
"Compre-o porque é um carro
melhor", sugeria o anúncio de 1914, mas o preço de 650 dólares era
atrativo ainda maior que suas qualidades


A linha de montagem introduzida
pela Ford revolucionou o modo de construir automóveis; embaixo o setor
de pintura, que por algum tempo usou apenas a cor preta, escolhida por
sua secagem mais rápida |
No ritmo do Século
XX
Além de pequenas
alterações de estilo, a linha 1913 acrescentou uma versão Touring de
três portas, uma à esquerda e duas à direita. Ela se tornaria a favorita
do público americano. Mais partes da carroceria eram feitas de aço
estampado, mas não era essa a novidade mais relevante daquele ano. Desde
a inauguração da fábrica de Highland Park, Henry Ford vinha sondando
formas de usar aquelas instalações para, enfim, produzir o Modelo T em
massa.
Ford e seu assistente dinamarquês Charles Sorensen já haviam feito
testes para conferir a melhor maneira de alcançar essa meta. Num deles,
bancadas eram usadas como suportes móveis para empurrar os carros a
diferentes pontos da fábrica onde as peças eram colocadas, processo já
utilizado pela Oldsmobile com o Curved Dash. Mais tarde, outra tentativa
fazia com que os operários da Ford movessem as peças pela linha de
produção sobre esteiras inclinadas, o que não evitava que a maior parte
da montagem continuasse a ser feita a mão.
Em abril de 1913 um engenheiro de produção, do setor que montava o
magneto do motor, dividiu o processo em 29 etapas. Cada funcionário
instalaria apenas um componente antes de empurrar a peça para o colega
seguinte. Uma peça que antes levava 20 minutos para ficar pronta tomava
agora 13 minutos. Outras alterações no processo de montagem reduziram
esse tempo para cinco minutos. Era hora de estender tal método à
fabricação do motor e outras partes do veículo.
Uma linha de montagem simples teve sua instalação encerrada em Highland
Park no dia 7 de outubro. O chassi era puxado lentamente pelo chão da
fábrica por meio de uma corda e um sarilho. As peças e 140 operários
ficavam em seus postos estipulados, em intervalos distintos, ao longo de
um trajeto de 45 metros. Conforme o carro era arrastado, os componentes
eram instalados. Ao final da montagem do primeiro Modelo T nesse método,
veio a surpresa: das antigas 12 horas e meia, o processo levou cinco
horas e 50 minutos. Nascia a linha de montagem para automóveis.
Logo em seguida, a corda foi trocada por um sistema de transporte sem
fim. Movido a energia elétrica, ele ficava ao nível do chão e acomodava
o chassi de modo a deixar espaço para que os operários trabalhassem nele
sem apertos. Alguns realizavam apenas uma tarefa, outros se encarregavam
de várias. Se um funcionário colocava um parafuso, a montagem da porca
ficava a cargo do seguinte, que não era encarregado de apertá-la. Os
suportes de pára-lama eram os primeiros itens fixados ao chassi. O motor
vinha só na décima etapa.
A eficiência na montagem tornou-se uma meta recorrente para Henry Ford:
"Poupe 10 passos por dia de cada um dos 12 mil empregados e você
economizará 80 quilômetros de movimento inútil e energia mal
despendida", pregava. Para tanto, com o tempo, a linha de montagem seria
elevada até a altura da cintura para reduzir a inclinação dos
metalúrgicos. Foi só em 1914 que surgiu a decisão tornada famosa por
outra declaração atribuída ao empresário americano: "O cliente pode
escolher a cor que desejar, desde que seja preta".
Uma opção pela
discrição e o conservadorismo da cor? Que nada! Henry
Ford preferiu limitar o catálogo ao preto por ser esta a tinta de
secagem mais rápida da época, o que aceleraria a produção. Ao anunciar
em 5 de janeiro o salário de cinco dólares diários a seus operários —
mais que o dobro de antes —, Ford causou outra revolução, desta vez no
mercado de trabalho.
Continua
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