


Chassi de aço com o tanque de
combustível sob o banco, a curiosa caixa de câmbio planetária e motor de
2,9 litros com válvulas laterais |
O volante do lado esquerdo ainda era uma novidade, em 1908, que o Modelo
T ajudaria a popularizar. A caixa de direção ficava em cima da coluna,
perto do volante. Muito próximo ao assento, este deixava pouco espaço
para as pernas do motorista. A partida se dava por um magneto, uma
pequena caixa instalada no painel, que produzia corrente alternada de
baixa voltagem para as velas, sendo então necessário virar a manivela na
frente do carro para o motor pegar — a partida elétrica viria apenas em
1912 com o Cadillac Self-Starter.
O tanque de combustível vinha sob o banco dianteiro e dispensava bomba
de gasolina, usando-se apenas a gravidade. Seu nível era medido por uma
bóia quadrada com uma hélice de torção, enquanto a água de arrefecimento
era movimentada pelo princípio do termo-sifão, embora alguns carros
iniciais tenham usado bomba d'água. A tração era transmitida às rodas
traseiras. Já a caixa de câmbio planetária era um show à parte.
O desenho do sistema epicicloidal, uma espécie de precursor das caixas
automáticas usadas até hoje, lembrava a disposição dos planetas no
Sistema Solar, o que justificava seu nome. Em vez do controle hidráulico
dos sistemas automáticos, porém, bandas ativadas mecanicamente eram
usadas. As primeiras centenas de Modelos T produzidas tinham dois
pedais, um para baixas e outro para altas velocidades, e duas alavancas.
Uma delas acionava as bandas da ré, enquanto a segunda operava o freio.
Ainda em 1909 o sistema foi atualizado para um equivalente de três
pedais, que ficaria famoso conforme as vendas do Modelo T se
multiplicassem. Ainda assim, as funções e formas de operá-lo eram bem
distintas das que conhecemos hoje dos carros com caixa manual — e nenhum
dos comandos servia de embreagem. O pedal da esquerda controlava as
trocas das duas marchas à frente e da ré, pois não havia alavanca de câmbio.
Acionado até o fim, o pedal esquerdo engatava a primeira. Com ele
pressionado pela metade, tinha-se o ponto morto. Ao levantar o pé por
inteiro o motorista colocava a segunda. Para frear pisava-se no pedal
direito, ao passo que a ré era engatada no pedal do meio. Além de
imobilizar o veículo, era o freio de estacionamento no estribo do lado
do motorista que fazia as vezes de embreagem.
O
acelerador tinha comando manual por uma alavanca na coluna de direção,
ao lado direito do volante. Do esquerdo ficava outra para o ajuste do
avanço de ignição. Vem daí o apelido que o carro ganhou no Brasil, Ford
"Bigode". Apesar da modesta potência, não faltava agilidade ao Modelo T,
mesmo com só duas marchas à frente. Por mais que hoje essa configuração
pareça inusitada, Henry Ford tinha um bom argumento para adotá-la. Dizia
ele que a caixa planetária permitia ao motorista parar, sair, mudar de
marcha ou dirigir em ré sem tirar as mãos do volante.
Continua
|