maior sucesso.

Model T Ford: The Car that Changed the World -
por Bruce W. McCalley, editora Krause Publications. Mudanças anuais do Modelo T, descrição de componentes, documentação, estatísticas de produção e números de série são alguns dos assuntos deste livro de 614 páginas, um dos mais completos na cobertura histórica do carro que mais alterou o curso da história até hoje.

The Cars that Henry Ford Built - por Beverly Kimes, editora Automobile Heritage Publishing & Communications LLC. Com 136 páginas, foi publicado pela primeira vez em 1978 e, segundo Henry Ford II, seu avô Henry Ford teria adorado o livro. Todos os modelos que o fundador da Ford produziu, do Quadricycle de 1896 aos V8 de 45 anos depois, estão lá.

Model T Ford Club International Golden Anniversary: Tin Lizzie Tales - por Turner Publishing Company (compilação), editora Turner Publishing Company. Aqui conhecemos as histórias de colecionadores do Model T Ford Club International, fundado em 1952, que apresentam também seus carros. São 180 páginas com texto em inglês.

Illustrated Ford Model T & Model A Buyer's Guide - por Paul G. McLaughlin, editora Motorbooks International. Ao longo de 128 páginas ricamente ilustradas, o leitor conhece a história do T e de seu substituto, o Modelo A, subdividida em capítulos que tratam das fases desses dois modelos.

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