Adeus à manivela

O ano de 1912 marcou uma revolução: a primeira
partida elétrica que deu certo, no Cadillac Self-Starter

Texto: Fabiano Pereira – Fotos: divulgação

Imagine a situação: nas ruas de Michigan ou Nova York, neve, frio e você precisa dar partida a seu carro — à mão, girando uma manivela gelada. Ou então, pense em fazer isso sobre o sol escaldante do Texas ou da Califórnia, com todas as partes do carro ardendo em calor. Sem dúvida uma operação desagradável, que até expunha o motorista a acidentes. Pois era essa a realidade do motorista americano até que, em 1912, a Cadillac apresentou o revolucionário Self-Starter.

O nome, que significa auto-arranque em inglês, era o do sistema de partida elétrica criado por Charles Franklin Kettering, o Boss Ket (chefe Ket). Ele vinha de série em toda a linha Cadillac para aquele ano, mas, de tão marcante, passou a ser considerado o nome do carro. Naquela época havia apenas um único modelo Cadillac, assim como na maioria dos fabricantes, que era vendido em diferentes configurações de carroceria e acabamento. A novidade americana coroava anos de pesquisa.

Charles Kettering, acima, desenvolveu a inovação após um acidente com um amigo do presidente da Cadillac -- e mudou a forma como se ligava o motor

Ao lado, o anúncio de 1912: "O carro que não tem manivela"

A bateria fora inventada em 1796 por Allessandro Volta, mas sua necessidade em carros só apareceria com o Klaxon (palavra grega para gritar), a buzina elétrica, em 1908. Ela era operada por células secas, descartáveis e que duravam pouco. Então as baterias atingiram uma durabilidade aceitável (um mês), sendo passíveis de recarga, e era necessário usar a corrente sobressalente. A solução foram os faróis elétricos. O Columbia de 1898 já tinha luz — e propulsão — elétrica, mas os carros a gasolina usavam o Prest-O-Lite, cilindro de aço com gás acetileno que alimentava os faróis e era aceso por chamas.

Com o dínamo, ou magneto, as baterias passavam a ter um gerador que evitava que fossem retiradas para recarga a cada mês. Porém, as sobrecargas ainda eram freqüentes. Isso até o Self-Starter. Sua grande diferença estava no regulador de velocidade variada. O excesso de corrente disponível era usado na ignição da mistura ar-combustível. Era o fim do magneto. Esse marco na história do automóvel teve origem num pedido de um amigo de Kettering, E. A. Deeds, mas também num acidente.

Os modelos cupê (à esquerda) e limusine, parte da linha da Cadillac naquele ano

Deeds vinha enfrentando dificuldades com a ignição de seu carro. Com boa reputação por ter desenvolvido um sistema elétrico de abertura de caixas registradoras na National Cash Register Company, Kettering passou meses trabalhando até tarde na busca de uma solução até produzir uma faísca forte o suficiente para aumentar a vida útil da bateria em 10 vezes. Vendo um potencial negócio no novo sistema, levou a idéia à Cadillac. Após testes satisfatórios, a empresa faria um pedido de oito mil sistemas de ignição para sua linha 1909, ano em que passaria ao grupo General Motors.

A demanda exigiu que Kettering fundasse sua própria companhia, a Dayton Engineering Laboratories, hoje Delco, adquirida pela GM em 1930. Seus experimentos não parariam. Ele já havia percebido que era possível sobrecarregar um pequeno motor elétrico por pouco tempo sem danificar o sistema — o princípio por trás do Self-Starter. E o momento não poderia ser mais oportuno: Henry Leland, então no comando da Cadillac, estava estarrecido com um acidente envolvendo um carro da marca e seu amigo Byron T. Carter. Continua

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Data de publicação: 11/5/04

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